quinta-feira, 9 de março de 2017

Copo vazio e copo cheio

É interessante ver como dois comentadores podem retirar conclusões tão distintas do mesmo jogo de futebol. Ontem, no rescaldo do B. Dortmund - Benfica, Carlos Daniel e Rui Pedro Braz fizeram as respetivas análises à derrota da equipa portuguesa na Alemanha:


Parece-me que Carlos Daniel está a desvalorizar a qualidade da equipa alemã. É verdade que o Dortmund não é um colosso, mas é um clube com currículo europeu suficiente para ficar numa segunda linha, logo abaixo dos crónicos dominadores do futebol europeu da última década. E tem, efetivamente, muitos jogadores de grande nível, que praticam um futebol muito atrativo e muito difícil de contrariar, e integrados numa liga muito mais competitiva do que a portuguesa. O desfecho da eliminatória foi o mais esperado, ainda que os números do resultado de ontem tenham sido algo anormais. Também tinha sido anormal a forma como o Dortmund não resolveu a eliminatória na primeira mão, tal foi o domínio imposto durante todo o jogo.

Mas Carlos Daniel tocou num ponto que é importante: o Benfica de Rui Vitória, apesar de ter chegado aos oitavos, nunca se conseguiu fazer uma exibição verdadeiramente convincente contra equipas a partir de um certo patamar de qualidade.

Se tivesse que apostar o meu dinheiro em qual será o próximo campeão português, a minha escolha seria o Benfica. Acredito que em maio, Rui Vitória estará a celebrar o seu segundo campeonato, apesar da subida de forma do Porto. Mas isso não invalida algo que é uma evidência: Vitória é um treinador que ainda não conseguiu que a sua equipa renda mais do que a soma das suas individualidades. Tem-lhe valido a indiscutível qualidade dos seus jogadores em termos ofensivos, mais que suficiente para derrotar confortavelmente 75% das equipas do campeonato português. Em mais de ano e meio como treinador do Benfica, ainda não conseguiu uma única exibição convincente contra Sporting e Porto, sendo que aí, em alguns dos jogos, valeu-lhe também a mentalidade competitiva e força psicológica que o plantel acumulou com o hábito de ganhar títulos - para não falar, claro, das ajudas das equipas de arbitragem, como no dérbi de dezembro passado.

Ontem, mais uma vez, Rui Vitória colocou as fichas todas no contra-ataque e nas bolas paradas, sem ter qualquer intenção de mandar no jogo. Mentalidade de treinador de equipa pequena, como disse Carlos Daniel? É bem possível.

Quanto à análise de Rui Pedro Braz... apenas consigo dizer que é outra forma de ver as coisas... copo mais cheio que este não existe. :)

P.S.: certeiro, certeiro, foi este comentário antes do jogo (via @CremeAcido):