segunda-feira, 6 de março de 2017

Limbo

Numa época sem objetivos para perseguir, é normal que os índices motivacionais da equipa estejam em baixo, e, consequentemente, isso tenha implicações na qualidade das exibições. Mais uma vez, a qualidade de futebol praticado pelo Sporting esteve abaixo do que estes jogadores podem conseguir fazer, mas, ainda assim, a primeira parte acabou por ser bastante interessante. A vantagem ao intervalo poderia servir de tónico para procurar fechar o jogo na segunda-parte (apesar de, contra o V. Guimarães, ser necessária uma vantagem de 4 golos para me deixar descansado) mas, incompreensivelmente, a qualidade de jogo desceu imenso, de parte a parte. Foi um suplício: não soubemos manter um ritmo minimamente elevado - o que nos favoreceria à medida que o relógio fosse passando, pois o V. Guimarães jogou a meio da semana -, não tivemos capacidade de construir jogo, e, pior ainda, não tivemos capacidade de aguentar a vantagem.



A primeira parte - os primeiros 45 minutos foram agradáveis, com ambas as equipas a exibirem argumentos para chegarem ao golo. O Sporting apresentou momentos de bom futebol ao nível de meio-campo, com Bruno César, William, Gelson, Dost e Alan Ruiz (este apenas após o golo) a conseguirem abrir espaços para atacar a área adversária. O pior foi no momento do último passe ou de rematar. Do outro lado, o V. Guimarães procurou sempre explorar as costas dos laterais, principalmente pelo seu flanco direito, falhando também no momento da decisão. Marcou o Sporting primeiro, mas é justo dizer que o V. Guimarães acabou por dar mais trabalho a Rui Patrício do que o Sporting a Miguel Silva. De qualquer forma, na globalidade da primeira parte, o Sporting fez por merecer a vantagem que levou para os balneários.

A influência de Dost - está cada vez mais influente na ação ofensiva da equipa que não apenas a finalização. Está melhor a jogar de costas para a baliza, e demonstrou, mais uma vez, ser um jogador altruísta: no lance do golo podia ter tentado alvejar a baliza, mas preferiu deixar a bola para Alan Ruiz, que estava em melhor posição. Tirando essa meia-oportunidade, teve apenas outra meia-oportunidade, quando trabalhou a bola à entrada da área à procura de espaço para rematar, mas acabou por permitir a interceção de um defesa. Foi mais um jogo em que não teve bolas a chegarem-lhe em condições.




A exibição na segunda parte - esteve muitos furos abaixo do exigível, em dois níveis diferentes. Antes do golo sofrido, parecia que a equipa não queria arriscar muito, para minimizar as ocasiões de contra-ataque dadas ao V. Guimarães. Com a saída de Bruno César e Alan Ruiz - concordo com a saída do argentino e percebo a saída do brasileiro, já amarelado, mas o que é facto é que as substituições não funcionaram -, desapareceu por completo a capacidade de construção da equipa, por falta de quem conseguisse transportar jogo. Depois do golo sofrido, foi ainda mais angustiante a incapacidade de colocar a bola na área adversária. Castaignos aumentou a capacidade de pressão, mas foi inócuo ofensivamente porque a equipa não conseguia fazer chegar a bola em condições. Com um Bryan Ruiz completamente desinspirado - não se entende como continua a ser titular -, faltou quem conseguisse organizar jogo. Quem sabe se no camarote dos jogadores não convocados não haveria lá alguém com capacidade de o fazer...

Ausência de estratégia a médio prazo - isto que vou escrever de seguida nada tem a ver com a qualidade do jogador em questão, nem tem nada a ver com a qualidade da sua exibição. Não compreendo como é que, estando a época perdida, não aproveitamos as oportunidades que temos (e que serão poucas) para dar mais oportunidades a jogadores que podem fazer parte do futuro do Sporting em relação aos que não farão parte do futuro do Sporting. Falo da colocação de Joel Campbell em campo. Daqui a dois meses e picos vai embora e dificilmente voltará. Não faria mais sentido colocar Podence, naquelas circunstâncias?



Assim se quebrou uma sequência de três vitórias. Seria mais fácil perder pontos tendo a sensação de que já se está a trabalhar tendo a próxima época no horizonte. É verdade que Palhinha voltou a ter minutos, mas não é suficiente. Nestes meses, se Jorge Jesus não abrir horizontes, vamos atravessar uma espécie de limbo: nem fazemos nada de interessante agora, nem fazemos por criar condições para fazer algo de mais interessante no futuro. Assim, fica apenas o desejo de que esta época acabe o mais rapidamente possível.