quinta-feira, 27 de abril de 2017

Introducing José Sousa


A troca de acusações entre os presidentes de Sporting e Benfica tem sido o tema dominante dos últimos dias. Como é costume em qualquer assunto que oponha Sporting e Benfica, as opiniões dos adeptos dividem-se radicalmente: para a maior parte dos benfiquistas, Bruno de Carvalho é o diabo e Luís Filipe Vieira é uma vítima em toda esta novela; para muitos sportinguistas, Bruno de Carvalho apenas responde às constantes provocações dos minions de Vieira, principal autor moral do momento de crispação que se vive. Pelo meio, há uma franja de adeptos que consegue identificar responsabilidades de um e de outro lado, ainda que estejam (naturalmente) predispostos a assumir mais culpas do outro lado da barricada.


Nos comentadores e jornalistas, a distribuição é bastante diferente. Os mais sérios, cada vez em número mais reduzido, conseguem ver a realidade como ela é: um mundo onde não existem vítimas nem estadistas, onde quem está calado pode produzir um barulho ainda mais ensurdecedor do que aqueles que não conseguem ficar em silêncio. Mas uma grande parte, cada vez em maior número, tem um discurso exatamente igual ao do mais fanático dos adeptos benfiquistas.

Esta semana deu a conhecer um novo comentador pertencente a este último grupo. Na terça-feira passada, este comentador participou num programa do tipo fórum da Sport TV+ que, nesse dia, se debruçou sobre a troca de galhardetes entre Bruno de Carvalho e Vieira. No início do programa, o pivot pediu-lhe a sua leitura sobre a guerrilha de palavras entre os dois presidentes. O comentador não perdeu tempo a mostrar ao que vinha. Senhoras e senhores, apresento-vos o novo comentador da Sport TV: José Sousa. 


Apesar de haver dois presidentes a dançar, José Sousa centra completamente a sua intervenção inicial em Bruno de Carvalho, fazendo, inclusivamente, a comparação indireta a Vale e Azevedo. Ou seja, não só coloca a responsabilidade total em Bruno de Carvalho, como acaba por subscrever o insulto de Vieira ao presidente do Sporting.

Sobre Luís Filipe Vieira, é isto que José Sousa teve a dizer:


Sem surpresa, José Sousa aprecia mais o estilo silencioso de Vieira e não esconde a revolta pelo facto de o Sporting ser sistematicamente o clube mais falado. Infelizmente, parece não ter-se apercebido de que, muitas vezes, o Sporting é o clube mais falado por causa dos ataques da máquina de propaganda benfiquista.

Continuemos com a análise de José Sousa aos acontecimentos mais recentes.


Portanto: José Sousa acredita que se os presidentes estivessem caladinhos e sossegadinhos, haveria menos situações de violência. Considerando que José Sousa disse antes que Vieira e Pinto da Costa costumam estar em silêncio, a conclusão lógica que se pode retirar é que a responsabilidade daquilo que se passou é, no que aos dirigentes diz respeito, de Bruno de Carvalho.

José Sousa conseguiu ir ainda mais longe e trazer para a discussão o facto de o Sporting pouco ter ganho nos últimos 30 anos, proporcionando-nos este belo momento de vergonha alheia.


Depois do diagnóstico, eis a solução de José Sousa para resolver este problema:


25 de abril, sempre! Simples, não é? Pena que José Sousa não diga como resolver o barulho feito pelos recadeiros&cartilheiros que são usados como caixa de ressonância dos dirigentes que se mantêm silenciosos. Lá está: provavelmente ainda não reparou que eles existem.

Acredito que a opinião de José Sousa encontre um apoio avassalador nos benfiquistas mais fanáticos. Perante isto, pergunto-me: o que será que viu a Sport TV neste indivíduo para o convidarem a integrar a sua equipa de comentadores? Não será certamente pela isenção com que aborda assuntos de política da bola. Será pelo conhecimento dos dossiers? Vamos ouvir o que José Sousa teve a dizer sobre a questão da legalização das claques:


Carlos Janela não conseguiria fugir melhor à questão. Legalização? Para quê? Afinal, sempre existiram claques, isso não influencia nada.

É notável a semelhança entre o discurso de José Sousa e o dos cartilheiros. Só lhe faltou mesmo perguntar o que estavam os adeptos do Sporting a fazer nas imediações do Estádio da Luz às 3 da manhã...


Nem sequer percebeu as dicas do colega, em como, de facto, o encontro entre as duas claques foi premeditado... por ambos os lados. 

Mas o melhor momento de José Sousa neste programa foi a comparação que lhe veio à cabeça enquanto falava de Bruno de Carvalho. Adivinham quem foi a personalidade que José Sousa usou para comparar o presidente do Sporting? Vamos fazer um jogo: pensem em três hipóteses antes de verem o próximo vídeo. Uma pista: não foi Vale e Azevedo nem o Querido Líder da Coreia do Norte.


"Interessante", não é? "Não estou a dizer que Bruno de Carvalho é fulano", diz Sousa, mas lamenta-se pelos pobres sportinguistas que não conseguem topar a manipulação de que são alvo por parte do seu líder, o que os poderá levar a ter atitudes "grotescas" e "animalescas".

José Sousa teme pelo futuro, pelas repercussões graves que isto poderá trazer. O assassinato de sábado passado não é suficientemente grave? É que convém lembrar que os dois assassinatos de adeptos que já se registaram no futebol português não foram cometidos por sportinguistas...


A carreira de José Sousa

A pergunta que coloco é: José Sousa não tem tento na língua, mostrou-se completamente parcial, não está informado nem percebe determinados dossiers, e, como se pode constatar por estes vídeos, é um comunicador fraco. Só se perceber muito de bola, mas olhando para o seu currículo de treinador (Vilafranquense e sub-19 do Belenenses), não é a escolha mais óbvia.

Como é que alguém se terá lembrado de o contratar? Vá-se lá saber...

Para quem não se lembra, José Sousa é um antigo lateral direito formado no Benfica que chegou a ser internacional nos escalões jovens. Chegou à equipa principal do Benfica, onde esteve duas épocas: 1997/98 e 1998/99. No entanto, no verão de 1999, foi dispensado por Jupp Heynckes.


Sousa rescindiu com o Benfica e, sendo jogador livre, optou por rumar ao Alverca, clube onde tinha feito a sua primeira época de sénior. Alverca que, em 1999, tinha como presidente... Luís Filipe Vieira. Outra curiosidade é que, nesse mesmo defeso, houve um outro jogador do Benfica que o acompanhou nesse percurso: Sergei Ovchinnikov.

Sousa e o guarda-redes russo fizeram, portanto, a época de 1998/99 no Benfica e a de 1999/00 no Alverca. Curiosamente, o seu destino continuou ligado na época seguinte: ambos os jogadores foram transferidos do Alverca para o Porto (um percurso que, na altura, era muito frequente, nos dois sentidos, graças às excelentes ligações entre o presidente do Alverca e Pinto da Costa - Deco e Ricardo Carvalho são dois dos mais notáveis exemplos).


Curioso, também, que, apesar de Sousa ter ido para o Alverca como um jogador livre, parte do seu passe era pertença de... Luís Filipe Vieira. Ainda mais curioso é o facto de o Porto ter contratado Sousa sem ter qualquer intenção de o integrar no seu plantel. Se os protagonistas fossem outros, haveria quem pudesse insinuar que poderia ser uma forma de dar dinheiro a ganhar aos detentores do seu passe por outros bons serviços prestados. Mas como falamos de presidentes que primam pelo silêncio, é óbvio que uma marosca dessas está completamente fora de questão.

Ovchinnikov e Sousa lá rumaram então para o Porto. O guarda-redes foi titular durante uma época, acabando por regressar à Rússia na época seguinte. Quanto a Sousa, como se esperava, foi emprestado de imediato. No primeiro ano de contrato foi para Braga...


... e, nas épocas restantes de contrato, foi cedido ao Farense e Belenenses...


... nunca tendo chegado a vestir a camisola do Porto em jogos oficiais.

De qualquer forma, se for um homem grato a quem o ajuda, Sousa bem que pode agradecer a Vieira por 7 anos da sua carreira, seja por via direta (os 2 anos que esteve no Alverca) ou indireta (o contrato de 5 anos com o Porto).

Como tal, é mais do que justo que o agora comentador veja o seu ex-presidente como um homem bom. Bruno de Carvalho tem de comer muita sopinha (ou dar a comer) até chegar aos seus pés.