quinta-feira, 30 de março de 2017

A entrevista a Bruno de Carvalho

Critiquei, em setembro do ano passado, o formato escolhido pela TVI para entrevistar Luís Filipe Vieira. Ontem, a TVI replicou a fórmula para entrevistar Bruno de Carvalho. Dividida em duas partes, a entrevista começou com um punhado de perguntas que se centraram, sobretudo, na questão do castigo de Bruno Carvalho. A meio, foi interrompida por uma longa peça sobre a história pessoal do presidente do Sporting. Depois, prosseguiu na TVI24 com a presença de três sportinguistas a partilharem o papel de entrevistadores com José Alberto Carvalho: José de Pina, Dias Ferreira e José Eduardo.

Há uma diferença fundamental entre a entrevista de Bruno de Carvalho e Luís Filipe Vieira. É que enquanto o presidente benfiquista dá poucas entrevistas e raramente sai da sua zona de conforto, Bruno de Carvalho não pode ser acusado de défice de escrutínio: dá entrevistas frequentes a jornais, rádios e televisões - sejam do clube, independentes, ou abertamente hostis. E, considerando que a campanha eleitoral do Sporting decorreu até há menos de um mês, não havia muitos motivos de interesse para esta entrevista que não fosse a reação do presidente ao castigo que lhe foi imposto pelo Conselho de Disciplina.

Nesse tema, Bruno de Carvalho argumentou bem: demonstrou o absurdo que é a pena de 113 dias face ao que foi dito por si sobre o ex-presidente do CA, apontou algumas omissões estranhas do acórdão - nomeadamente a ausência de justificação de como o CD chegou àquele número de dias de castigo - e, o mais interessante de tudo, deixou a entender que está para muito breve o regresso de Vítor Pereira ao futebol - não especificando nem o futuro cargo nem o empregador.

No geral, não houve muito sumo para se tirar da entrevista, que foi demasiado longa para a quantidade de temas de interesse que havia para explorar. Foi escusada a insistência de José Alberto Carvalho - que não está suficientemente por dentro para fazer entrevistas sobre futebol - em explorar a promessa de Bruno de Carvalho em ser campeão pelo menos duas vezes neste mandato, e os comentários e perguntas dos três convidados sportinguistas não acrescentaram grande coisa ao programa - reconheça-se que a tarefa era difícil, porque, conforme escrevi mais atrás, não há muito que se possa perguntar ao presidente do Sporting menos de um mês após um processo eleitoral que foi bastante longo.

A entrevista a Luís Filipe Vieira em setembro foi uma oportunidade perdida. A entrevista a Bruno de Carvalho só não é uma oportunidade perdida porque não existiam grandes temas para explorar para além do castigo. Fica confirmado que o formato é completamente avesso a uma dinâmica interessante, pois acaba por ser uma extensão dos inúmeros programas de comentário que são transmitidos semanalmente. Não se aproveita o tempo do entrevistado para ir a assuntos efetivamente delicados, e desperdiça-se o tempo de quem está a vê-la.