quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Groundhog Day

Mais um jogo contra um tubarão europeu, mais uma exibição personalizada... e mais uma derrota tangencial. Como qualquer filme com demasiadas reposições, até podemos achar algum interesse no enredo, mas às tantas começamos a ficar fartos de ver a mesma história vezes sem conta. Real Madrid por duas vezes, Dortmund por duas vezes, Barcelona, e agora Juventus: seis jogos contra tubarões, sexta derrota por um golo de diferença.





De olhos nos olhos contra o vice-campeão europeu - qualquer análise que se faça ao jogo não pode ignorar o facto de a Juventus ser o atual vice-campeão europeu e o plantel riquíssimo de que dispõe. A meio da segunda parte, descontente com o decurso do jogo, Allegri mete em campo Douglas Costa e Matuidi, o que é um bom indicador da diferença de recursos existente entre as duas equipas. Não se pode apontar nada à estratégia montada por Jesus, que teve a virtude de anular muitos dos pontos fortes de um adversário de top mundial. Infelizmente, voltou a faltar um bocadinho assim, à Danoninho, mas seria injusto ignorar tudo o que foi bem feito.

Bruno Fernandes - a estratégia montada por Jesus tem o problema de exigir muito dos jogadores de características ofensivas: Acuña, Gelson e Bruno Fernandes têm um papel importantíssimo no apoio defensivo, os laterais pouco sobem, o que significava que, no momento de construção, os portadores da bola tivessem sempre poucas opções para desenvolver lances ofensivos. Para piorar, ainda não foi desta que Acuña, Gelson e Dost subiram de rendimento em relação ao que tem sido norma nos últimos jogos. No meio de todos estes constrangimentos, Bruno Fernandes foi o único que foi conseguindo inventar alguma coisa com a bola nos pés. Bom jogo.

Concentração da linha defensiva - Piccini, Coates, Mathieu e Coentrão tiveram muito trabalho e, tirando um outro lapso, foram resolvendo bem todos os problemas colocados pela Juventus. De referir também que Patrício defendeu tudo o que tinha defesa, e que Battaglia fez um grande trabalho a secar Dybala.



Groundhog Day - esta mania recorrente de perder jogos contra os todo-poderosos do futebol europeu faz lembrar a maldição de Bill Murray no filme mencionado no início deste parágrafo. Cada vez que acordava, Murray era obrigado a reviver o mesmo dia - e foi assim que me senti no momento em que o Sporting sofreu no 2º golo. Sim, compreendo a dificuldade que adversários deste nível representam, compreendo que há mérito na forma como temos discutido os jogos... mas começa a cansar sair sempre derrotado. Analisando cada partida isoladamente, não podemos apontar grandes críticas à equipa, mas, olhando para o conjunto, é cada vez mais complicado ver um lado positivo em exibições que redundam constantemente em derrotas tangenciais.

Um problema nada lateral - durante o jogo, foram vários os cruzamentos da Juventus atirados para o segundo poste. Piccini e Coentrão, com maior ou menor dificuldade, foram resolvendo. Cedendo canto, ganhando a posição e deixando a bola seguir na direção da bandeirola de canto ou da linha de fundo, ou aliviando para fora da área. Saiu Coentrão, entrou Jonathan... e sofremos o segundo golo com um cruzamento para o segundo poste. O segundo golo sofrido na Grécia também foi sofrido com um cruzamento para o segundo poste, com o mesmo Jonathan. Mandzukic é mais alto? É. Mas bastaria a Jonathan antecipar o que iria acontecer e preparar-se para saltar na direção da bola em vez de ficar a aguardar com as pernas rígidas e os pés pregados ao chão - ou seja, aquilo que Piccini e Coentrão já mostraram saber fazer quando confrontados com situações de jogo idênticas. O rapaz faz o melhor que sabe, mas está mais que visto que aquilo que sabe não é suficiente para este nível.

Pormenores que custam pontos - seria injusto, no entanto, não referir a falta desnecessária de Battaglia que originou o livre que Pjanic converteria no primeiro golo italiano. O argentino fez um bom jogo, mas a equipa pagou caro por esta má abordagem.

As substituições - compreendo o que Jesus quis fazer, mas, infelizmente, a substituição de Gelson por Palhinha não surtiu o efeito que o treinador pretendia. A altura do jogo em que Jesus decide mudar a equipa coincide com a fase da partida em que se estava a conseguir manter a bola no meio-campo italiano como nunca tinha acontecido até então. Gelson estava a jogar mal, sem conseguir criar desequilíbrios, mas pelo menos estava a conseguir segurar a bola e fazê-la circular sob pressão - coisa que se perdeu após a sua saída. A Juventus voltou a empurrar o Sporting para junto da sua baliza, e o resto é história. Quanto à troca de Coentrão por Jonathan, conhecemos as limitações físicas do primeiro e as limitações técnico-táticas do segundo. Vamos ter de viver com isto até ao final da época, resta saber quantos pontos nos custará até lá.



Já passámos a fase das vitórias morais por dar luta a equipas deste nível, e está mais que na altura de dar o passo seguinte. De qualquer forma, é apenas a Champions. Muito mais importante é saber mudar o chip para o nosso campeonato, onde não há qualquer margem ou tolerância para perder pontos.