quarta-feira, 10 de maio de 2017

O futuro de Jesus


Olhando em retrospetiva para o que foram as principais notícias do dia de ontem, creio que todos já perceberam que está aberta a época de discussão do futuro de Jorge Jesus. O tema fez o pleno nos desportivos e tabloides, havendo, no entanto, versões para todos os gostos. 

O Record fala na existência de sintonia entre Bruno de Carvalho e treinador em relação aos principais vetores de abordagem à nova época. A Bola e O Jogo falam num atual estado de indefinição que não se resolverá antes da realização de uma reunião entre ambos, a decorrer algures durante esta semana, estando todos os cenários em equação - com o pormenor de que Jorge Jesus aceitará sair sem fazer grandes exigências. O Correio da Manhã, ao seu melhor estilo, já está a fazer o velório ao treinador, dizendo que Jorge Mendes está a trabalhar numa colocação para Jesus - no entanto, ao contrário da versão anterior, este não aceitará sair perdendo dinheiro na troca. E, finalmente, temos Rui Santos, figura com acesso privilegiado a Jorge Jesus, a dizer que estamos no fim de ciclo do treinador no Sporting.

Na verdade, estranho seria que se chegasse a maio sem que começassem os rumores sobre o futuro de Jorge Jesus. Já é um clássico do futebol português. Foi uma constante enquanto esteve no Benfica, e aconteceu também no final da época passada: relembro os rumores que davam uma muito possível rescisão do treinador para rumar até ao Porto. Bruno de Carvalho terminou com as especulações renovando o contrato a Jesus com um aumento do salário.

Neste momento, JJ tem mais dois anos de contrato. Não tem cláusula de rescisão, pelo que a parte que decidir quebrar o vínculo terá que indemnizar a outra pelo valor remanescente do contrato. Ou seja, ganhando Jesus 6 milhões ao ano (há quem diga que recebe 8), estamos a falar de cerca de 12 milhões de euros que poderão ser exigidos a quem decidir avançar para a rescisão unilateral.

Apesar do fracasso da época em curso, continuo a achar que Jorge Jesus é o melhor treinador que o Sporting pode ter. Obviamente que, ao fazer esta afirmação, refiro-me a um Jorge Jesus liberto de preconceitos e teimosias injustificadas em relação aos jogadores com quem quer trabalhar, compreendendo a identidade do Sporting e as suas limitações orçamentais.

A época passada foi fenomenal. Jorge Jesus exponenciou o rendimento de jogadores como João Mário, Adrien e Slimani, lançou Gelson, Matheus e Rúben Semedo, recuperou Coates e Bryan Ruiz para um patamar que há muito não atingiam, e pôs a equipa a praticar o melhor futebol desde os tempos de Balakov, Figo e Sousa. O Sporting só não foi campeão porque a liga portuguesa foi uma farsa. Definitivamente não foi por Jorge Jesus que não fomos campeões na época passada. E o clube conseguiu realizar as duas maiores vendas da sua história.

Ou seja, como balanço, temos um ano muito bom e um ano muito mau. Na minha opinião, Jesus tem condições para continuar se, obviamente, estiver comprometido com o projeto do Sporting e se aceitar que tem de partilhar o poder com uma estrutura profissional que complemente as suas competências técnicas, nomeadamente ao nível do dossier das contratações. Por outro lado, se Bruno de Carvalho quiser puxar essa responsabilidade para si, tem obrigatoriamente de se rodear muito melhor: convém não esquecer que o sucesso médio das contratações pré-Jorge Jesus foi bastante reduzido.

O que peço neste momento é que os dois se entendam rapidamente em relação ao que precisa de ser feito, que tomem medidas que fortaleçam as competências necessárias nas várias áreas do futebol profissional (com a óbvia exceção do excelente departamento médico que temos) e que ponham mãos à obra, de forma a chegarmos ao princípio de julho com a casa e o plantel tão arrumado quanto possível.