segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Prevaleceu a melhor versão de um Sporting a duas velocidades

Considerando que, nos últimos meses, tudo aquilo que pode correr mal ao Sporting tem acabado por correr efetivamente mal, a partida de ontem em Moreira de Cónegos depressa começou a demonstrar potencial para mais um final de tarde frustrante. Pode-se dizer que houve um Sporting a duas velocidades, em várias dimensões: na qualidade exibicional revelada ao longo da partida - com uma primeira parte pobre e uma segunda parte muito mais entusiasmante -, mas também na diferença de rendimento que neste momento se nota dentro da própria equipa - uma setor recuado sem qualquer confiança vs. um setor atacante que tem de fazer o suficiente para ultrapassar os adversários e compensar as falhas que, invariavelmente, estão a ser cometidas nas suas costas.

A equipa entrou de forma apática em campo, revelando intranquilidade na defesa e pouca acutilância no ataque, que se traduziu numa primeira meia-hora completamente desperdiçada. O Moreirense conseguiu a proeza de, na primeira parte, ter feito apenas um remate à baliza - de penálti - mas ir para o intervalo a vencer por 2-1, graças a duas gentis e prestimosas ofertas do nosso setor defensivo. Mais do que o adversário, fomos nós próprios o nosso pior inimigo.

Apesar disso, há que dizer que, a partir dos 30 minutos, o Sporting começou a conseguir encontrar forma de contornar o autocarro que o Moreirense instalou no seu meio-campo. A segunda parte deu continuidade à melhoria exibicional e traduziu-se num domínio crescente que se traduziu em oportunidades e golos, justificando plenamente a conquista dos três pontos.




A exibição na segunda parte - depois de uma primeira parte globalmente medíocre, a resposta da equipa na segunda parte foi bastante positiva. O Sporting deu sequência ao bom final de primeira parte, encostou o Moreirense à sua área, e as oportunidades para marcar foram-se sucedendo. O domínio sportinguista foi constante desde o regresso dos balneários - com destaque para as exibições de Alan Ruiz, Dost, Gelson e Adrien -, mas há que fazer justiça a um momento que acabou por ser particularmente decisivo: a entrada de Podence em campo.

Um quarteto a pedir mais minutos em conjunto - o melhor Sporting de ontem foi aquele que teve simultaneamente em campo Alan Ruiz e Daniel Podence. O entendimento entre Dost e Alan Ruiz parece estar a evoluir significativamente: o holandês fez a assistência para o argentino no primeiro golo, e, no início da segunda parte, repetiu a gentileza com um brilhante passe que isolou Alan Ruiz - que foi travado em falta à entrada da área. Dost, que marcou o seu 17º golo para a liga, após remate ao poste de Podence. Podence - que precisou apenas de um par de minutos para se revelar mais perigoso do que Bryan Ruiz - parece ser o elemento perfeito para complementar as qualidades de Dost e Alan Ruiz: à semelhança de Gelson, tem capacidade para procurar a linha, mas com muito mais apetência para tentar as diagonais, de onde pode tentar o remate, desmarcar companheiros ou combinar com colegas para ser ele próprio a procurar a desmarcação. Depois de entrar bem no Dragão, Podence foi hoje o X factor, e já me convenceu de que tem lugar no onze titular. Resta saber se convenceu Jesus, que parece ter em Bryan - que está a milhas do que demonstrou na época passada - outra das suas teimosias. Junte-se a este trio o inevitável - e indiscutível - Gelson Martins, e temos a linha atacante que, de momento, é a mais capaz de nos aproximar do golo.

Apesar de tudo, há determinação em inverter a situação - os resultados do Sporting têm ficado bastante aquém das expetativas, o moral da equipa está em baixo, mas há que dizer que tem sido visível a vontade dos jogadores em dar a volta aos acontecimentos nos piores momentos. Em Chaves, começámos a perder mas a equipa conseguiu dar a volta ao resultado, acabando por se "consentir" o empate graças ao golo da vida de Fábio Martins. Na Madeira também estivemos em desvantagem por duas vezes, e só não se virou o resultado porque foi indevidamente anulado um golo a Alan Ruiz. No Porto, após uma má primeira parte que nos colocou numa desvantagem de 2 golos, a equipa fez uma exibição que merecia, pelo menos, o empate. E ontem, em Moreira de Cónegos, voltámos a estar por duas vezes em desvantagem no marcador, mas conseguiu-se consumar a reviravolta - desta vez conseguindo os três pontos. Pode-se acusar os jogadores de cometerem erros, mas não se pode colocar em causa a sua atitude.



Consistência defensiva patética - isto já nem é uma questão de opinião, é uma constatação. Já se tinha percebido que a performance defensiva está pelas ruas da amargura: qualquer equipa, com melhores ou piores executantes, consegue criar pelo menos dois ou três ocasiões flagrantes junto da nossa baliza - e, nos últimos jogos, essas ocasiões flagrantes têm sido, quase sempre, sinónimo de golos. Mas ontem conseguiu ser ainda pior. Ao intervalo, o Moreirense vencia por 2-1 com um único remate efetuado - precisamente o do penálti. Dois golos consentidos de forma infantil, qual deles o pior: no primeiro, há quatro jogadores sportinguistas com erros de palmatória: Rúben Semedo abriu o baile com um mau passe que originou o contra-ataque do Moreirense; depois, quando a bola foi bombeada para a área, Coates cortou de cabeça para trás de forma deficiente; e, finalmente, Rui Patrício e Bruno César fizeram o resto ao atrapalharem-se mutuamente, enfiando a bola na própria baliza. A única coisa positiva que se poderia retirar desse momento foi a atitude de Dramé em não festejar, mas na realidade o golo nem sequer foi seu. Mais tarde, surgiria o segundo golo do Moreirense, logo após termos chegado ao empate. Mais uma bola enviada para as costas da defesa, com Rui Patrício demasiado recuado em campo e a sair-se muito tarde, derrubando Boateng. A verdade é que este desastre ainda poderia ter sido pior, pois a tendência para meter água logo após marcarmos regressaria na segunda parte, depois do golo de Adrien que nos colocou na frente do resultado: Dramé por pouco não empatou, fazendo um chapéu a Patrício que levou a bola, fortunadamente, a embater na barra. Não espanta, perante a permissividade revelada, que na Liga NOS só existam oito equipas com pior defesa do que o Sporting. Assim fica muito mais difícil ganhar jogos.

Jogadores a precisar de banco - O primeiro jogador a mostrar que estava num dia mau foi Rúben Semedo. Aos 18 minutos, mau passe seu esteve na origem do contra-ataque do Moreirense. Maus passe todos fazem, mas neste caso já era o terceiro passe errado de Rúben Semedo - repito, aos 18 minutos de jogo. Semedo que, mais tarde, esteve perto de me provocar uma paragem cárdio-respiratória naquele par de segundos em que demorou a reagir após o remate à barra de Dramé - dava a ideia de estar na dúvida se aquela seria a sua baliza ou a baliza do adversário. Felizmente, os sentidos regressaram-lhe antes que algum jogador do Moreirense lá chegasse. Rui Patrício está num momento de forma terrível. Se tivesse sido mais decidido, poderia ter evitado os dois golos do Moreirense. Bryan Ruiz foi, mais uma vez, uma completa nulidade. Estes três jogadores não foram os únicos com exibições pouco conseguidas, mas, nestes casos, existem alternativas no banco que devem ser lançadas já na próxima partida.



À 11ª partida realizada fora de Alvalade para o campeonato, o Sporting alcançou a sua 4ª vitória - o que revela bem as dificuldades que temos tido para nos impormos no terreno dos adversários. Os motivos dos desaires ocorridos fora de portas têm sido bastante diversificados: a falta de comparência em Vila do Conde, o meltdown em Guimarães - com a prestimosa ajuda de Artur Soares Dias -, a derrota no dérbi powered by Jorge de Sousa e a falta de sorte contra o Chaves são alguns dos exemplos. Ontem, por alguns momentos, parecia tudo alinhado para novo mau resultado, devido a erros próprios, mas há que dar mérito à deteminação da equipa. Mostrou que tem qualidade e que há muita margem para progredir - seja pela evolução do conhecimento entre jogadores que começam agora a ser importantes, seja pela eliminação da tremideira que nos torna tão frágeis na defesa. Coisas que só podem acontecer através de vitórias como a de ontem.