terça-feira, 24 de outubro de 2017

Clusterfuck à portuguesa

É estranho que as comunicações do VAR no Aves - Benfica do último domingo tenham falhado. Estamos em 2017, num país com uma excelente infraestrutura de comunicações. Milhares e milhares de negócios em todo o país organizam os seus processos confiando que o serviço das comunicações se mantém constantemente operacional. Claro que, muito ocasionalmente, podem existir falhas no serviço, mas é para isso que existem redundâncias. Há uma falha de um lado, comunica-se por outro. Normalmente só há problemas verdadeiramente sérios se se tratar de uma falha geral, mas aí o universo de pessoas e negócios afetados é bastante grande e impossível de passar despercebido.

Não consta que tenha sido esse o caso de domingo passado. A Sport TV fez a transmissão sem sobressaltos, os jornalistas fizeram a cobertura do jogo sem problemas, os espectadores presentes no estádio não ficaram sem rede no telemóvel. A conclusão que posso retirar, à falta de melhores informações, é que a falha atingiu apenas a comunicação do VAR com o árbitro de campo.

Mas isso não foi conhecido de imediato. O jogo prosseguiu sem que, aparentemente, alguma das equipas fosse informada do sucedido. Azar dos azares, poucos minutos após o Aves ter marcado um golo, aconteceu um caso polémico que o recurso ao VAR resolveria sem problemas - assumindo que o responsável do VAR seria uma pessoa competente e bem intencionada. Mas não havendo VAR, prevaleceu o erro, que acabou com as dúvidas de quem seria vencedor.

A primeira versão que começou a correr foi a de que o VAR, em caso de penálti, não tinha que avaliar a jogada desde o início. Falso. Seria interessante perceber de onde partiu esta teoria, porque chegou a um enorme número de pessoas. Quando a corrente de opinião começou a mudar esta ideia, surgiu o esclarecimento da conta de Twitter da FPF dedicada ao projeto de videoárbitro - dando a informação de que, afinal, deixou de haver VAR a partir do minuto 66. 

Entretanto soube-se que nem árbitro nem delegados ao jogo referiram nos seus relatórios que deixou de haver VAR. Amnésia coletiva? Ninguém achou que seria relevante reportar esse facto? 

Mais de 24 horas passadas após o final do jogo, ainda não sabemos ao certo o que aconteceu. Começou também a circular a informação de que esta não terá sido a primeira vez que as comunicações do VAR falharam, o que levanta duas questões:

1. Se houve situações idênticas em jornadas anteriores, por que razão isso não foi divulgado publicamente pela FPF? Já agora, em que jogos isso sucedeu?

2. Se houve situações idênticas em jornadas anteriores, como é possível a FPF não ter arranjado uma solução de recurso para ser utilizada em caso de nova falha? Que raio, bastava um telemóvel entre o VAR e o 4º árbitro, que serviria de ponto com o árbitro principal.

Isto é o futebol português: inundado de gente amadora, que é incapaz de esclarecer aquilo que acontece nos bastidores de um jogo. Pelo contrário, em vez dos tais esclarecimentos oficiais, ficamos à mercê de informações cruzadas de origem duvidosa, que apenas contribui para aumentar a confusão de todos os interessados. Nada de surpreendente: a transparência não costuma ser uma prioridade por cá.