terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Mundial com 48 seleções em 2026

A FIFA decidiu, hoje, alargar as fases finais dos mundiais de 32 para 48 seleções participantes, a partir de 2026. A primeira fase da competição será disputada em 16 grupos de 3 equipas cada. Em cada um desses grupos, apuram-se os dois primeiros classificados. Entra-se depois numa fase a eliminar, começando nos 1/16 de final. Ou seja, há uma eliminatória adicional em relação ao formato atual.


Compreendo o argumento de que, abrindo-se a competição a mais 16 seleções, o mundial será um torneio mais inclusivo. Esta decisão abre todo um novo horizonte para muitas seleções em todo o mundo, que passarão a ter hipóteses reais de se qualificarem para uma fase final - coisa que, com apenas 32 vagas, dificilmente se concretizaria. Felizmente para nós, Portugal tem sido presença constante nas fases finais dos europeus e mundiais. Não falhamos uma qualificação desde 1998. Mas lembro-me bem do quão especial foram as qualificações e participação nas fases finais de 1984, 1986 (polémica Saltillo à parte) e 1996. O recente alargamento dos europeus também teve os seus aspetos positivos: temos de reconhecer que a presença de seleções como a Islândia, Irlanda do Norte e Gales deu um colorido diferente ao Euro 2016.

No entanto, a qualidade média dos jogos vai sofrer. O mundial a 32 já era uma competição com seleções de valia bastante díspar. No mundial do Brasil, participaram seleções como as Honduras, Equador ou Irão. Das 16 seleções adicionais que passarão a jogar a fase final, só 3 ou 4 serão de valor superior a estas. As restantes serão de valor igual ou inferior.

A fase de grupos deste novo formato, composta por dezasseis grupos de 3 equipas, das quais se apuram as duas melhores de cada grupo, será pouco mais do que um período de aquecimento para o que realmente interessa. Mas também será uma aberração competitiva. Grupos de 3 implicam que:
  • Uma das equipas terá um tempo de descanso muito superior entre jogos, em relação às outras duas.
  • Duas das equipas disputarão o último jogo sabendo, de antemão, o resultado de que necessitam para passar.


Para além disso, será que vai ser recompensador, do ponto de vista da experiência competitiva, abrir o torneio a tantas seleções, quando um terço delas irão para casa ao fim de 2 jogos, e outro terço ao fim de 3?

Existe uma outra novidadae: a FIFA divulgou, sem detalhar, que passará a haver desempate de penáltis em todos os jogos. Isto significa uma de duas coisas: ou os penáltis serão batidos no fim de todos os jogos, independentemente do resultado, para efeitos de desempate da classificação final no fim dos três jogos - aquilo que costuma haver nos torneios triangulares de pré-época; ou então serão batidos apenas em caso de empate, para deixar de haver empates. Estou muito mais inclinado para a primeira hipótese, pois acabar com os empates não garantiria que não houvesse igualdade de pontos na classificação final do grupo.


Como a duração do torneio se manterá em 32 dias, haverá, numa primeira fase, muito mais jogos para ver, mas com tantas equipas de valor duvidoso, e com um desnível de forças teoricamente superior, quantos dos 48 jogos desta fase terão efetivamente interesse para o público em geral? Só a partir dos oitavos-de-final é que o nível de competição será equiparável ao que temos tido até aqui.

A perceção que tenho é que os melhores jogos destas fases finais são os da fase de grupos, quando se cruzam duas seleções de valor acima da média. Na fase a eliminar, os treinadores têm muito mais reservas em arriscar, abordando as partidas de uma forma bastante mais cautelosa. Com o aumento do número de grupos, a probabilidade de as melhores equipas se cruzarem diminuirá drasticamente. E, havendo apenas dois jogos para decidir quem se apura, parece-me que a maior parte das seleções estará preocupada, em primeiro lugar, em não perder. Ou seja, do ponto de vista da qualidade do futebol praticado, nada de bom sairá desta decisão.

Mas ainda está aqui a faltar uma variável importantíssima: a questão financeira. A FIFA conta arrecadar mais 1000 milhões de receita, para um acréscimo de custos de cerca de 400 milhões. Ou seja, no final, terão mais 600 milhões nos cofres. Assim fica mais fácil compreender esta decisão.