quarta-feira, 29 de março de 2017

113 dias

Foto: Paulo Calado / Record
Bruno de Carvalho foi castigado pelo CD da FPF em 113 dias. Cento e treze dias. Uma centena, uma dezena e três unidades de conjuntos de 24 horas. O maior castigo dado no futebol português a um presidente de clube desde a sentença do Apito Dourado.

Considerando o circo que se arma todos os anos no futebol português, só se poderia pressupor que as declarações de Bruno de Carvalho terão sido imensamente graves. No entanto, segundo o Record (LINK), as frases que estiveram na origem do castigo foram as seguintes:

A 15 de janeiro de 2016, após o final do Sporting-Tondela, visando Vitor Pereira, então presidente do Conselho de Arbitragem:
"Os jogos não se jogam dentro das quatro linhas";

"Gosto pouco de estar a brincar ao futebol. O Senhor Vítor Pereira já ultrapassou todos os limites do rídiculo".

 Nesse mesmo dia, desta feita através da sua página de Facebook:
"Inacreditável... A pressão aos árbitros já mete nojo! Querem provocar o pânico aos árbitros nos jogos que arbitram do Sporting e ainda passar a mensagem que os jogadores do Sporting têm de estar a ser sempre punidos. Vitor Pereira já não perdeu só o bom senso a nomear, já perdeu toda a noção do ridículo!".

A 23 de janeiro de 2016, num artigo de opinião no jornal 'A Bola':
"Tem sido evidente, não posso deixar de salientar, a falta de critério e bom senso em muitas nomeações este ano, nunca sendo de atribuir a culpa aos árbitros porque estes apenas são nomeados. Tem sido claro que após conflitos públicos existentes entre a instituição Sporting e alguns árbitros, no que diz respeito à sua atuação menos positiva, os mesmos têm sido constantemente escolhidos para arbitrar jogos do Sporting numa perfeita afronta ao clube e num total desrespeito com a própria defesa do respetivo árbitro";
"Significa apenas o total desnorte e falta de bom senso daquele que devia decidir em prol do futebol e da classe dos árbitros: Vítor Pereira";

"São exemplos e factos concretos de que o futebol continua a ser jogado fora da quatro linhas, de que a forma como é feito já nem sequer é velada".

Não conheço os regulamentos. Não sei quais são as penas previstas para este tipo de declarações, mas é absurdo que o CD as considere mais graves do que muitas outras acusações, insinuações e insultos feitos por presidentes, dirigentes e funcionários de outros clubes. Só há duas conclusões que se podem retirar deste castigo: ou os critérios são iguais para todos e podemos esperar penas igualmente pesadas para outros intervenientes; ou há uma disciplina mais pesada para o Sporting do que para Benfica e Porto. 

A verdade é que nada indicia que as penas praticadas estejam a ser mais pesadas - a não ser as multas pelo intolerável arremesso de tremoços e bolas de esponja, ou por cânticos das claques. Na final da Taça da Liga, foi atirado um petardo que rebentou junto aos jogadores do Moreirense que festejavam um golo. Castigo, nem vê-lo. Há uns meses, a claque do Porto invadiu o centro de treino dos árbitros para mandar os recados. Castigo, nem vê-lo. Vieira, que, ao que se diz, insultou João Ferreira no início da época, foi punido apenas com metade da pena. Rui Vitória, há pouco mais de um mês, quando falava das arbitragens que, no seu entender, prejudicaram o Benfica contra Boavista e V. Setúbal, disse apenas isto: 



Já vi ameaças mais subtis. Castigo para estas declarações? Obviamente que nenhum. Os senhores do CD talvez estivessem de férias quando estas palavras foram proferidas.

Portanto, quando o Benfica fala em dualidade de critérios na justiça da FPF... parece ter razão. Bruno de Carvalho deverá agora recorrer para o TAD, e ninguém ficará surpreendido se a pena for cortada substancialmente - algo que já começa a ser hábito nas penas duras que o CD aplica a dirigentes e funcionários do Sporting. Resta saber se isso acontecerá ainda antes de o castigo de 113 dias ser cumprido na totalidade.