quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Contragolpefest

Pode dizer-se que o jogo de ontem foi o inverso da partida da primeira mão: depois de, em Lisboa, termos assistido a 90 minutos maioritariamente apáticos, sensaborões, e de sentido único, em Bucareste dificilmente se poderia desejar melhor entrada - com um golo que escancarou as portas da qualificação -, mas em que o panorama se acabou por complicar após uma oferta da nossa defesa. Início de segundo tempo de nervos, com o Sporting a ser incapaz de assentar jogo perante um Steaua que tinha mais bola e corria mais riscos, mas a ousadia acabaria por sair cara aos romenos - dando espaço que o Sporting soube aproveitar com uma eficácia inédita em lances de contra-ataque.

O 5-1, no conjunto das duas mãos, espelha a diferença teórica que pensava existir entre as duas equipas antes do pontapé de saída em Lisboa... mas o caminho até lá chegar foi muito mais tortuoso do que inicialmente imaginava.





Contragolpefest - considerando a pobreza franciscana que tem sido o aproveitamento de lances de contra-ataque ao longo das últimas épocas, bem pode dizer-se que o sportinguista tirou a barriga da miséria nos últimos dias. Só ontem, em Bucareste, foram quatro golos em contra-ataque. Ajuda muito, como é óbvio, ter jogadores que sabem o que fazer à bola nestes momentos: Bruno Fernandes acima dos outros neste departamento, claro, mas há que dizer que Gelson também esteve muito, muito bem. Valeu uma qualificação para a Liga dos Campeões e os respetivos (ver ponto seguinte)...

Dezasseis milhões + variáveis - 2 milhões pelo apuramento no playoff, mais 12,7 milhões de participação na fase de grupos, mais 1 ou 2 milhões (ou algures no meio) do marketpool dos direitos televisivos + bilheteira adicional dos 3 jogos em Alvalade + prémio dos pontos conquistados na fase de grupos. E ainda há a potencial valorização na maior montra do futebol europeu. Do ponto de vista financeiro, o mundo não acabaria se falhássemos a qualificação... mas que dá muito jeito esta importante almofada, lá isso dá.

O roubo do ano - considerando o historial recente do Sporting com arbitragens polémicas em jogos cruciais na Liga dos Campeões, roubo do ano poderia bem ser uma referência a mais uma triste ocorrência dessa natureza... mas não, felizmente, desta vez, roubo do ano tem um significado completamente diferente. Refiro-me a Bruno Fernandes. Como é possível que o Sporting o tenha conseguido contratar por 8,5 milhões + 0,5 milhões em variáveis? Ou melhor: como é possível que alguém o tenha vendido por uma verba dessas? Depois das bombas de Guimarães, teve outro jogo memorável: não fez o gosto ao pé, mas esteve envolvido diretamente nos quatro golos marcados na segunda parte (assistências para Acuña e Gelson + passe para assistência de Gelson + passe para Coentrão no lance do 5º golo). Não que tivesse grandes dúvidas de que temos ali um craque, simplesmente não esperava que se afirmasse de forma tão clara ao fim de tão pouco tempo.

Os números de Acuña - ontem não fez uma exibição espetacular, mas foi fundamental com a assistência e golo nos dois primeiros tentos da equipa. Os números que tem acumulado são fantásticos: em cinco jogos oficiais, já leva um golo e três assistências.

A importância de se ter dois pontas-de-lança a sério - Doumbia foi a única mexida no onze em relação a Guimarães. Fazia sentido, perante a necessidade de o Steaua correr riscos e deixar mais espaços nas costas da sua linha defensiva. O costamarfinense não teve um jogo particularmente inspirado, mas soube aproveitar a primeira oportunidade que teve para colocar o Sporting em boa posição. Dost entraria depois... e foi Dost.

Coentrão a reencontrar os pulmões - ver Coentrão a passo aos 70' foi das coisas que mais me deixou apreensivo no jogo da primeira mão. Entretanto foi titular em Guimarães, onde fez um bom jogo (tendo sido substituído a poucos minutos do fim) e voltou ontem a fazer um bom jogo. Mas desta vez, não só durou os 90 minutos, como ainda encontrou energia para aparecer na área adversária em sprint e arranjar discernimento para arranjar espaço perante o defesa para meter a bola no sítio certo. Esse lance daria o quinto e último golo do Sporting, e também alimenta a esperança de que Coentrão se possa conseguir reencontrar com a sua melhor versão.



Demasiado sofrido para o adversário que é - 180 minutos a ver o Steaua dá para perceber as enormes lacunas técnicas da equipa em geral. Seria uma humilhação sermos afastados por uma equipa deste nível, e seria um agoniante complemento a essa humilhação vermos os romenos na fase de grupos da Champions a serem violados semana sim, semana não, pelas felizardas equipas que os apanhassem no sorteio. Aos 150' da eliminatória, estávamos a um mero deslize de sermos despachados para a fase de grupos da Liga Europa. O essencial é que nos qualificámos, mas devia ter ocorrido de uma forma mais tranquila.

Os centrais no golo do Steaua - dois homens que têm sido sinónimos de segurança e eficiência, Coates e Mathieu, comprometeram no golo do Steaua, lançando a incerteza no desfecho da eliminatória. Felizmente, sem consequências.




Mais logo teremos sorteio. O Sporting está colocado no pote 4, o que significa que nada de bom poderá vir daquilo que as bolinhas nos reservam. Mas o importante é lá estarmos, não só pelo prémio financeiro, mas também para podermos inverter as más prestações europeias das últimas épocas.