quarta-feira, 26 de abril de 2017

As (exorbitantes) comissões pagas pelos clubes

A FPF divulgou ontem a lista de negócios dos clubes com jogadores (compras, vendas e renovações), realizados entre 1 de abril de 2016 e 31 de março de 2017, que implicaram o pagamento de comissões a empresários e intermediários. No final, fizeram um resumo com os valores pagos por cada um dos clubes:


Como seria de calcular, os três grandes ocupam as três primeiras posições dos clubes mais gastadores, mas a disparidade entre eles é aberrante: o Sporting gastou 4,9M, o Porto gastou 6,2M, e o Benfica gastou 30,1M. Salta à vista, obviamente, o facto de o Benfica pagar pouco menos do que o triplo que Sporting e Porto gastaram juntos.

Apesar disso, não tardou a aparecer quem viesse tentar explicar que os valores pagos pelo Benfica são "naturais".


Rui Pedro Braz lança logo da cartada de que o Benfica é o clube que faz mais vendas para justificar a tal disparidade. Segundo o comentador, o Benfica vendeu cerca de 130 ou 140 milhões de euros. Está aqui o primeiro erro do comentador. Nesta lista da FPF, as únicas vendas do Benfica que são consideradas são as de Renato, Gaitan e Guedes, mais os empréstimos de Talisca e Taarabt. É verdade que o Benfica anunciou, em janeiro, ter vendido Hélder Costa por (supostamente) 15 milhões. O problema é que Hélder Costa não aparece nesta lista da FPF - apesar de ser muito duvidoso que Mendes não tenha amealhado o seu dízimo. Isto significa que, dos 30 milhões gastos pelo Benfica em comissões, apenas cerca de 9 corresponderão a vendas de jogadores.

A primeira metade da justificação de Braz cai, assim, por terra.

Ou seja, o Benfica terá gasto cerca de 21 milhões em comissões para negócios de compra e renovação de jogadores. Sabe-se que os "custos zero" de Carrillo e Zivkovic corresponderam a custos de cerca de 12,6 milhões - nos quais é necessário retirar os prémios de assinatura dos jogadores, que não entram nestas contas -, que ajudaram a empolar estes valores. E também houve gastos com renovações de jogadores de 1ª linha, como Ederson (via Gestifute), Luisão, Sálvio ou Jardel. Sabe-se que a renovação de Sálvio custou 2,6 milhões, e que a de Jardel custou 2,1 milhões. Assim não custa nada negociar, diria eu.

Coloco agora a pergunta que se impõe: é mesmo obrigatório que os clubes paguem fortunas para realizarem negócios? As recentes vendas do Sporting provam que não, pois o clube encaixou 70 milhões só com João Mário e Slimani, sem que qualquer comissão fosse paga. E também se fecharam renovações de alguns dos principais jogadores do plantel, como Rui Patrício, Adrien, Gelson ou Schelotto.

A segunda metade da justificação de Braz assenta na ligação a Mendes. Diz o comentador que "o Benfica, se quer continuar a trabalhar com este empresário, tem que aceitar as suas regras". Jorge Mendes abre muitas portas? Sim, isso é indiscutível. Mas será que compensa esta dependência depois de deduzidos as comissões, os mendilhões, e a obrigação de compras igualmente milionárias para manter o carrossel em andamento? Não existirão outros empresários capazes de colocar os jogadores por valores líquidos igualmente interessantes, havendo qualidade? Não é para isso que servem os negociadores implacáveis?

O mercado funciona como funciona, e não é possível regressar a um tempo em que os clubes negoceiam diretamente com os jogadores, mas considerando a situação financeira de todos os clubes, não faz qualquer sentido que os clubes encarem as comissões como gastos inevitáveis e inegociáveis. Está provado que o caminho palmilhado pelo Sporting, por muitas dificuldades que isso possa causar a determinados negócios, faz todo o sentido. Só para colocar em perspetiva a barbaridade destes números, o Benfica contraiu ainda este mês um empréstimo obrigacionista de 60 milhões de euros, com duração de 3 anos. Ou seja, só no espaço de um ano, o Benfica gastou metade desse valor em comissões a empresários e intermediários...