sexta-feira, 31 de março de 2017

Acham que 113 dias de castigo é muito? Carlos Janela explica como é que devia ser.

Há quem se queixe de que os 113 dias de castigo a Bruno de Carvalho é excessivo? Carlos Janela explica como é que devia ser:



Num futebol em que há dirigentes em funções que foram apanhados a subornar árbitros, a exercer influência para escolher árbitros, que se associam a criminosos para intimidar terceiros, que tentam proteger claques ilegais, este cavalheiro acha que as palavras de Bruno de Carvalho já lhe deviam ter valido a irradiação do futebol. Faz sentido, faz...

P.S.: para vos poupar o tempo, trabalho e sanidade mental que poderiam perder caso sentissem curiosidade para saber do que se falou ontem na CMTV, aqui fica um resumo:


A falta de bom-senso do Conselho de Disciplina

Não foi preciso esperar muito para haver uma reação do Conselho de Disciplina à entrevista dada por Bruno de Carvalho à TVI. A meio da tarde de ontem, o órgão liderado por José Manuel Meirim instaurou um novo processo disciplinar ao presidente sportinguista, por incumprimento da sanção de suspensão.

De notar, curiosamente, que o comunicado que dá conta deste novo processo está disponível no site da FPF, ao contrário do acórdão que condenou Bruno de Carvalho a 113 dias de suspensão, que continua a não estar disponível para consulta do público em geral.

Bruno de Carvalho reagiu prontamente ao novo processo, através da sua página de Facebook:


Como não poderia deixar de ser, o Sporting tem de se insurgir contra este castigo abusivo e completamente desproporcionado. É um braço de ferro que vale a pena manter, pois, a meu ver, não me passa pela cabeça que o presidente do meu clube possa estar impedido de comunicar com os sócios durante 4 meses por causa das declarações que fez sobre Vítor Pereira que, quando muito, pecaram por serem escassas.

Bruno de Carvalho apontou a falta de bom-senso de Vítor Pereira, e com toda a razão. Foi mais que óbvia a falta de bom-senso que norteou muitas das decisões de Vítor Pereira enquanto foi presidente do CA. Faz algum sentido, por exemplo, que o Benfica tivesse uma percentagem de jogos dirigidos por árbitros internacionais muito inferior a Sporting e Porto? Alguém vê algum sentido na escolha de Marco Ferreira para a final da Taça de Portugal de 2014/15, poucas semanas depois de se ter consumado a sua despromoção? Que lógica existe na criação de vários internacionais-proveta, a quem foram atribuídas as insignias da FIFA antes de terem tido oportunidade de demonstrar a sua competência (ou falta dela) em jogos da I Liga?

Infelizmente, também este Conselho de Disciplina está a demonstrar uma falta de bom-senso preocupante. Relembro, por exemplo, as multas absurdas por causa de determinados cânticos das claques, que fazem a FPF parecer uma espécie de polícia de bons costumes do tempo da outra senhora. Esta política de mandar calar quem diz coisas desagradáveis - se são legítimas ou não, parece não interessar - acaba por encorajar a formação de estruturas de clubes que dizem as maiores barbaridades sobre os adversários através de colaboradores precários. Aparentemente, José Manuel Meirim vive bem com o insulto e a calúnia, desde que devidamente mascaradas. Viva a hipocrisia!

quinta-feira, 30 de março de 2017

Record ataca Nuno Saraiva (e Francisco J. Marques) usando Hugo Gil como fonte

Ontem, enquanto decorria a entrevista de Bruno de Carvalho à TVI, a CMTV debruçou-se longamente sobre um post do blogue Hugo Gil, no qual Nuno Saraiva e Francisco J. Marques - respetivamente diretores de comunicação de Sporting e Porto -, eram acusados de terem telefonado para um fórum da TSF usando identidades falsas para atacar o diretor de comunicação do Benfica.

Print screen do post do blogue Hugo Gil, captado a 30-Mar.

O teor deste post não surpreende, vindo de quem vem. É carvão, mas carvão do mau. A voz do primeiro participante que é associado a Saraiva é parecida, de facto, mas, não me parece que seja dele. A segunda voz associada a Saraiva... não tem absolutamente nada a ver, e até tem um ligeiro sotaque do norte (!):


De qualquer forma, o facto de ser ou não ser Saraiva e o facto de ser ou não ser Francisco J. Marques (que desmentiu no programa Universo Porto da Bancada ter telefonado para a TSF) até é secundário. 

Não me espanta que a CMTV tenha pegado nisto e tenha apresentado o post de Hugo Gil como um facto comprovado, sem qualquer tentativa de apuramento da verdade antes de avançarem por este caminho - apenas me custa ver o papel patético a que José Manuel Freitas se presta. 


De facto, vivemos num país do faz-de-conta. José Manuel Freitas foi um jornalista que em tempos prezei, e hoje em dia parece condenado a fazer o papel de palhaço de serviço para um canal que vive do sensacionalismo. Diz que Nuno Saraiva devia ter ligado para a TSF, identificando-se como diretor de comunicação do Sporting - mas, na realidade, não é nada que Nuno Saraiva não tenha feito às claras, como o que se passou há pouco mais de dois meses... na própria CMTV:


Cabe na cabeça de alguém que Saraiva teria problemas em telefonar para uma rádio séria como a TSF, quando já demonstrou não ter problemas em telefonar para uma esterqueira como a CMTV?

Mas até aqui, tudo normal, considerando os intervenientes. O que realmente me incomoda é ver o Record - um jornal que, a meu ver, ainda não desistiu completamente de querer ser levado a sério - também a dar cobertura a esta fantochada, quer no online, quer na edição em papel:


Por azar, só encontraram a fotografia de Nuno Saraiva

Foi também uma pena a CMTV, José Manuel Freitas e o Record não terem visto este comentário no blogue Hugo Gil:


Se uma é fonte suficientemente legítima, então por que não dar o mesmo nível de credibilidade a este comentário? O perfil de Facebook indicado como sendo o do participante no fórum parece ser real.

Basicamente, o que aconteceu foi isto: o Record pegou numa não-notícia, usando como pretexto uma reação da TSF, para difundir de forma detalhada toda a versão do blogue benfiquista mais conotado com a equipa de propaganda oficiosa do Benfica. Com que objetivo? Evidentemente que não é o de informar os seus leitores, pelo que seria interessante que esclarecessem o motivo que levou os responsáveis do jornal a decidir publicar este artigo. Para mim, é claro: um ataque aos diretores de comunicação de Sporting e Porto.

E que raio de critério jornalístico é este? Desde quando é que o blogue Hugo Gil, um espaço que não é propriamente conhecido pelo rigor (e pela inteligência, já agora) com que aborda os temas que escolhe, serve de fonte de informação para o Record? Querem ser levados a sério? Assim fica difícil.

A entrevista a Bruno de Carvalho

Critiquei, em setembro do ano passado, o formato escolhido pela TVI para entrevistar Luís Filipe Vieira. Ontem, a TVI replicou a fórmula para entrevistar Bruno de Carvalho. Dividida em duas partes, a entrevista começou com um punhado de perguntas que se centraram, sobretudo, na questão do castigo de Bruno Carvalho. A meio, foi interrompida por uma longa peça sobre a história pessoal do presidente do Sporting. Depois, prosseguiu na TVI24 com a presença de três sportinguistas a partilharem o papel de entrevistadores com José Alberto Carvalho: José de Pina, Dias Ferreira e José Eduardo.

Há uma diferença fundamental entre a entrevista de Bruno de Carvalho e Luís Filipe Vieira. É que enquanto o presidente benfiquista dá poucas entrevistas e raramente sai da sua zona de conforto, Bruno de Carvalho não pode ser acusado de défice de escrutínio: dá entrevistas frequentes a jornais, rádios e televisões - sejam do clube, independentes, ou abertamente hostis. E, considerando que a campanha eleitoral do Sporting decorreu até há menos de um mês, não havia muitos motivos de interesse para esta entrevista que não fosse a reação do presidente ao castigo que lhe foi imposto pelo Conselho de Disciplina.

Nesse tema, Bruno de Carvalho argumentou bem: demonstrou o absurdo que é a pena de 113 dias face ao que foi dito por si sobre o ex-presidente do CA, apontou algumas omissões estranhas do acórdão - nomeadamente a ausência de justificação de como o CD chegou àquele número de dias de castigo - e, o mais interessante de tudo, deixou a entender que está para muito breve o regresso de Vítor Pereira ao futebol - não especificando nem o futuro cargo nem o empregador.

No geral, não houve muito sumo para se tirar da entrevista, que foi demasiado longa para a quantidade de temas de interesse que havia para explorar. Foi escusada a insistência de José Alberto Carvalho - que não está suficientemente por dentro para fazer entrevistas sobre futebol - em explorar a promessa de Bruno de Carvalho em ser campeão pelo menos duas vezes neste mandato, e os comentários e perguntas dos três convidados sportinguistas não acrescentaram grande coisa ao programa - reconheça-se que a tarefa era difícil, porque, conforme escrevi mais atrás, não há muito que se possa perguntar ao presidente do Sporting menos de um mês após um processo eleitoral que foi bastante longo.

A entrevista a Luís Filipe Vieira em setembro foi uma oportunidade perdida. A entrevista a Bruno de Carvalho só não é uma oportunidade perdida porque não existiam grandes temas para explorar para além do castigo. Fica confirmado que o formato é completamente avesso a uma dinâmica interessante, pois acaba por ser uma extensão dos inúmeros programas de comentário que são transmitidos semanalmente. Não se aproveita o tempo do entrevistado para ir a assuntos efetivamente delicados, e desperdiça-se o tempo de quem está a vê-la. 

quarta-feira, 29 de março de 2017

França - Espanha: o exemplo da diferença que o vídeo-árbitro pode fazer


A FIFA testou ontem o sistema de vídeo-arbitragem no jogo entre a França e Espanha - encontro particular de preparação para o Mundial 2018. O teste não poderia ter decorrido de forma mais elucidativa, pois ficou bem demonstrada a importância que as novas tecnologias podem ter para a salvaguarda da verdade desportiva.

O primeiro momento crítico surgiu num golo marcado pela França no início da segunda parte. O árbitro e o fiscal-de-linha não encontraram nenhuma irregularidade no lance. No entanto, havendo dúvida, recorreram ao VAR, que, após a visualização das imagens, decidiu - e bem - anular o golo, pois havia fora-de-jogo do jogador que fez a assistência.


Meia-hora depois, numa altura em que já vencia por 1-0, a Espanha marcou um segundo golo que foi invalidado pelo fiscal-de-linha. O árbitro recorreu ao VAR para validar a decisão do seu auxiliar, mas as imagens comprovaram que o golo foi totalmente legal.


40 segundos depois, ou seja, muito menos do que o tempo médio que se perde para entrar uma equipa médica no relvado para assistir um jogador, o árbitro inverteu a decisão e o golo foi validado.

O estúdio de onde o árbitro responsável pelo VAR assistiu ao jogo
Dois casos que, sem o recurso ao VAR, teriam decisões erradas e que, muito provavelmente, desvirtuariam o resultado final. A França poderia ter-se visto indevidamente em vantagem no resultado e, posteriormente, teria ficado ainda com boas possibilidades de chegar ao empate caso o segundo golo da Espanha fosse anulado. Mas, felizmente, a verdade desportiva foi garantida - e sem a tal quebra de ritmo de jogo anormal que os céticos das novas tecnologias receavam.

Mas, felizmente, ainda há espaço para melhorias, pois estamos numa fase embrionária do uso desta tecnologia. Os 40 segundos que passaram entre o golo e a decisão final após a consulta ao VAR podem ser reduzidos significativamente, com a prática e melhor entrosamento entre todos os intervenientes. Em casos destes, de fora-de-jogo, em que o juízo é totalmente objetivo, parece-me bastante provável que os tempos de decisão sejam reduzidos para metade, pelo menos.

De qualquer forma, mesmo considerando o tempo que ambas as decisões demoraram (cerca de 50'' no primeiro lance e 40'' no segundo lance), há alguma dúvida de que o futebol ficou a ganhar apesar do minuto e meio de paragem que isso implicou? Um minuto e meio que, em Portugal, permitiriam poupar as horas e horas de discussões e polémicas estéreis que se seguiriam...

113 dias

Foto: Paulo Calado / Record
Bruno de Carvalho foi castigado pelo CD da FPF em 113 dias. Cento e treze dias. Uma centena, uma dezena e três unidades de conjuntos de 24 horas. O maior castigo dado no futebol português a um presidente de clube desde a sentença do Apito Dourado.

Considerando o circo que se arma todos os anos no futebol português, só se poderia pressupor que as declarações de Bruno de Carvalho terão sido imensamente graves. No entanto, segundo o Record (LINK), as frases que estiveram na origem do castigo foram as seguintes:

A 15 de janeiro de 2016, após o final do Sporting-Tondela, visando Vitor Pereira, então presidente do Conselho de Arbitragem:
"Os jogos não se jogam dentro das quatro linhas";

"Gosto pouco de estar a brincar ao futebol. O Senhor Vítor Pereira já ultrapassou todos os limites do rídiculo".

 Nesse mesmo dia, desta feita através da sua página de Facebook:
"Inacreditável... A pressão aos árbitros já mete nojo! Querem provocar o pânico aos árbitros nos jogos que arbitram do Sporting e ainda passar a mensagem que os jogadores do Sporting têm de estar a ser sempre punidos. Vitor Pereira já não perdeu só o bom senso a nomear, já perdeu toda a noção do ridículo!".

A 23 de janeiro de 2016, num artigo de opinião no jornal 'A Bola':
"Tem sido evidente, não posso deixar de salientar, a falta de critério e bom senso em muitas nomeações este ano, nunca sendo de atribuir a culpa aos árbitros porque estes apenas são nomeados. Tem sido claro que após conflitos públicos existentes entre a instituição Sporting e alguns árbitros, no que diz respeito à sua atuação menos positiva, os mesmos têm sido constantemente escolhidos para arbitrar jogos do Sporting numa perfeita afronta ao clube e num total desrespeito com a própria defesa do respetivo árbitro";
"Significa apenas o total desnorte e falta de bom senso daquele que devia decidir em prol do futebol e da classe dos árbitros: Vítor Pereira";

"São exemplos e factos concretos de que o futebol continua a ser jogado fora da quatro linhas, de que a forma como é feito já nem sequer é velada".

Não conheço os regulamentos. Não sei quais são as penas previstas para este tipo de declarações, mas é absurdo que o CD as considere mais graves do que muitas outras acusações, insinuações e insultos feitos por presidentes, dirigentes e funcionários de outros clubes. Só há duas conclusões que se podem retirar deste castigo: ou os critérios são iguais para todos e podemos esperar penas igualmente pesadas para outros intervenientes; ou há uma disciplina mais pesada para o Sporting do que para Benfica e Porto. 

A verdade é que nada indicia que as penas praticadas estejam a ser mais pesadas - a não ser as multas pelo intolerável arremesso de tremoços e bolas de esponja, ou por cânticos das claques. Na final da Taça da Liga, foi atirado um petardo que rebentou junto aos jogadores do Moreirense que festejavam um golo. Castigo, nem vê-lo. Há uns meses, a claque do Porto invadiu o centro de treino dos árbitros para mandar os recados. Castigo, nem vê-lo. Vieira, que, ao que se diz, insultou João Ferreira no início da época, foi punido apenas com metade da pena. Rui Vitória, há pouco mais de um mês, quando falava das arbitragens que, no seu entender, prejudicaram o Benfica contra Boavista e V. Setúbal, disse apenas isto: 



Já vi ameaças mais subtis. Castigo para estas declarações? Obviamente que nenhum. Os senhores do CD talvez estivessem de férias quando estas palavras foram proferidas.

Portanto, quando o Benfica fala em dualidade de critérios na justiça da FPF... parece ter razão. Bruno de Carvalho deverá agora recorrer para o TAD, e ninguém ficará surpreendido se a pena for cortada substancialmente - algo que já começa a ser hábito nas penas duras que o CD aplica a dirigentes e funcionários do Sporting. Resta saber se isso acontecerá ainda antes de o castigo de 113 dias ser cumprido na totalidade.

terça-feira, 28 de março de 2017

Liga Allianz, 20ª jornada: Sporting 8 - Vilaverdense 0


No domingo passado, o Sporting deu mais um passo rumo ao título, ao vencer o Vilaverdense por uns expressivos 8-0. Os golos foram marcados por Solange Carvalhas (2), Diana Silva (4), Joana Marchão e Ana Capeta, com assistências de Fátima Pinto, Ana Borges e Rita Fontemanha. De realçar o magnífico golo de Solange Carvalhas que inaugurou o marcador, e o facto de Diana Silva ter registado o terceiro poker de jogadoras do Sporting nos últimos quatro jogos para o campeonato (depois de Ana Capeta e Solange Carvalhas em jornadas anteriores).


O Braga venceu o Albergaria e mantém-se na perseguição ao Sporting.



Faltam apenas 6 jornadas até ao final. O próximo jogo é disputado no Estoril, no dia 15 de abril.

Entretanto, este golo de Tatiana Pinto...


... foi eleito o melhor golo do mês de fevereiro a nível mundial. Parabéns, e que venham mais destes!

Os estranhos critérios nas convocatórias das seleções jovens

Post muito pertinente do Grande Artista e Goleador sobre os estranhos critérios que são utilizados na convocação de jogadores para as seleções jovens: LINK.

Incendiário de palmo e meio

É inaceitável a forma como Rui Gomes da Silva tentou inverter as responsabilidades do que se terá passado com Jaime Marta Soares à entrada do Estádio da Luz. Falamos de um indivíduo que, felizmente, já não tem quaisquer responsabilidades no clube ou na SAD, mas que, pela visibilidade que tem, no mínimo não deveria desculpabilizar ações para as quais não pode existir outro tipo de reação que não seja a condenação.

Só mesmo um indivíduo com uma estatura moral muito pequenina é que é capaz de responsabilizar alguém que, simplesmente, quer ver um jogo de futebol da seleção nacional. É como dizer que uma vítima de violação é que provocou o crime por estar a andar de mini-saia. E falamos de um sujeito que já foi ministro deste país. Absolutamente lamentável.


P.S.: mas, em contrapartida, foi bem divertido o momento em que Paulo Farinha Alves relembrou Rui Gomes da Silva do seu apoio a um movimento de boicote à final da Liga dos Campeões no Estádio da Luz.


Simplesmente maravilhoso...


segunda-feira, 27 de março de 2017

Sport Lisboa e Boicotes

Depois de boicotar a Gala das Quinas...


... e de privar a federação da presença de dirigentes encarnados no jogo com a Hungria no camarote presidencial da Luz...


... eis que hoje o Benfica ameaça boicotar a utilização do estádio para os jogos da seleção:


Não é novidade a ameaça de boicotes no Benfica de Vieira. É uma cartada que já foi usada várias vezes, tendo como alvo os mais variados eventos, usando como pretexto as mais diversas razões, com maior ou menor grau de gravidade, como arbitragens polémicas ou simplesmente perguntas incómodas em entrevistas rápidas. 

Por exemplo, já ameaçaram boicotar emissões de jogos da Taça de Portugal...


... já ameaçaram boicotar a presença de adeptos em jogos fora...


(e reiteraram o boicote, para o caso de ninguém ter percebido)


(mas interromperam o boicote 4 dias depois porque não dava jeito)


... já ameaçaram boicotar a Taça da Liga...


... já ameaçaram boicotar entrevistas rápidas...


... e até já houve quem tivesse a ideia peregrina de boicotar a realização de uma final da Liga dos Campeões no seu estádio...


... com o apoio público de um vice-presidente do clube:


Será que um dia haverá um boicote aos boicotes?...

Os incidentes à margem do Portugal - Hungria

A ideia de "recrutar" elementos de claques para apoiar a seleção no Euro '2016 foi inteligente e deu bons resultados. Funcionou porque se tratava de uma competição especial, disputada no estrangeiro, de acesso mais restrito aos adeptos mais fervorosos, e - muito importante - jogada numa altura em que a temporada dos clubes já tinha terminado. Mas achar que a mesma ideia poderia funcionar em solo nacional numa fase em que as competições de clubes estão ao rubro, foi, pura e simplesmente, ingenuidade.

Obviamente que todas as pessoas, mesmo as que fazem parte da claque de um qualquer clube, são livres de assistir a jogos da seleção disputados no estádio de um rival. Se vão para um jogo da seleção entoam cânticos a provocar ou insultar equipas rivais, isso apenas revela a sua falta de capacidade de se comportar de forma cívica. Mas a partir do momento em que são apoiados de alguma forma pela FPF (nem que seja apenas através da oferta de bilhetes), não é tolerável que tenham comportamentos como aqueles que aconteceram no sábado - mesmo podendo haver atenuantes pelo facto de a claque ter sido também alvo de provocações por parte de adeptos presumivelmente benfiquistas. Depois disto, não é compreensível que a FPF continue a recorrer a esta estratégia de animação de jogos.

Infelizmente, não foi o único episódio lamentável que sucedeu à margem do Portugal - Hungria:


Aquilo que se passou com Jaime Marta Soares é inaceitável. Aconteceu na Luz, mas infelizmente é algo que nenhum adepto de Sporting ou Porto pode garantir que não acontecerá no seu estádio. Energúmenos existem em todo o lado, e basta um pequeno punhado de indivíduos mal intencionados para provocar uma situação deste tipo.

Agora, o que aconteceu é indesmentível. Tão mau como estes episódios terem acontecido é haver dirigentes que desdramatizem ou ignorem o que se passou. Veremos, portanto, como reagirá a FPF a estes incidentes. 

O mais provável é que não reaja de todo, porque a federação de Fernando Gomes é perita em fingir que nada de anormal se passa no mar de anormalidades que ocorrem no futebol português - e essa é a melhor forma de garantir que episódios semelhantes acontecerão no futuro, seja na Luz, seja no Dragão, em Alvalade ou em qualquer outro estádio.

E, já agora, também ajudava se os jornalistas não tentassem reescrever a história de uma forma que lhes seja mais conveniente, como sucedeu na edição de ontem do jornal A Bola...


domingo, 26 de março de 2017

O suspeito do costume

Ganhar por 3-0 à Hungria é um resultado normal, considerando a diferença de valor que existe entre as duas equipas. Anormal foi o empate a 3 que aconteceu no Euro 2016. Curiosamente, o onze inicial não foi assim tão diferente daquele que subiu ontem ao relvado... do meio-campo para a frente. A defesa, essa sim, não tem nada a ver: passámos de um quarteto Vieirinha / Pepe / Ricardo Carvalho / Eliseu para Cédric / Pepe / Fonte / Raphael Guerreiro.

Mas não é justo colocar a diferença de resultado entre um e outro jogo apenas no quarteto defensivo utilizado. Em junho, via-se que toda a equipa estava numa pilha de nervos após os dois impensáveis empates com que abrimos o Europeu. Numa pilha de nervos também estaria - embora não o demonstrasse nas conferências de imprensa - o selecionador, que teimava em não atribuir convictamente a titularidade a vários jogador que a pediam de caras: William, Adrien, João Mário, Fonte, Cédric, Raphael Guerreiro e Renato Sanches, sete jogadores que foram decisivos na fase a eliminar no Europeu, só ganharam realmente esse estatuto depois de tudo o resto ter falhado.

E apesar de a vitória de ontem ter sido clara, convém não esquecer que a Hungria continua a ser um adversário fraco, e que a seleção voltou a jogar pouco. Até ao golo de André Silva - que cruzamento fenomenal de Guerreiro! -, revelávamos as habituais dificuldades na criação de jogadas de ataque. Fernando Santos mostrou, mais uma vez, que é um treinador que só mexe no seu onze em casos de extrema necessidade. Não se entende, por exemplo, como não arranjou forma de encaixar Bernardo Silva no onze - um dos jogadores portugueses, se não o jogador português, a atravessar melhor momento de forma -, preferindo, por exemplo, insistir em André Gomes, que, mais uma vez, pouco acrescentou ao coletivo. Felizmente, a diferença de qualidade individual é enorme e o resultado confortável acabou por ser alcançado através de duas bombas do suspeito do costume, que atingiu ontem os 70 golos marcados ao serviço da seleção.

A partir daí, a equipa pareceu entrar em modo de gestão de esforço e o jogo ficou congelado até final. A caminhada para o mundial continua como estava: Portugal não tem margem para errar nos jogos que faltam. Só se qualificam diretamente os primeiros classificados dos nove grupos, e vão a um play-off os oito melhores segundos, o que significa que teremos de ganhar todos os jogos até final: incluindo a deslocação à Hungria (onde a Suiça já ganhou) em setembro e a decisiva receção aos helvéticos, na última jornada. A nosso favor temos o facto de nos bastar vencer os suiços por um golo - apesar de termos perdido em Basileia por 2-0 -, pois o principal fator de desempate é o goal-average no conjunto de todos os jogos.

sábado, 25 de março de 2017

Ponto de situação do vídeo-árbitro e outras novidades

David Elleray, diretor-técnico do International Board, foi um dos participantes na conferência Football Talks, organizada pela FPF, e prestou esclarecimentos sobre o ponto de situação da implementação do vídeo-árbitro, e sobre outras questões relacionadas com a arbitragem e com as regras de jogo. Aqui fica um apanhado dos pontos que me parecem mais relevantes.
  • As decisões por penáltis vão mudar. Segundo o International Board, a equipa que marca primeiro os penáltis ganha em 70% das ocasiões, o que levou à conclusão de que o sistema não é justo. Como tal, os penáltis passarão a ser marcados numa sequência alternada: ABBAABBAAB, à semelhança do que acontece nos tie-breaks do ténis.
  • O vídeo-árbitro (VAR) será um antigo árbitro e terá acesso a todas as imagens disponíveis, e não apenas às da transmissão para o público. Segundo David Elleray, no râguebi houve queixas de que os árbitros não tinham acesso a todas as imagens quando elas prejudicavam a equipa da casa. À atenção da BTV, portanto.
  • Neste momento, o International Board prevê o recurso ao VAR em quatro situações de jogo: golos, penáltis, cartões vermelhos diretos e casos de identidade trocada em cartões. Este critério foi decidido considerando o equilíbrio ideal entre a redução de erros grosseiros e a fluidez do jogo.
  • Situações de dúvidas em fora-de-jogo só serão avaliadas pelo VAR caso ocorram imediatamente antes do golo. Casos em que um jogador se isola a 30 ou 40 metros da baliza não serão avaliados. Considerando que ainda se está numa fase de estudo, parece-me que aqui há margem para haver uma mudança de ideias caso uma jogada deste tipo termine em golo.
  • O recurso ao VAR só pode partir por iniciativa de duas pessoas: o árbitro de campo e o árbitro responsável pelo VAR.
  • Independentemente de pretender recorrer ao VAR num determinado lance, o árbitro tem de tomar uma decisão no momento. O VAR apenas poderá inverter a decisão se as imagens demonstrarem um erro claro.
  • A FIFA pretende ter o VAR a funcionar já no mundial de 2018.
  • Existe a consciência nos responsáveis do International Board de que o VAR não vai acabar totalmente com o erro, mas que será um passo positivo para reduzir significativamente a quantidade de erros com influência direta no resultado de um jogo.
  • O International Board não vê condições, de momento, para que os ecrãs gigantes dos estádios transmitam o jogo em direto, pela pressão adicional que isso colocaria nos árbitros.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Deportivo Maldonado & Third Party Ownership

Interessante vídeo sobre a utilização de clubes-ponte para contornar a proibição imposta pela FIFA ao TPO.

(via @uMAXitFootball)

A UEFA e a Superliga Europeia

Na última entrevista dada à CMTV, Luís Filipe Vieira referiu, de forma algo misteriosa, que existe uma estratégia por trás das vendas tabeladas que Mendes tem feito de jogadores do Benfica. Vieira acrescentou que tudo ficará claro daqui a dois anos e, pouco depois, disse que o pagamento da dívida - razão para a qual o presidente do Benfica atribuiu a necessidade de vender jogadores - está relacionado com as mudanças que se perspetivam na Europa. Os entrevistadores perguntaram se essas mudanças estariam, de alguma forma, relacionadas com a criação de uma Superliga europeia. Vieira deixou claro que o Benfica está a posicionar-se para integrar essa competição, caso venha a ser criada.


Na verdade, não é a primeira vez que vejo referências à ligação das vendas do Benfica via Mendes com um projeto de Superliga europeia. De forma bem mais direta, Pippo Russo, no livro que recentemente publicou sobre Jorge Mendes - intitulado M. A Orgia do Poder, que será publicado em português em abril -, escreveu que a venda inflacionada de Renato Sanches ao Bayern pode estar relacionada com esse projeto, referindo também que Karl-Heinz Rummenigge, administrador do clube bávaro, está obcecado pela criação da Superliga.

Não é claro qual o papel que Jorge Mendes possa ter na criação de uma Superliga, mas é, muito possivelmente, a pessoa que melhores condições tem para coordenar uma empreitada destas fora do círculo da UEFA: tem contactos privilegiados com muitos dos maiores clubes europeus e tem ligações próximas com poderos grupos económicos com vontade de investir no futebol.

Em relação aos clubes, é fácil perceber a atração por uma liga fechada composta pelos mais importantes emblemas do velho continente: tornar-se-ia, facilmente, a maior e mais interessante competição de clubes do mundo e, consequentemente, aquela que maiores receitas geraria. E avaliando pelos sinais que têm sido dados pelos vários interessados, seria criada à margem da UEFA - o que também se compreende: para quê ter um intermediário que absorve uma percentagem tão grande das receitas, quando os clubes poderiam criar a sua própria organização para gerir a competição?

Obviamente que o aparecimento da Superliga levanta questões importantíssimas, nomeadamente no que diz respeito ao impacto que isso teria nas atuais competições, nacionais e europeias. Algumas ligas nacionais sofreriam um golpe profundo, mas a Liga dos Campeões seria, inevitavelmente, a competição mais afetada - imagine-se como seria sem equipas como o Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Chelsea, Arsenal, Manchester City, Bayern, Dortmund, Juventus ou PSG. O interesse do público cairia a pique e, como consequência direta, a capacidade de atrair patrocinadores e outro tipo de receitas desceria radicalmente. 

O mesmo se aplica às ligas nacionais. As ligas inglesa, espanhola e alemã, que geram receitas anuais na ordem dos milhares de milhões de euros, não estarão minimamente interessadas em perder preponderância. O mesmo se aplica a todas as outras ligas e federações de segunda linha, que deixariam de ter acesso ao mesmo patamar competitivo que os tubarões europeus. E quando as federações não estão felizes, o comité executivo da UEFA também não pode estar feliz.

Não admira, portanto, que Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, tenha ontem sido muito claro ao dizer que, durante a sua presidência, nunca permitirá que se crie uma Superliga fechada. É evidente que a UEFA não estará minimamente interessada em que lhe matem a galinha dos ovos de ouro, e é expectável que utilize todos os meios que tem à sua disposição para impedir que essa Superliga nasça à sua revelia.


O tema é muito interessante, a vários níveis. Qual é a estratégia dos clubes interessados para concretizar este projeto? Qual o papel que Jorge Mendes tem em tudo isto? Até que ponto os clubes que entrassem nesta Superliga cortariam em definitivo os laços com as competições nacionais? Qual o impacto que tudo isto teria numa competição como a liga portuguesa? Estarão as federações nacionais dispostas a abdicar de alguns dos seus principais membros? Que medidas de bloqueio estará a UEFA a preparar como resposta?

Aguardemos por respostas para algumas destas perguntas ao longo dos próximos dois anos.

quinta-feira, 23 de março de 2017

O outro lado do jogo de Dost

Tem sido evidente o aumento da influência de Bas Dost no futebol do Sporting, graças, sobretudo, aos golos que tem vindo a marcar, cada vez com maior frequência. No entanto, este aumento de influência não se limita aos golos que marca: o holandês é quase imbatível nos duelos aéreos; está cada vez mais eficaz nos apoios frontais que dá aos colegas, quando recua no momento de construção; e também se tem mostrado generoso no momento de servir os companheiro para finalizarem.

Vale a pena ler este post (com vídeo) da página de Facebook Treinador Daniel Silva, sobre o outro lado do jogo de Dost.


Bom começo na 2ª fase do campeonato de andebol

O Sporting venceu ontem o ABC por 27-25, no Flávio Sá Leite, na 1ª jornada da 2ª fase do campeonato de andebol. Vitória fundamental contra o atual campeão nacional, e que nos permite continuar dependentes de nós próprios para nos sagrarmos campeões.

Depois de um péssimo começo de jogo, recheado de erros por parte dos nossos jogadores, e um excelente aproveitamento do ABC nas ocasiões de contra-ataque - que permitiu uma vantagem de 5 golos para a equipa da casa nos primeiros minutos -, o Sporting reagrupou-se e conseguiu gradualmente aproximar-se no marcador. Ao intervalo perdíamos por 1 golo, e passámos em definitivo para a frente do marcador a meio da segunda-parte. Muita concentração defensiva e boa eficácia nas situações de ataque, com boa gestão da partida a partir do momento em que alcançámos uma vantagem de 2 golos.

Aqui ficam os últimos minutos do jogo, para quem não teve oportunidade de ver.

quarta-feira, 22 de março de 2017

O abono de família do candidato

O facto de haver benfiquistas fanáticos a gerir a comunicação da campanha eleitoral de Fernando Oliveira (LINK), atual presidente do V. Setúbal e um dos três candidatos que se apresentarão a votos na próxima sexta-feira, não é, por si só, sinal de algo anormal.

Mas quando se começa a perceber um padrão como este nas entrevistas que Fernando Oliveira tem dado a vários jornais na última semana...

Entrevista ao CM, 18 de março

Entrevista ao Record, 15 de março

Entrevista a A Bola, 22 de março

Entrevista a A Bola, 22 de março

... é legítimo que se levantem dúvidas sobre a (in)dependência do candidato em relação ao abono de família. É evidente que Fernando Oliveira está empenhado em fazer tema de campanha o bom relacionamento com o Benfica e o mau relacionamento com o Sporting.

Nada disto coloca em cheque a prestação desportiva do V. Setúbal, que está acima de qualquer suspeita: falamos de um clube que, esta época, tirou 5 pontos ao Benfica, 4 ao Porto e atirou o Sporting para fora da Taça da Liga. Mas há outros campos onde o poder do futebol português está em jogo e alianças destas não são de deitar fora, até para o mais abastado dos parceiros. E mesmo fora do futebol, há sempre amizades que importa cultivar, não vá ser necessário um aconselhamento especializado de construção civil, por exemplo...


Boa visão de jogo

Boa visão de jogo revelada pelo treinador sportinguista e pelo presidente benfiquista, ontem, na Assembleia da República, ao evitarem habilmente - o mister com uma finta de corpo e o estadista com um arranque em velocidade - um encontro imediato à frente das câmaras que seria, no mínimo, embaraçoso. 

terça-feira, 21 de março de 2017

Golo de Tatiana Pinto nomeado para melhor do mês

Este golo de Tatiana Pinto, marcado contra o Albergaria...


... está nomeado para melhor golo do mês pelo site Women's Soccer United. Podem votar aqui: LINK.

Poderá Jardim valer mais um milhão de euros ao Sporting?

Hoje, o jornal O Jogo refere na capa que o Sporting poderá receber mais 1 milhão se Leonardo Jardim se sagrar campeão francês.


Recordo que o Sporting recebeu 3 milhões de euros aquando da saída de Leonardo Jardim para o Mónaco. Na altura, o comunicado emitido pelo Sporting referiu a possibilidade de o Sporting receber mais 3 milhões mediante o cumprimento de determinados objetivos:


Infelizmente para o Sporting, a notícia do jornal O Jogo não corresponde à verdade. O Football Leaks divulgou o contrato de rescisão de Leonardo Jardim com o Sporting, onde se pode ler que:


As cláusulas por objetivos poderiam atingir, de facto, três milhões de euros, mas apenas na eventualidade de o Mónaco vencer sempre a liga francesa e a Liga dos Campeões durante os quatro anos do contrato que assinou com Leonardo Jardim. 

Em relação a esta temporada, considerando que é muito pouco provável que Leonardo Jardim vença a Liga dos Campeões, o Sporting apenas pode realisticamente esperar um bónus de 250.000€.

A ladainha de Bernardo Silva

A saída de Bernardo Silva é um assunto mal resolvido entre os benfiquistas. Custa-lhes que um jogador, indiscutivelmente talentoso, que sempre mostrou ser um adepto fervoroso no seu clube não tenha tido oportunidade de se impor na equipa principal do Benfica. E como lhes custa, manda a sua consciência que encontrem um responsável pelo sucedido. E quem melhor do que Jorge Jesus para levar com as culpas?

Sim, Jorge Jesus, na sua qualidade de treinador, podia ter aberto caminho a uma maior utilização de Bernardo Silva... mas haveria realmente condições para o fazer perante a concorrência que existia? É que falamos de um plantel que tinha jogadores como Gaitán, Salvio, Markovic, Rodrigo, Djuricic ou Sulejmani, que ganhou tudo o que podia ganhar internamente (Liga, Taça de Portugal e Taça da Liga) e atingiu a final da Liga Europa. É óbvio, perante a riqueza do plantel e a exigência do calendário, que Jesus não tinha grande margem para lançar jogadores da equipa B. E convém relembrar que, nessa época (2013/14), Bernardo Silva tinha 19 anos e estava longe de ser o produto acabado que é hoje.

Em 2014/15, Bernardo Silva integrou os trabalhos do plantel na pré-temporada. Foi suplente utilizado nos dois jogos da Taça de Honra da A.F. Lisboa. Três dias depois, foi suplente utilizado contra o Marselha. Não foi utilizado na Eusébio Cup. Voltou a não ser utilizado contra o Sion mas, no dia seguinte, foi suplente utilizado contra o Athletic. Depois seguiu-se a participação na Emirates Cup, também disputada em dias consecutivos: Bernardo Silva não jogou contra o Arsenal, mas foi suplente utilizado contra o Valência. O jogador não teve uma grande utilização ao longo da pré-época, é certo, mas não foi propriamente um vazio de oportunidades.

Pelo meio, rebentou uma polémica causada pelo pai do jogador, que não gostou de ver o filho a treinar a defesa esquerdo. Uns dias mais tarde, antes do início oficial da época, Bernardo Silva foi emprestado ao Mónaco.

Para evitar discussões desnecessárias, partamos do princípio de que Jesus não gosta do jogador, e que não colocou entraves ao empréstimo do jogador. Terá a sua quota parte de responsabilidade pela não afirmação de Bernardo no Benfica? Sim, certamente. Mas então e a estrutura? Se a estrutura benfiquista confiava assim tanto no jogador, por que razão não o emprestou a outro clube sem cláusula de opção de compra? Ainda por cima, vale a pena recordar que isto aconteceu apenas 10 meses antes de o contrato de Jesus terminar - e certamente que, nessa altura, Vieira já estaria a ponderar não renovar com o treinador, como se veio a verificar. Se era apenas uma questão de o treinador não gostar de Bernardo Silva, no final da época o problema ficaria definitivamente resolvido.

Se tiver que haver uma distribuição das responsabilidades, diria que Jesus não terá mais do que 25%. A maior parte das culpas deveria ser atribuída à estrutura, que precipitou a saída de um jogador que ainda tinha vários anos de contrato - ao contrário de Jesus.

E, já agora, Bernardo Silva poderia sempre ter recusado assinar com o Monaco. Certamente que ninguém o obrigou a pôr a sua assinatura no papel. Suponho que tenha sido uma decisão difícil, seguramente ajudada por conselhos importantes que terá recebido nesse sentido - e que não terão sido dados por Jorge Jesus.

Daí que não faça qualquer sentido que o jogador aponte unicamente na direção do treinador para justificar a sua não afirmação no Benfica, como voltou a fazer ontem:


Será que seria mesmo assim? É que Rui Vitória também já demonstrou ter as suas obsessões por determinados jogadores que não demonstram um rendimento convincente... como Salvio ou Luisão. Rui Vitória também tem as suas prioridades, e não perder a mão do balneário é uma delas.

É fácil perceber o objetivo destas declarações. Bernardo Silva é uma pessoa inteligente, e sabe que ao fazer declarações destas está a ir ao encontro daquilo que os adeptos do seu ex-clube querem ouvir, mesmo que isso não faça grande sentido.

Mas, mesmo que tivessem sido palavras sinceras, bastaria que Bernardo Silva perdesse um minuto da sua vida a ouvir estas palavras do homem que o vendeu...


... para perceber que a sua estadia no Benfica estava destinada a não ser muito prolongada, mesmo que a titularidade lhe aterrasse no colo. É ver o tempo que Renato Sanches ou Gonçalo Guedes ficaram a partir do momento em que começaram a ser titulares com regularidade. Se Bernardo Silva não ficou o tempo que desejava no Benfica, não foi por causa de Jorge Jesus: o seu destino já estava traçado por Luís Filipe Vieira e por Jorge Mendes.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Taça de Portugal Allianz, quartos-de-final: Sporting 8 - Ouriense 0

Vitória tranquila do Sporting, que valeu a qualificação para as meias-finais da Taça de Portugal, onde também marcaram presença Braga, Estoril e Casa Povo Martim. Os golos foram marcados por Diana Silva (3), Tatiana Pinto, Joana Marchão, Amélia Vale Pereira (2) e Filipa Mandeiro.

E estas defesas do Asanin?

Um verdadeiro muro, mais uma grande exibição do guarda-redes croata, importante para a qualificação para a Final Four da Taça de Portugal de andebol.



"O suplente do Enzo" de 2ª geração

Há pouco menos de três anos, quando se discutia quais os jogadores que Paulo Bento deveria levar para o mundial do Brasil, Rui Pedro Braz criou uma das mais extraordinárias teorias da história do comentário desportivo português, ao dizer que Adrien Silva - que, nessa época, foi um dos melhores jogadores do campeonato - estaria sempre atrás de Rúben Amorim nas hierarquia de escolha do selecionador, apesar de o médio benfiquista não ser titular no seu clube.

Para Braz, o facto de Rúben Amorim ser suplente de Enzo dava-lhe um estatuto que Adrien, na sua opinião, não tinha:


Ao que parece, Paulo Bento estava de acordo com esta teoria e decidiu convocar Rúben Amorim, deixando Adrien de fora - apenas uma de várias decisões absurdas que acabaram por ser uma preciosa ajuda para o desastre que foi a nossa participação nesse torneio.

Três anos depois, em 2017, parece que vários comentadores estão a recuperar essa linha de raciocínio. Não tão radical como o caso de Rúben Amorim, é certo, mas também a desvalorizar o nível de utilização de um jogador face ao nível do clube a que pertence. Aqui ficam dois exemplos:



Já o escrevi aquando da convocatória da passada quinta-feira: compreendo a convocatória de Renato Sanches e André Gomes - apesar da sua escassa utilização (no caso de Renato) e mau momento de forma (no caso de André)- , mas era só o que faltava que o facto de um jogador pertencer aos quadros de um colosso europeu lhe abra automaticamente as portas da convocatória.

Uma coisa é falarmos de um Cristiano Ronaldo ou de um Pepe, ainda na posse das suas melhores faculdades técnicas e atléticas, jogadores consagrados com um grande historial na seleção. Outra é de jogadores como Renato Sanches e André Gomes (ou mesmo João Mário ou Raphael Guerreiro, para dar outros exemplos) que, apesar de jogarem em grandes clubes de ligas muito mais competitivas do que a nossa, não fizeram ainda o suficiente para justificarem um estatuto idêntico.

Se o critério fosse esse, então por que razão é que Eduardo, suplente de Courtois, não foi convocado? Se o critério fosse esse, então Adrien nunca poderia ambicionar ser titular na seleção enquanto André Gomes estivesse disponível - e vimos todos como correu isso no Euro 2016. Se Secretário fosse hoje jogador do Real Madrid, isso dar-lhe-ia acesso automático ao lote dos convocados?

São legítimas as dúvidas sobre a convocatória de um jogador sem ritmo de jogo para um duplo compromisso. O jornal O Jogo publicou um gráfico com a utilização dos convocados de Fernando Santos desde a última partida da seleção:


Como se pode ver, a diferença de utilização entre Renato Sanches e a generalidade dos outros jogadores é imensa. São 270 minutos de competição em 4 meses. Certamente que não serão um par de treinos e 180 minutos de competição que o farão recuperar a sua melhor forma. Numa convocatória para uma fase final seria diferente: com várias semanas de treino e vários jogos particulares, isso já seria perfeitamente possível.

Existem argumentos válidos para justificar a convocatória de Renato Sanches, mas o clube em que joga não pode servir de escapatória para qualquer tipo de situação.

domingo, 19 de março de 2017

Valeu pelo bis Dost

Jesus fez algumas mexidas em relação à partida anterior, mas a ideia parecia ser dar continuidade ao jogo de Tondela. Alan Ruiz regressou ao onze, como se esperava, saindo Podence. Matheus manteve-se na esquerda, com Bryan a continuar no miolo e Rúben Semedo a recuperar a titularidade perdida para Paulo Oliveira.

Infelizmente, a dinâmica de jogo esteve longe daquela a que pudemos assistir na semana passada. O Sporting foi menos agressivo na frente, teve dificuldades em encadear movimentos de ataque consequentes e, sobretudo, esteve desesperantemente mal no momento de servir os seus homens mais adiantados. O que nos valeu hoje - e que tem sido uma regra ao longo da época - é que temos lá na frente um jogador que faz por aproveitar todas as migalhinhas de oportunidades que lhe põem no prato.




Dost, quem mais? - mais uma incrível demonstração de eficácia finalizadora do bombardeiro holandês que o Sporting contratou esta época. Marcou dois golos, e nem se pode dizer que tenha tido duas oportunidades para marcar. Quando muito, foi uma oportunidade e meia, porque aquele segundo golo nem se pode considerar uma oportunidade por inteiro: a bola andava por ali na área, com dois defesas a resguardá-la, e, de um ângulo improvável, Dost arranjou forma de transformar aquilo num golo, sem que três quartos do estádio se apercebesse como. Se Churchill visse esta época do holandês, diria que Dost marcaria golos até das praias, marcaria das pistas de aterragem, marcaria dos campos e marcaria das ruas de qualquer cidade, marcaria das colinas; nunca deixaria de marcar.

Concentração defensiva - se o jogo foi muito fraco, deveu-se sobretudo ao dia desinspirado que os jogadores do Sporting tiveram na construção de lances ofensivos, mas também contribuiu para a monotonia a ausência de lances de verdadeiro perigo na baliza de Rui Patrício. E isso deveu-se à boa prestação da linha defensiva. Rúben Semedo voltou e esteve intransponível, Coates teve a eficiência do costume, e desta vez os centrais tiveram o precioso apoio de Marvin Zeegelaar: o holandês teve algumas intervenções defensivas fundamentais, para além de ter estado sempre agressivo (no bom sentido) nos duelos em que participou. Está a fazer-lhe bem jogar com regularidade.  

Horário do jogo - finalmente voltaram as tardes de futebol em Alvalade, e o público correspondeu. Boa casa, com muita miudagem nas bancadas, que merecia ter visto futebol de melhor qualidade.



Qualidade do futebol praticado - a primeira parte do Sporting foi aceitável. Houve algumas fases em que a equipa conseguiu meter alguma velocidade no jogo, causar desequilíbrios, mas o momento de definição foi trágico. Gelson é a melhor imagem daquilo que tem sido a qualidade de jogo do Sporting: boas ideias para arranjar espaço e chegar-se à área com perigo, mas depois, no momento de se decidir pelo último passe ou pelo remate, acaba por não sair nem uma coisa nem outra. Gelson, em má forma, exaspera-me. Em boa forma, ou seja, sendo capaz de meter 3 ou 4 bons passes para finalização, passa a parecer-me um predestinado. Diria o mesmo da qualidade de jogo do Sporting se começássemos a materializar em jogadas de perigo uma maior percentagem das nossas iniciativas ofensivas: se calhar daria para estarmos perto do nível da época passada, mas assim é apenas exasperante. Se na primeira parte a equipa pareceu tentar jogar bem mas não o conseguiu, na segunda parte nem sequer tentou. Os segundos 45 minutos foram entediantes, podendo o público presente no estádio agradecer à Liga o facto de ter marcado o jogo para as 18h15 - se tivesse começado às 20h30, seria difícil resistir a uma soneca durante a segunda parte.



Valeu pelos três pontos e pelo Bis Dost -- ou melhor, pelo bis de Dost, que, pelo menos até ao jogo de logo do Barcelona, lidera isolado a tabela da Bota de Ouro europeia. Não será fácil essa corrida - a equipa podia ajudar muito mais -, e não sendo grande objetivo considerando as aspirações que tínhamos no início da época, é a única coisa palpável que neste momento sobra para alcançar... vamos a isso?