quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A propósito de estatutos anti-democráticos

Os últimos tempos têm sido férteis no aparecimento de pessoas a insurgirem-se contra a veia ditatorial de Bruno de Carvalho. Na origem deste movimento, que une sportinguistas que se opõem ao atual presidente e muitos benfiquistas, estão as alterações aos estatutos e ao regulamento disciplinar dos sócios - e, em particular, a parte que abaixo podem ver:


O carácter genérico desta alínea - que permitiria todo o tipo de interpretações - foi de imediato contestado por muitos sócios. Os órgãos sociais do clube estiveram atentos às críticas que foram feitas e reformularam o texto:


A partir do momento em que esta alteração foi feita, passou a ser uma alínea que, para além do conceito de grupo, nada traz de novo em termos de âmbito de atuação da Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD). Nenhum sócio se pode considerar ameaçado para além daquilo que os estatutos já previam antes. Ora veja-se a alínea b) do artigo 28º dos atuais estatutos:

Estatutos Sporting CP

Ou seja, os sócios já estavam sujeitos a terem uma sanção em situações de injúria, difamação ou ofensa aos membros dos órgão sociais do clube. A nova alínea mantém as mesmas expressões ("comportamentos (...) ofensivos ou injuriosos de qualquer membro dos órgãos sociais"), mas em âmbito de atividade de grupos reconhecidos ou identificados com o Sporting.


É absurdo que se pense que, por causa desta alteração, algum sócio fique mais sujeito a ser expulso do clube do que já estava antes. Existindo más intenções dos órgãos sociais, já existiam ferramentas para abrir processos disciplinares a todos aqueles que já insultaram o presidente - que, como sabemos, é um dos desportos mais populares neste país.

Em relação aos adeptos de outros clubes que se insurgem contra o ambiente anti-democrático que dizem existir no Sporting, só dá vontade de rir. 

Em primeiro lugar, tenho muita curiosidade para ver qual será o nível de mobilização dos sócios benfiquistas para afastarem um presidente que comete crimes utilizando recursos do clube para fins pessoais. Para já, não se vê nada. E se um dia houver efetivamente mobilização, veremos até que ponto é que os sócios ainda têm poder no Benfica. 

Em segundo lugar, convém relembrar que os últimos processos eleitorais dos nossos rivais têm sido proformas de reeleição das direções em exercício: Vieira concorreu sozinho em 2016, e já não me lembro da última vez em que Pinto da Costa teve oposição.  E convém não esquecer a alteração de estatutos promovida por Vieira em 2010, a dois dias de conquistar o primeiro campeonato em cinco anos, em que foram aprovadas várias medidas que praticamente asseguram a sua perpetuação no poder. 

Por último, porque tanto os estatutos de Benfica e Porto prevêm o mesmo tipo de sanções, pelos mesmíssimos motivos previstos nos estatutos do Sporting. No Porto, os estatutos dizem isto...

Estatutos FC Porto

... e os do Benfica dizem o seguinte:

Estatutos SL Benfica

As alíneas mais polémicas dos estatutuos estão redigidas de forma exatamente igual em todos os clubes, bem como as sanções previstas. Todos prevêm sanções por injúria, difamação e ofensa. Todos prevêm a possibilidade de expulsão. Tudo normal, pois, como não pode deixar de ser, pressupõe-se que a sua aplicação será levada a cabo sempre numa lógica de bom senso e equilíbrio.

No Sporting, considerando os ataques inqualificáveis de que esta direção (e em particular o presidente) são alvo numa base diária, não se pode dizer que o total de sócios expulso seja chocante: apenas um, o ex-presidente  Godinho Lopes. E convém recordar que no âmbito desse mesmo processo, Luís Duque foi suspenso por um ano, enquanto Carlos Freitas e Nobre Guedes não tiveram qualquer sanção por entretanto terem deixado de ser sócios. Estão agora a perceber por que razão é que esta outra proposta de alteração existe?


Tanto quanto me tenha apercebido, ainda não houve nenhuma suspensão ou expulsão devido a injúrias, ofensas ou difamação.

Ou seja, aquilo que se tem feito na última semana é uma tempestade num copo de água. Convém que as pessoas não se deixem enganar por quem quer pôr este presidente fora do clube.

P.S.: quem estiver com vontade de se revoltar contra tiques anti-democráticos no futebol, pode dirigir a sua atenção para o que aconteceu no final da tarde de ontem:


Já perdi a conta ao número de vezes que instâncias superiores anulam suspensões a Bruno de Carvalho. Infelizmente, a velocidade da justiça desportiva acaba por tornar inúteis essas anulações, pois surgem numa altura em que a pena já tinha sido cumprida na totalidade. Neste caso, foram três meses de castigo por ter escrito isto:

"A atitude da FPF de actualizar os títulos nacionais, hoje no seu site, desrespeitando a verdade e a história, demonstra a incompetência e a cobardia dos seus dirigentes, que tudo defendem menos a verdade desportiva e o futebol"

O TAD considerou que Bruno de Carvalho apenas exerceu a liberdade de expressão e crítica, motivo pelo qual deliberou que não devia ter sido alvo de procedimento disciplinar.

Isto sim, é uma vergonha.