quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Benfica e o negócio Lucas Hernandez: finalmente a prova das vendas em mendilhões

Repost, de alguma forma devo ter apagado o post original.

Foram hoje divulgados novos documentos que demonstram que os negócios feitos com o Atlético Madrid não têm, na realidade, o valor por que são divulgados. Para perceberem de forma clara aquilo que está aqui em causa, vou começar por apresentar os documentos pela sua ordem cronológica.


I. Agosto de 2015: O Benfica adquire uma opção de compra do jogador Lucas Hernandez por 2,5M; o valor da transferência fica estipulado à partida, ou seja, se essa opção for exercida, o Benfica terá de pagar 20 milhões pelo jogador ao Atlético Madrid.


O contrato estabelecido entre os dois clubes é muito claro: o valor que o Benfica paga pela opção, ou seja, os 2,5 milhões, é completamente independente da verba da transferência, ou seja, se o Benfica exercer a opção, terá de pagar 20 milhões para além dos tais 2,5 milhões da opção, levando os montantes totais da aquisição para 22,5 milhões. Mas há mais: no caso de o Benfica não exercer a opção de compra, não tem direito a reaver os 2,5 milhões.


O Benfica está a valorizar uma cláusula de opção de compra por uma verba bastante considerável, sem que tivesse quaisquer garantias de que alguma vez possa vir a tirar proveito dela - isto porque, em qualquer opção de compra, é necessário também que o jogador chegue a acordo com o clube. Se o jogador não tiver interesse em ir para o clube que tem a opção, então este contrato de opção é inútil - como bem demonstra uma das cláusulas deste mesmo acordo:



Como seria de esperar, a cláusula de opção acabou por não ser acionada. Expirou em maio de 2016.


O contrato encontra-se devidamente assinado pelas duas partes.



II. Setembro de 2015: O Atlético envia ao Benfica a fatura referente à opção de compra



III. Julho de 2016: O Atlético e o Benfica estabelecem um acordo de compensação de créditos

A 4 de julho de 2016, o Atlético devia ao Benfica uma verba de 13 milhões de euros. Num primeiro prazo, pagou 4,3 milhões ao Benfica, sobrando uma dívida de 8,7 milhões. O mais provável é que essa dívidas digam respeito a uma possível primeira prestação da venda de Gaitan (que se realizou por 25 milhões), mas também pode ser o saldo resultante de várias transações realizadas entre os dois clubes.


Portanto, este acordo estipula que o Atlético Madrid poderá abater os tais 2,5 milhões do contrato de opção de Lucas Hernandez da dívida de 8,7 milhões que tinha para com o Benfica...


... e ainda 1,5 milhões de outro contrato de opção idêntico que o Benfica teria adquirido no passado em relação ao jogador Borja Bastón (!)...


... aumentando o abate total da dívida para 4 milhões.

No caso de Borja Bastón, podemos já concluir que o Benfica jogou ao lixo 1,5 milhões, porque não acionou a cláusula de compra (ou não conseguiu chegar a acordo com o jogador) quando o atleta assinou pelo Swansea em agosto de 2016.


Escusado será dizer que os R&C do Benfica não fazem quaisquer referências à existência destes direitos de opção adquiridos ao Atlético Madrid.

Isto demonstra que as transferências realizadas entre Benfica e Atlético Madrid não correspondem aos valores reportados, pois vão sendo assinados, paralelamente, outros contratos que servem para abater a dívida entre os clubes, mesmo que esse contratos não dêem nenhuma contrapartida real. Quantos outros contratos deste tipo terão existido e que ainda não chegaram ao conhecimento público? 

Agora um exercício hipotético: peguemos no caso de Gaitán, a venda realizada uma semanas antes deste acordo de contas. O Benfica reportou a venda por 25 milhões, mas, na realidade, teve direito a receber apenas 21 milhões, pois aceitou comprar duas opções inúteis por 4 milhões. Junte-se a isso transferências por valores exagerados no sentido contrário, como foi o caso dos 22 milhões de Jimenez. Um dos objetivos possíveis destas negociatas é dar uma falsa imagem de prosperidade, empolando as receitas (que são registadas imediatamente, ao contrário dos custos, que podem ir sendo amortizados lentamente ao longo dos anos) e os lucros imediatos, que melhoram os rácios de que o CFO do Benfica tanto gosta de se gabar. E, claro, Jorge Mendes não se importará que os seus 10% de comissão correspondam a um valor superior.

Isto, meus amigos, são as vendas em mendilhões de que temos vindo a alertar de há muito tempo para cá.