domingo, 5 de fevereiro de 2017

Uma má primeira parte demasiado penalizadora

Num jogo que poderia ter reaproximado o Sporting da luta pelo segundo lugar, aquilo de que menos precisávamos era de uma primeira parte como a que sucedeu: um Sporting inofensivo com bola e inseguro a defender, que permitiu ao Porto fazer o jogo que mais lhe convinha - seguro atrás, correndo poucos riscos e muito eficaz no aproveitamento das suas oportunidades. Ao intervalo, o jogo parecia perdido, prometendo uma segunda parte angustiante, mas o Sporting regressou transfigurado do balneário, com o recém-entrado Alan Ruiz a ser capaz de, finalmente, pautar os movimentos ofensivos da equipa. O Sporting mandou completamente no jogo na segunda parte, marcou, obrigou Nuno a reforçar o seu meio-campo, e podia ter perfeitamente marcado um segundo golo que evitaria a derrota - e, quem sabe, procurar ainda a reviravolta. Mas, como em tantos outros jogos desta época, o resultado não fez justiça ao futebol praticado em campo, tendo a má primeira parte sido demasiado penalizadora para a excelente segunda parte que o Sporting realizou.

Foto: Record / Lusa



A reação na 2ª parte - Jesus trocou Matheus Pereira por Alan Ruiz ao intervalo, e com isso todo o futebol do Sporting se transformou pela positiva. A capacidade do argentino em segurar a bola numa posição central atrai os adversários e permite que os companheiros tenham tempo para criar linhas de passe numa zona mais adiantada no terreno. Esse pequeno-grande pormenor foi suficiente para mudar toda a dinâmica do jogo. Gelson passou a ter espaço para desequilibrar, enquanto Adrien tomava conta do meio-campo. Sucederam-se várias oportunidades para marcar. Uma delas deu golo, através de um grande pontapé de Alan Ruiz, com assistência de Bas Dost. Outra foi à barra, através de Adrien (após espaço ganho por Gelson). E Casillas fez o resto, com um conjunto de defesas decisivas, incluindo uma parada monumental nos descontos a um cabeceamento de Coates.

O momento de forma de Alan Ruiz - da mesma forma que foi criticado quando não rendia, é da mais elementar justiça salientar o bom momento que atravessa. Só não foi decisivo contra o Marítimo porque o fiscal-de-linha não deixou, foi decisivo contra o Paços, e hoje transfigurou o jogo do Sporting. Mantendo esta consistência e conseguindo aguentar mais do que 60 minutos, poderá vir a ser uma das boas surpresas desta segunda-volta.



Há muita matéria-prima para trabalhar - Jorge Jesus, com a falta de diplomacia que lhe é habitual, disse que o facto de se convocarem dez jogadores da formação acaba por se pagar, referindo-se à derrota de hoje. É uma forma de ver as coisas. Sim, Palhinha teve responsabilidade no primeiro golo, mas não faz qualquer sentido estar a escudar-se na inexperiência dos jogadores da formação quando Petrovic, a escolha de Jesus para backup de William, teve o desempenho que todos sabemos. Palhinha conseguiu superar o erro e arrancou para uma exibição globalmente positiva. O que vejo, nestes dez jogadores da formação convocados, é uma oportunidade para Jesus. Agora que alguns dos seus erros de casting foram corrigidos, o treinador tem muita matéria-prima para trabalhar. Palhinha, Podence, Geraldes, Matheus precisam de oportunidades consistentes. Alan Ruiz começa a demonstrar que se calhar poderá justificar o dinheiro que se pagou por ele - e aí, mérito para Jesus pela sua teimosia. Esgaio, que não é um jogador que aprecie particularmente, integrou-se na equipa bem melhor do que Zeegelaar. Não havendo a pressão de lutar pelo 1º lugar (o melhor que podemos conseguir é o 3º), há agora que explorar a óbvia margem de progressão que este plantel possui. Felizmente, Jesus tem capacidade para isso. A qualidade demonstrada pela equipa na segunda parte comprova que existe muita qualidade e potencial e treinador para os potenciar.



1ª parte: Sporting MIA - MIA de missing in action, e não da conjugação do verbo miar na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo - apesar de o leão ter parecido um gatinho, durante os primeiros 45 minutos. Jesus surpreendeu ao lançar Matheus na esquerda, puxando Bryan Ruiz para o meio, face às lesões de Campbell e Bruno César. A opção não funcionou, mas é redutor colocar aí a responsabilidade pela falta de capacidade em chegar à área do Porto. Zeegelaar não colaborou (nem no ataque nem na defesa), mas, ainda assim, Matheus e Bryan conseguiram ser até um pouco mais efetivos que Gelson e Schelotto na direita. O problema é que foi tudo nivelado por baixo, não havendo nenhum jogador que conseguisse conduzir o jogo de forma a contornar a pressão portista. Do outro lado, há que registar a eficácia de Soares: no primeiro golo aproveitou um erro de decisão de João Palhinha, que tentou, demasiado tarde, deixá-lo em posição iregular; no segundo, muito bem na finalização do contra-ataque. É caso para dizer que, mais uma vez, Soares não foi fixe.

A falta por assinalar no segundo golo do Porto - Hugo Miguel fez uma arbitragem ao seu estilo, ou seja, deixando jogar e permitindo algum jogo duro de parte a parte. Dentro desse registo, esteve equilibrado na forma como foi ajuizando os lances. Infelizmente, a arbitragem acaba por ficar manchada pela falta que Brahimi cometeu sobre Palhinha, que esteve na origem do contra-ataque finalizado por Soares. Um erro que acabou por ter influência no resultado.



Sporting pior na primeira parte, mas muito melhor na segunda, criou oportunidades de golo suficientes para merecer, no mínimo, o empate. Ficamos agora a 9 pontos do Porto e, previsivelmente, a 10 do Benfica, pelo que, pragmaticamente, restam duas coisas a fazer: assegurar o 3º lugar e trabalhar a equipa já a pensar na próxima época.