domingo, 12 de março de 2017

Parecem bandos de pardais à solta

Depois de um empate insosso contra o Guimarães - com uma exibição paupérrima na segunda parte e uma equipa que, às tantas, parecia acomodada -, não poderia desejar melhor reação do que aquela que pudemos assistir ontem em Tondela. Reação do treinador, que mexeu (é certo que forçado) no onze e injetou uma tão necessária dose de irreverência, e reação dos jogadores - quer dos habituais titulares, quer das novas apostas -, que resultou numa exibição muito sólida e uma vitória anormalmente folgada (para os padrões desta época).

É verdade que era um jogo contra o último classificado, mas não nos podemos esquecer que este Tondela sempre nos colocou grandes dificuldades: nos três jogos disputados anteriormente, o Sporting vencera apenas um... e nos descontos. Para além de que, no princípio da época, o Tondela conseguiu empatar em casa com o Porto.

Mérito para a equipa, que soube adaptar-se bem ao adversário... e a si própria: percebeu-se perfeitamente a falta de entrosamento no início do jogo, e, qual formação on-the-job, os jogadores a tentarem afinar o entendimento mútuo. E conseguiram-no. À medida que o relógio foi passando, os passes começaram a entrar, as combinações começaram a ter uma maior taxa de sucesso, o domínio foi-se estabelecendo e as oportunidades apareceram. E aparecendo as oportunidades, já se sabe... aparece Bas Dost.




As mexidas no onze inicial - as ausências forçadas de Adrien, Bruno César e Alan Ruiz obrigariam sempre Jesus a fazer alterações na equipa titular, mas não esperava que apostasse simultaneamente em Matheus e Podence. Esse espaço acabou por surgir porque o treinador entendeu recuar Bryan Ruiz para a posição 8. As alterações funcionaram. Notou-se uma óbvia falta de entrosamento entre os jogadores mais avançados, mas, à medida que se foram ambientando, o nível exibicional da equipa foi crescendo. A equipa acabou muito bem a primeira parte, e deu a devida continuidade nos segundos 45 minutos. Bryan Ruiz soube assumir o papel de segundo médio e fez um bom jogo - apesar de o golo do Tondela ter surgido após um mau passe seu -, enquanto Podence e Matheus conseguiram imprimir uma excelente dinâmica ofensiva, ao mesmo tempo que trabalharam muito defensivamente: há muito que não via o Sporting conseguir impor este nível de pressão sobre a linha defensiva adversária.

O poker de Dost - curiosamente foi um dos jogos em que até se mostrou mais perdulário: a determinada altura do jogo já tinha tido quatro ocasiões flagrantes para marcar e apenas concretizou duas. Completou o poker com duas grandes penalidades, e foi uma pena não ter concretizado a terceira. Com estes quatro golos, aumentou para 22 o número de vezes que já fez agitar as redes, ficando, na luta pela Bota de Ouro, empatado em 2º lugar com Aubameyang e Belotti, a apenas um golo do líder Messi.

Parecem bandos de pardais à solta - na transmissão televisiva, de vez em quando viam-se umas andorinhas a esvoaçar sobre o estádio, mas a noite foi do bando de pardais à solta no relvado. Os putos tiveram uma oportunidade para mostrar o que valem, e souberam aproveitá-la da melhor forma. A primeira parte foi toda de Podence, o jogador mais dinâmico em campo. que teve como pontos altos os dois passes de morte para Dost: um concretizado; o outro, brilhantemente picado por cima do defesa, pareceu apanhar o holandês de surpresa. Matheus esteve mais apagado no princípio, acusando a falta de entrosamento e um posicionamento - colado à linha - que lhe é menos favorável. A influência do brasileiro na equipa começou a crescer com o tempo, à medida que começou a pisar terrenos mais interiores. Fez uma excelente segunda parte, com vários bons cruzamentos e uma magnífica assistência para o segundo golo de Dost. Gelson acabou por ser o mais apagado dos três, mas mesmo assim ganhou o penálti que deu o golo da tranquilidade ao Sporting. Palhinha entrou bem, acrescentando agressividade e força ao meio-campo. E Francisco Geraldes estreou-se, entrando numa fase em que ambas os conjuntos já pareciam satisfeitos/conformados com o resultado, mas ainda a tempo de ganhar mais um penálti para a equipa. Uma atuação globalmente muito positiva dos putos, a justificar continuidade na aposta.

A reação ao golo do Tondela - a equipa da casa chegou ao empate completamente contra a corrente do jogo, mas bastou um minuto para o Sporting recolocar-se em vantagem. Foi um golo importantíssimo para manter a serenidade e alcançar a vitória.

A onda verde - mais uma demonstração de vitalidade do clube e dos seus adeptos, que continuam a apoiar a equipa de forma incondicional e ininterrupta. Foi fantástico ver aquelas bancadas cheias, apesar de estarmos tão distantes do primeiro lugar. 



A instabilidade na posição de lateral esquerdo - todos sabemos que as opções existentes para a posição não são convincentes, mas tantas alterações acabam por não fazer bem a nenhum jogador. Hoje, o treinador optou por Marvin Zeegelaar que, excetuando um disparatado passe em balão atrasado que causou calafrios e obrigou Coates a um esforço adicional, fez um bom jogo. Convém referir que Marvin fez ontem, dia 11 de março, apenas o seu 3º jogo a titular em 2017 (em 12 possíveis). Convém haver mais estabilidade na posição.

O penálti falhado por Dost - o único ponto negativo numa noite extremamente positiva.



Vitória expressiva - foi apenas a segunda vez, esta época, em que ganhámos por mais do que um golo em jogos fora de casa -, boa exibição, avalanche de golos de Dost e uma excelente prestação dos miúdos que, perante a oportunidade dada, conseguiram deixar a sua marca bem vincada no resultado. Venham mais destes!