quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A Taça em Oleiros

Todo o processo de arrumação de jogos dos grandes na eliminatória da Taça de Portugal que hoje principia e a forma como foi sendo relatado na comunicação social tem sido um magnífico exemplo de como a comunicação social aborda temas iguais de maneiras diferentes, em função do clube que o protagoniza.

Conforme manda o regulamento - que obriga a que as equipas da I Liga joguem fora na terceira eliminatória - o sorteio ditou que Sporting, Porto e Benfica se deslocassem a terrenos de equipas do Campeonato de Portugal ou dos distritais. É compreensível que, tratando-se de equipas que terão recintos abaixo da qualidade desejável, que os grandes tentem arranjar forma de mudar para um campo neutro com melhores condições - com o bónus de, ao afastarem o visitado da sua base, acabarem por jogar perante uma maior percentagem de adeptos seus. Claro que isso desvirtua o propósito de levar a Taça a povoações que normalmente não têm contacto direto com equipas deste nível, mas as coisas são como são.

Acredito, por isso, que o Sporting tenha tentado fazer pressão (não necessariamente no mau sentido) para mudar o local do encontro de Oleiros para Coimbra. Agora, não acredito que alguma vez tenha havido, por parte dos responsáveis do clube, a intenção de levar os juniores para este jogo. Seria contraproducente em todos os sentidos possíveis: para além de o Sporting estar a correr riscos desnecessários numa competição que pretende conquistar, há também a questão de existirem vários elementos do plantel principal que estão a precisar de competição.


Parece-me, portanto, que foi apenas mais uma pazada de carvão oriunda de uma das férteis minas - no que ao Sporting diz respeito - que há por aí.


Apesar disso, claro que isto foi o suficiente para que se começasse a adivinhar uma superprodução na nossa imprensa à volta do assunto: o pobre clube do interior que sonhava com um jogo assim no seu estádio, a prestimosa autarquia que fez investimentos de monta para concretizar esse sonho, e o clube grande malvado que faz chantagem para ter a vida mais facilitada.

Felizmente, Bruno de Carvalho fez uma oportuna publicação no Facebook que matou, à nascença, a novela "Oleiros a ferro e fogo" que se começava a desenvolver. Já se adivinhavam os capítulos seguintes: magotes de jornalistas a deslocarem-se à simpática vila de Oleiros para auscultar o sentimento da população local perante a desfeita de que estariam a ser alvos, para além das habituais horas e horas de debate nos espaços do costume.

O engraçado é que, após todas as contas feitas... o Sporting é o único clube que vai jogar no terreno do adversário. O Lusitano de Évora receberá o Porto... em Lisboa e o Olhanense, que ainda na época passada estava nos campeonatos profissionais, irá receber o Benfica no Estádio do Algarve (uma pena que ninguém se tenha lembrado no estádio do Estoril, para a ironia ser suprema). Em relação ao estádio do Olhanense, segundo o que vi (admito que existam outras questões de que não me apercebi), o problema foi a qualidade do relvado. Quanto ao Lusitano, vi uma reportagem da RTP sobre o estádio do clube de Évora onde foi referido que, na origem do chumbo, esteve a ausência de condições de segurança para jogos de alto risco, como a inexistência de vedação a toda a volta do campo, cadeiras em toda a bancada principal, e falta de saídas de emergência. Fico curioso para ver se os critérios foram iguais para todos.

Mas isso são contas de outro rosário. O importante é que estão reunidas todas as condições para uma grande festa de futebol - que é, na realidade, aquilo que a Taça de Portugal devia ser sempre. Infelizmente, os interesses económicos acabam quase sempre por prevalecer, retirando uma boa parte do encanto desta competição. E vale ainda a pena referir que as iniciativas que o Sporting tem anunciado para este jogo prometem valorizar ainda mais uma tarde e uma noite que prometem ser memoráveis para aquela zona do país.