sexta-feira, 7 de abril de 2017

A mentira teve perna curta

As reações à divulgação do briefing de Carlos Janela para os elementos da propaganda benfiquista continuam a suceder-se. Já várias pessoas confirmaram a autenticidade dos documentos, numa espécie de fuga para a frente que demonstra que, naquele clube, as narrativas vão sendo adaptadas à medida das circunstâncias.

Uma dessas pessoas foi Rui Gomes da Silva, representante do Benfica no Dia Seguinte. Em declarações feitas ontem à SIC Notícias, o ex-VP do clube não só confirmou a veracidade do documento e Carlos Janela como seu autor, como disse ainda que recebe "20 a 30 documentos todas as semanas". Rui Gomes da Silva alinhou também pelas palavras que outros comentadores - alguns assumidamente benfiquistas, outros supostamente "isentos", como Ribeiro Cristóvão -, dizendo que isto apenas é uma prova de competência por parte da estrutura de comunicação do Benfica.

Aqui ficam as palavras de Gomes da Silva:


Não espanta que Rui Gomes da Silva considere os documentos "muito bem feitos". É natural que um dos maiores promotores do ódio aos adversários que existe no futebol português veja qualidades na linguagem e narrativas que Carlos Janela compilou para os paineleiros e comentadores (e, muito provavelmente, jornalistas) com ligações à máquina de propaganda benfiquista.

A questão de vermos os representantes benfiquistas a assumir a estratégia e a defendê-la com unhas e dentes é interessante. É que, ainda nem há uma semana, o mesmo Rui Gomes da Silva foi entrevistado pela revista Visão no âmbito de um artigo sobre os comentadores dos três grandes, e disse o seguinte:


Gomes da Silva disse que se prepara nas redes sociais, vendo resumos e jornais. O resto é de memória. Memória fraca, pois esqueceu-se de mencionar os 20 a 30 documentos que recebe por semana. Neste caso, a mentira teve perna curta (pun intended).

Mas Rui Gomes da Silva não foi o único a mentir sobre (ou omitir, como preferirem) este assunto. Veja-se o que disse João Gobern como se prepara, na mesma entrevista:


Mais um que se esqueceu dos briefings. Se é sinal de competência, por que não os reconheciam?

Há que dizer, no entanto, que os comentadores não estão mais do que a seguir o exemplo que vem de cima. É que a direção de comunicação do Benfica também se pronunciou sobre o assunto há cerca de seis meses, quando havia quem colasse as opiniões dos comentadores afetos ao Benfica à posição do clube:


A existência de briefings, por si só, não é muito relevante. É fácil perceber, no entanto, por que motivo os comentadores e dirigentes benfiquistas sempre os negaram categoricamente até há dois dias: o facto de haver coordenação superior reduz a imagem de independência dos comentadores assumidamente benfiquistas, transformando-os em meros papagaios (com o óbvio impacto que isso tem na sua credibilidade), e destrói por completo a reputação dos comentadores que tentam passar-se por isentos. E deixa outra pergunta no ar, já com outro nível de importância: quantos jornalistas receberão os briefings e os usarão no seu trabalho?

Outra coisa é a existência de briefings com este palavreado, incendiário e de incitamento ao ódio. Isso, sim, é obrigatório que seja analisado pelas autoridades desportivas competentes. Deita também por terra algum do discurso oficial do Benfica, nomeadamente o do seu presidente. Fica claro que todos os apelos ao equilíbrio e apaziguamento que Vieira fez no passado - que, verdade seja dita, só convenciam os adeptos mais fanáticos e alguns jornalistas tradicionalmente muito apreciadores do presidente benfiquista - são um dos maiores atos de hipocrisia da história do futebol português.