sexta-feira, 19 de maio de 2017

A demissão de Vicente Moura

Algo surpreendentemente, Vicente Moura demitiu-se ontem do cargo de vice-presidente do Sporting.


A demissão


Não é uma saída que me deixe apreensivo, do ponto de vista das competências que colocava à disposição do clube. Tenho uma fraca opinião sobre Vicente Moura, que já vem do tempo em que era presidente do Comité Olímpico Português. No Sporting era o responsável pelas modalidades, mas tenho sérias dúvidas de que tivesse algum poder efetivo em secções como as do futsal, andebol ou hóquei em patins. O ex-vice aparecia, sobretudo, em ocasiões cerimoniais, como, por exemplo, receber troféus das modalidades nos intervalos dos jogos. Na única ocasião em que pareceu ter um papel executivo, protagonizou um dos mais embaraçosos momentos do mandato anterior: a rábula do acordo assinado-que-deixou-de-o-ser com a W52 para a formação da equipa de ciclismo.

Não compreendi por que razão Bruno de Carvalho decidiu manter Vicente Moura na lista para o segundo mandato. Percebo que, em 2013, o presidente (então candidato) tivesse sentido a necessidade de incluir na sua lista alguns nomes conhecidos do grande público, mas devia ter aproveitado para reformular a sua equipa em março passado. Infelizmente desperdiçou a oportunidade, abre-se agora uma oportunidade parcial para o fazer.


O motivo da saída

Vicente Moura explicou a decisão por ter "uma visão diferente do presidente", sugerindo que as "visões antagónicas" estejam relacionadas com as recentes críticas de Bruno de Carvalho à equipa futsal. Estou de acordo com Vicente Moura em relação à pouca oportunidade das críticas, mas acho estranho que só ao fim de 4 anos e picos se tenha apercebido desta faceta da personalidade do presidente. A mim, que acompanho as coisas de fora, parece-me que, simplesmente, Vicente Moura não soube lidar com as críticas. Sentindo-se colocado em causa, a demissão seria sempre uma decisão respeitável. Infelizmente, a forma que Vicente Moura escolheu para abandonar o clube foi desprezível.


O fascínio pelos microfones

Nem uma hora tinha passado após a notícia ter sido conhecida, e Vicente Moura já estava a prestar declarações à RR. Declarações polémicas, que, enquanto associado, considero lamentáveis. Se Vicente Moura se preocupasse minimamente com os interesses do clube - que passa atualmente por uma fase muito conturbada -, teria aguardado algum tempo até apresentar publicamente a sua versão. Não tinha necessidade urgente disso, pois Marta Soares acabara de escrever um comunicado que salvaguardava a face do vice demissionário. Teria ficado bem a Vicente Moura não procurar os microfones de imediato, mas ao fazê-lo, da forma que o fez, prejudicou o clube e colocou Marta Soares em cheque.

Tendo sido este o caminho escolhido por Vicente Moura, apenas desejo que, no futuro, se abstenha de comentar publicamente a vida do clube.


A ação do presidente

Já critiquei o último post de Bruno de Carvalho, mas não vejo naquilo que escreveu motivo suficiente para provocar a demissão de Vicente Moura. É muito provável que tenham existido outras críticas em privado, mas o presidente tem legitimidade para as fazer - se tem razão ou não nessas críticas, é outra questão. 

De qualquer forma, é mais um incidente que torna ainda mais difícil de suportar este período que o clube está a passar. Espero que os responsáveis do clube - começando pelo presidente - percebam que é fundamental tentar manter a cabeça fria nesta fase. Não só porque a vida do Sporting não pára e é necessário preparar a nova época de forma fria e racional, mas também porque atirar mais gasolina para uma fogueira de labaredas altíssimas dificilmente ajudará o universo sportinguista a unir-se em torno de quem gere os destinos do clube.