sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Argumentação em modo de autodestruição

Curiosamente ou talvez não, o discurso de Luís Aguilar sobre as revelações da revista Sábado na noite de quarta-feira encontram imensos pontos coincidentes com os argumentos que Rui Pedro Braz tinha apresentado umas horas antes na edição da tarde do Mais Tabaco.

Adicionalmente, Aguilar recuperou uma linha de argumentação benfiquista usada incessantemente na altura em que o assunto dos vouchers dominava a atualidade do futebol.

Refiro-me a dois casos em concreto:


"Ninguém se vai vender por uma refeição, por um jantar, por um almoço, seja pelo que for (...) não me parece que tenham necessidade de estar a venderem-se por causa de um almoço ou de um jantar"

OK, não têm necessidade de se venderem por uma refeição. Certo. Mas também não tinham necessidade de aceitarem e utilizarem o voucher. E no entanto, aceitaram-no e, em alguns casos, utilizaram-no.

Ricardo Salgado tinha necessidade de receber uma "prenda" de 14 milhões de José Guilherme, quando a sua fortuna pessoal estava avaliada na casa dos milhares de milhões de euros? Seguramente que não. Mas, no entanto, aceitou-os.

A argumentação de Aguilar é, obviamente, absurda. Está mais do que comprovado que a corrupção não assenta numa questão de necessidade. Há quem o faça porque fez disso um modo de vida, há quem o faça porque não é capaz de resistir a uns abonos que dão sempre jeito, há quem o faça porque gosta de demonstrar o poder que tem, há quem o faça por amor a uma causa. Terão todos os árbitros aceitado corromper-se por causa dos vouchers? Seguramente que não. Mas também ninguém pode garantir que nenhum árbitro se deixou corromper por causa dos vouchers.



"Não me parece que seja aqui grave que o Benfica tenha tido acesso a esta informação, acho realmente que Paulo Gonçalves daqui para a frente irá com certeza ter mais cuidado"

E assim, numa simples frase, toda a linha de argumentação de Luís Aguilar se autodestrói: se esta situação não é grave, se não tem nada de mal, então por que é que Paulo Gonçalves terá de ter mais cuidado daqui para a frente? Uma contradição na linha da decisão do Benfica em deixar de oferecer vouchers. Se não tinha nada de mal, por que razão deixaram de os oferecer?