quinta-feira, 17 de agosto de 2017

M*rdas que só mesmo connosco, nº 13: O erro faz parte do futebol

"O futebol é um jogo de erro. E um erro é possível. E o erro serve de discussão para semanas, meses e anos." - Ribeiro Cristóvão, 22 de julho de 2017, criticando o VAR após a (correta) anulação do golo de Rony Lopes no Sporting - Monaco

Um dos argumentos mais fascinantes que os detratores do VAR utilizam é o de que o erro faz parte do futebol. A constatação é digna de La Palice: se errar é humano e se o futebol é interpretado por seres humanos, então é inevitável que existam erros no futebol.

No entanto, também faz parte da natureza humana tentar reduzir o erro, quer em quantidade, quer no impacto que têm. Os seres humanos aprendem com a experiência e procuram aperfeiçoar técnicas, metodologias e sistemas que reduzam as probabilidades de voltarem a cometer os mesmos erros. É por aí que deve ser visto a implementação do VAR: é um sistema que não vai acabar com o erro e com a polémica, nem tem pretensões de acabar com o erro e com a polémica, mas que quer (e vai) reduzir a ocorrência de erros grosseiros no futebol.

Dizer que o futebol é um jogo de erro é a desculpa mais preguiçosa que existe. Se o futebol é um jogo de erro, por que razão as equipas treinam todos os dias? Por que razão procuram os melhores jogadores que os seus orçamentos permitem? Por que razão montam estruturas que potenciem o rendimento dos seus profissionais? 

Mas uma coisa são os erros de jogadores e treinadores, no confronto direto contra outros jogadores e treinadores - a melhor equipa também se define pela capacidade de evitar erros e de forçar o adversário a cometer erros. Outra coisa são os erros dos árbitros, que, supostamente, devem ser elementos neutros na equação do jogo.

Numa altura em que a tecnologia nos deixou perceber que o erro dos árbitros é muito mais frequente e muito mais impactante do que se desejaria, é normal que se tire proveito dessa tecnologia para ajudar os juízes a tomarem melhores decisões.

Isto tudo vem a propósito da frase de Ribeiro Cristóvão, que me fez lembrar, numa interpretação mais literal, que nem sempre o futebol é um jogo de erro, no singular: às vezes é um jogo de dois erros, de três erros, ou até de quatro erros... na mesma jogada.

Na jornada inaugural da época 2015/16, o Sporting defrontou o Tondela em Aveiro, casa emprestada da equipa recém-promovida à I Liga. Numa altura em que vencia por 1-0, o Tondela empatou numa jogada em que foram cometidos não um, não dois, não três, mas quatro (!) erros de arbitragem:



Os quatro erros cometidos pela equipa de Carlos Xistra foram:

1. O livre surge de uma falta não existente

2. No momento em que Bruno Nascimento desvia a bola, Luís Alberto (o marcador do golo) está em posição irregular (como se pode ver na imagem ao lado)

3. Luís Alberto ajeita a bola com o braço

4. Antes de a bola cruzar a linha, Luís Alberto dá um segundo toque na bola com o braço

De todas as coisas estranhas que têm acontecido ao clube, esta é daquelas que mais facilmente se digerem: o Sporting conseguiria vencer o jogo nos descontos. Mas esteve muito, muito perto de perder dois pontos por causa de um lance aberrante que, com o recurso à tecnologia, seria anulado com enorme rapidez.

O erro faz parte do futebol, sim. E às vezes dá muito jeito... para alguns.