domingo, 19 de fevereiro de 2017

Rui a mostrar porque já são 400

Se eu fosse como muitos comentadeiros que existem nas nossas rádios e televisões dos jogos, estaria agora a dizer que o Sporting mereceu inteiramente a vitória porque soube ser eficaz e fez o jogo que mais lhe interessava a partir do momento em que se viu em vantagem no resultado. No entanto, como não gosto de fazer balanços de jogos em função do resultado final, sou obrigado a admitir que o Sporting foi feliz em ter conquistado a vitória, já que foi o Rio Ave a dispor das melhores oportunidades para marcar. Tenho estado a fazer um esforço de memória para me recordar do último jogo em que o Sporting, tendo produzido uma exibição tão frouxa ao longo dos 90 minutos, tenha conseguido vencer. A verdade é que... não me consigo lembrar. 

Do ponto de vista do espetáculo que qualquer adepto espera ver num jogo para que paga bilhete, foi coisa para justificar pedidos de devolução do dinheiro. Durante os 90 minutos, desinspiração quase total na frente - com algumas honrosas exceções. Para piorar, na primeira parte houve vários momentos de desacerto dos nossos jogadores que deram aos jogadores do Rio Ave a hipótese de causar estragos em contra-ataques rápidos. Valeu-nos, nessas situações, termos entre os postes um guarda-redes que relembrou-nos a todos que não é por acaso que já vai com 400 jogos de leão ao peito.

Até o golo surgiu com uma boa dose de felicidade: começa com uma má receção de bola de William - que o obrigou a um esforço redobrado para impedir a interceção de um adversário - antes de avançar com ela no terreno, e depois com o ressalto que foi parar aos pés de Alan Ruiz.

Na segunda parte, mesmo continuando a jogar mal, a equipa conseguiu estabilizar-se quando não tinha a bola. O Rio Ave também pareceu acusar o desgaste causado pela pressão realizada na primeira parte, e jogou de forma bastante menos esclarecida. Como tal, é justo que se diga que o Sporting, não tendo conseguido dominar o jogo, pelo menos o soube controlar - algo fundamental que tem faltado a esta equipa em momentos em que não se consegue impor e tem o resultado por fechar.





O melhor Rui - no dia em que celebrava os 400 jogos na equipa principal do Sporting, não se poderia desejar de Rui Patrício melhor demonstração dos motivos pelo qual é dono da baliza do clube há mais de 10 anos. Se o Sporting conseguiu os três pontos, deve-o ao que o seu guarda-redes fez durante a primeira parte: quatro defesas em quatro ocasiões flagrantes do Rio Ave, duas das quais fenomenais. Mereceria sempre a homenagem que lhe foi reservada no final, mas a exibição que fez acabou por tornar esse momento simplesmente perfeito.

Novamente Alan Ruiz - Na primeira parte, o argentino foi o único que conseguiu pensar o jogo de ataque da equipa. Quando a bola lhe chegou aos pés, soube sempre temporizar e entregar da melhor forma a dar sequência ao ataque. Marcou o golo da vitória, fazendo o gosto ao pé pelo terceiro jogo consecutivo. Na segunda parte caiu de produção, mas o público presente em Alvalade pôde testemunhar alguns sprints seus para ajudar a defesa - nomeadamente quando via que Gelson não podia ajudar Schelotto. Está cada vez mais integrado e a confirmar-se, finalmente, como reforço.

Pendular Paulo Oliveira - recuperou a titularidade, substituindo Rúben Semedo, mas foi colocado do lado direito, deslocando-se Coates para a sua esquerda. Paulo Oliveira respondeu muito bem, quer nas dobras a Schelotto - e foram várias as que teve que fazer - quer na proteção da área, tendo sido, do setor defensivo, o jogador mais fiável: foi o único que não comprometeu com passes de risco mal direcionados ou perdas de bolas que pareciam controladas face à pressão dos adversários. Ou muito me engano, ou ganhou o lugar.

Consistência defensiva na segunda parte - tem sido um dos grandes problemas do Sporting, pelo que é justo reconhecer que a equipa, percebendo que não havia inspiração para ir atrás do segundo golo, soube manter-se concentrada e coesa durante a segunda parte. Continuaram a haver erros individuais (Jefferson e Schelotto estiveram particularmente mal), mas, sempre que alguém falhava, o resto da equipa conseguiu compensar e evitar sustos como os que ocorreram na primeira parte. 


A qualidade da exibição - obviamente que prefiro que a equipa ganhe jogando mal do que a equipa empate ou perca jogando bem, mas, enquanto apreciador de bom futebol, espero que exibições destas não se repitam muitas vezes.

Desconcentração em situações de risco - o Rio Ave teve mérito na forma como soube pressionar o Sporting em dois terços do terreno, e foi precisamente por aí que conseguiram causar as maiores ocasiões de perigo - com o devido demérito dos nossos jogadores. Das quatro grandes oportunidades de golo do Rio Ave, as duas primeiras surgiram de passes errados de Coates e William, e a última de uma perda de bola escusada de Schelotto (a outra surge de uma falta claríssima sobre Bruno César que o árbitro fingiu não ver). Felizmente, em todas elas, esteve lá Rui Patrício para as resolver.



Vitória diferente, não só por não ser merecida, mas também pelo facto de o Sporting ter conseguido, finalmente, chegar ao fim de um jogo sem sofrer golos - algo que já não acontecia desde a vitória no Restelo, há quase dois meses. Também é necessário saber ganhar assim.