terça-feira, 14 de novembro de 2017

Dissecando a entrevista de Vieira, parte 4: Nuno Gaioso na linha de sucessão?

Os posts anteriores sobre a entrevista de Vieira limitam-se a apontar algumas mentiras e incoerências do presidente do Benfica, que têm o condão de passar sempre ao lado das análises da nossa atenta comunicação social, mas nada disso é particularmente relevante ou novo - tal como não é particularmente novo ou relevante o manancial de potenciais pérolas que poderão vir a ser relembradas num futuro mais ou menos próximo.

Uma das questões realmente interessantes que a entrevista abordou é a da sucessão de Vieira.

Acredito que Vieira, caso não tenha nenhum problema grave de saúde, não terá qualquer intenção de abandonar o cargo a curto ou médio prazo. Com as delicadas questões de índole particular das dívidas à banca e com o lastro de problemas (passados ou potencialmente futuros) com a lei, deixar de ser presidente do Benfica seria abdicar de um dos melhores escudos que este país tem para oferecer. Vale e Azevedo que o diga.

No entanto, Vieira nunca teve grandes problemas em falar da sua sucessão, e percebe-se porquê: é uma forma relativamente eficaz de não parecer demasiado agarrado ao lugar.

O episódio mais memorável nesta matéria aconteceu há cerca de 10 anos, quando Vieira anunciou, com toda a pompa e circunstância, que iria preparar Rui Costa para ser o seu sucessor:



Não foi preciso esperar muito para perceber que este anúncio de intenções não passava de uma forma de se aproveitar da popularidade do ainda então jogador - convém lembrar que Vieira, na altura, estava longe de ter a mesma segurança no cargo que tem atualmente. Rui Costa nunca teve perfil para ser um presidente à imagem de Vieira.

Na entrevista da semana passada, o presidente do Benfica voltou a abordar o tema:


As palavras finais de Vieira no vídeo acima são curiosas. Basicamente está a dizer que quem se quiser candidatar ao Benfica terá de pensar duas vezes porque os profissionais que ele colocou são insubstituíveis. Ou os meus, ou o caos. O desejo de dar continuidade à dinastia vieirista é clara, o que até é compreensível: nunca se sabe os problemas que poderiam aparecer caso uma pessoa não alinhada lhe sucedesse na direção do clube.

No período que antecedeu as últimas eleições, a imprensa avançava com dois candidatos a nº 2 de Vieira: José Eduardo Moniz e Nuno Gaioso. Acredito que a pessoa que Vieira tem em mente seja o último, porque a ligação com Moniz sempre pareceu uma espécie de casamento de conveniência.

Vieira e Gaioso na assinatura do protocolo com o Millonarios
Já a ligação a Nuno Gaioso, que é bastante mais jovem que Moniz, parece apresentar um potencial bem superior.  Para além de aparecer cada vez mais junto ao presidente e de estar a ganhar protagonismo nas AG's, é uma pessoa que vem do mundo da política e tem ainda um bónus nada negligenciável: é sócio do filho de Vieira na empresa Capital Criativo. Melhor que isto, do ponto de vista do atual presidente, é impossível.

Hoje, com os estatutos totalmente armadilhados, só um cataclismo impedirá que Vieira continue a ser eleito caso se apresente a votos - independentemente da oposição que lhe faça frente. E mesmo no caso de não se recandidatar, isto também se aplicará ao candidato que tiver a sua benção. É, por isso, bastante provável que Nuno Gaioso seja o próximo presidente do Benfica. Mais do que o desejo dos sócios, será o desejo de Vieira a determiná-lo. A principal dúvida que fica é quando é que isso acontecerá.