quarta-feira, 1 de março de 2017

O treinador de Madeira Rodrigues

Considerando o facto de que Pedro Madeira Rodrigues é apenas um candidato que defronta um presidente em exercício, acho que Juande Ramos, o treinador encontrado para o acompanhar em caso de vitória nas eleições, é um nome aceitável. Aceitável, mas não mais do que isso: da mesma forma que poderia ter arranjado muito pior (chegou a falar-se em Carlos Queiroz e Manuel José, por exemplo), também poderia ter arranjado muito melhor (Rui Jorge ou Marco Silva seriam ases de trunfo para a sua campanha).

É indiscutível que Juande Ramos tem currículo - mesmo sem ter sido campeão nacional, há muito valor nas vitórias em duas Taças UEFA e uma Supertaça Europeia com o Sevilha -, mas isso não faz com que seja automaticamente uma escolha convincente. Em primeiro lugar, porque já passaram muitos anos desde que o treinador fez algo de relevante na sua carreira: tirando o período em que serviu o Dnipro, tem acumulado despedimentos pelos clubes por onde passou nos últimos dez anos. Depois, porque as suas últimas opções de carreira têm sido típicas de alguém que está mais preocupado em rechear a conta bancária do que com a evolução da sua carreira, o que normalmente é sinal de uma certa acomodação. Por último, é sabido que os treinadores estrangeiros têm, por regra, enormes dificuldades em adaptar-se às particularidades do futebol português - por algum motivo já se passaram dez épocas desde a última vez que o campeonato não foi ganho por um treinador indígena.

Não sendo Juande Ramos um nome óbvio, dificilmente terá sido a primeira escolha de Madeira Rodrigues. Inicialmente, Madeira Rodrigues referiu a existência de três nomes possíveis. Creio que confirmou que um era argentino - ao que tudo indicava, Bielsa - e que outro era português. Mais tarde, uma fonte da candidatura referiu aos jornais que o treinador escolhido era britânico. Para além disso, estando neste momento sem emprego, por que razão será Boloni a pegar na equipa no dia 5 de março em caso de vitória da lista A? Ou seja, todas as curvas e contracurvas no discurso do candidato sobre o seu perfil de treinador indicam que o espanhol foi a escolha possível. Ora, será preciso um pequeno milagre para que o Sporting conquiste o campeonato apenas com uma escolha possível. Em Portugal, não se fazendo parte do círculo do poder, as coisas não funcionam assim.

O grande erro de Madeira Rodrigues na campanha foi ter "despedido" Jorge Jesus após o anúncio público do seu apoio a Bruno de Carvalho através da Comissão de Honra. Não só se meteu na trapalhada de querer convencer os sportinguistas de que esse despedimento não teria quaisquer custos para o clube - primeiro Jorge Jesus saíria pelo próprio pé, depois arranjar-se-ia uma solução legal para resolver o problema, e no fim seria Bruno de Carvalho a pagar -, como também o forçou ao trabalho adicional de arranjar um treinador em plena campanha. As hipóteses que tinha já eram reduzidas à partida, mas é bem provável que, com isto, tenha deitado tudo a perder.