segunda-feira, 3 de abril de 2017

Para quando a desclassificação do Canelas 2010?

A incapacidade em lidar com os escândalos sucessivos que ocorrem nos jogos do Canelas 2010 é paradigmático da falta de vergonha que existe em quem manda no futebol português. Não estamos a falar de um caso isolado. Não é aceitável que qualquer dirigente se revele surpreendido com a bárbara agressão de um jogador do Canelas ao árbitro, porque todos aqueles que têm acompanhado a sucessão de acontecimentos envolvendo este clube sabiam que era uma questão de tempo para acontecerem novos casos de violência.

Aquilo que aconteceu ontem não é mais do que uma consequência lógica dos meses e meses de impunidade de que esta equipa tem beneficiado. A intimidação e agressões a jogadores e adeptos adversários entraram num esquema quase rotineiro, e isso levou à decisão da maior parte dos clubes em não comparecer aos jogos com o Canelas. Uma atitude sábia, a partir do momento em que as autoridades desportivas não parecem muito interessadas em proteger a integridade física de todos os intervenientes.

O episódio que aconteceu ontem é chocante. Não há nenhuma atenuante que possa justificar o comportamento do jogador. Ainda o jogo mal tinha começado, e já estava a agredir um adversário. O árbitro cometeu o sacrilégio de o expulsar, e levou tratamento semelhante - o que demonstra bem como esta malta está formatada para cometer atos de violência.


Há quem diga que é circunstancial o facto de haver elementos dos Super Dragões nesta equipa, e que, como tal, isso não deveria ser relevado, mas a verdade é que é aí que está o cerne da questão. A promiscuidade entre Lourenço Pinto, presidente da AF Porto e o FC Porto é conhecida e tem décadas, nas quais se incluem os anos negros em que o dirigente liderou o Conselho de Arbitragem da FPF. E toda a gente sabe que a promiscuidade entre os líderes dos Super Dragões e o FC Porto vai muito além daquilo que deve ser o relacionamento entre uma claque e um clube. Aliás, o protecionismo de que beneficiam estende-se muito para além das atividades praticadas no âmbito do futebol.



O Canelas já anunciou, através do seu presidente, que o jogador não mais voltará a representar o clube. No entanto, a FPF e a AFP têm, obviamente, de tomar medidas disciplinares exemplares contra o próprio Canelas. Obviamente que essas medidas estarão sempre dependentes daquilo que os regulamentos prevejam para estas situações, mas tudo o que não seja a desclassificação imediata da competição será pena insuficiente. Se assim não for, com que espírito entrarão o adversário e a equipa de arbitragem na próxima jornada? Lourenço Pinto até pode dizer que irá assistir à partida para assegurar que nenhum episódio idêntico sucederá (como já fez no passado), mas e então como será no jogo seguinte? E nos outros que se seguirão?

O interesse de Lourenço Pinto no assunto não poderia ser menor. Basta ver como falou sobre o tema Canelas há apenas mês e meio, num debate sobre o futebol distrital:


"Um não-caso neste momento". "daí que tenhamos de falar em [outras, que não a do Canelas] situações que tenham interesse para o futebol distrital.". "está a seguir o seu caminho normal, um ritualismo puro, um dinamismo processual respeitável, e que nós temos que aceitar com tranquilidade". Bela imitação do Diácono Remédios.

Os dirigentes da FPF e AFP nada fizeram em relação às agressões entre adeptos nas bancadas. Também nada fizeram em relação às agressões dentro de campo, apesar dos repetidos apelos dos restantes clubes. Agora, foi um árbitro agredido. Continuem a enfiar a cabeça debaixo da areia na esperança de que isto passe...

P.S.: Vamos também ver se se seguirão mais operações de limpeza de imagem como esta, realizada há apenas alguns meses...