terça-feira, 4 de abril de 2017

Agressão vs agressor

José Manuel Ribeiro, diretor do jornal O Jogo, escreveu hoje um texto de opinião sobre o caso Canelas. O jornalista critica o facto de se estar a colocar o foco no agressor e não no problema da violência no futebol, referindo que há quem esteja a usar o Canelas e os elementos dos Super Dragões que lá jogam como mais uma extensão da rivalidade entre Benfica e Porto.


É evidente que a existência de vários elementos dos Super Dragões encorajou a que se apontassem os holofotes ao Canelas quando apareceram os primeiros relatos de violência nos seus jogos. Como tal, é legítimo que se diga que o impacto mediático teria sido muito inferior se, na altura, tivessem aparecido imagens de agressões de qualquer outro clube do futebol distrital que não o Canelas. Até aqui, dou razão a José Manuel Ribeiro. 

Mas o problema é que os incidentes com o Canelas não se limitam a um caso isolado. Os casos de violência que envolvem este emblema são recorrentes, tendo-se chegado ao ponto de haver vários clubes da mesma série que preferiram pagar uma multa elevada por falta de comparência do que ter que os defrontar em campo. E, depois disso, ainda houve suspeitas de fogo posto em propriedade de dois dos clubes que boicotaram os jogos com o Canelas.


No fim-de-semana passado, com a agressão de um jogador ao árbitro, a violência praticada por elementos deste clube atingiu um novo patamar. A atenção mediática que há neste momento sobre o Canelas é, por isso, completamente justificada. A prova de que não é uma questão de rivalidade entre Benfica e Porto pode ser avaliada pela atenção que o Canelas tem merecido no estrangeiro.

A questão das múltiplas agressões merece este destaque. E depois há a questão do agressor. O foco colocado na ligação entre o Canelas e os Super Dragões é completamente justificado a partir do momento em que os dirigentes da AF Porto - nomeadamente o seu presidente, Lourenço Pinto -, conotados com o clube da claque em causa, nada fizeram para terminar com este circo. A AF Porto protegeu o Canelas até aos limites das suas possibilidades, em detrimento dos interesses dos doze clubes que se recusaram a entrar em campo. Será que a passividade demonstrada seria semelhante se não existissem Super Dragões no Canelas?

Ao princípio, a atenção pode ter sido captada como aproveitamento da ligação entre o Canelas e os Super Dragões. Mas neste momento, já ultrapassou em muito a questão da rivalidade clubística. É um caso gravíssimo que demonstra uma total falência organizativa e disciplinar no controlo da violência por parte da AF Porto e, em certa medida, da própria FPF. Dispensava-se a tentativa de José Manuel Ribeiro em tentar transformar isto em mais uma querela Benfica-Porto ou Norte-Sul.