quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A entrevista de Bruno de Carvalho à SportTV

Só ontem à noite tive oportunidade de ver com atenção a entrevista do presidente do Sporting. Sei que os meus comentários já vão um pouco tarde, mas queria partilhar convosco dois ou três pontos que me parecem importantes. Não tanto sobre o que foi dito, mas sobre os indícios que abrem sobre o estilo de presidência que vamos ter.

Regime presidencialista puro e duro

Quando o entrevistador perguntou sobre os motivos pelos quais se sentava no banco, Bruno de Carvalho respondeu que o faz para se aperceber do nível de envolvimento de quem está a representar o clube. A (excelente) resposta foi mais longa e foi totalmente esclarecedora sobre o estilo de presidência que vamos ter.

Como a esmagadora maioria dos presidentes de clubes, Bruno de Carvalho poderia delegar essa tarefa no seu nº 2 (Inácio), mas não o faz. Isto significa que, para o bem e para o mal, Bruno de Carvalho pensa acima de tudo pela sua cabeça e decide sozinho, o que não quer dizer que não esteja disponível para ouvir as opiniões do grupo que o rodeia. 

Perante tudo isto fico sem saber que tipo de papel sobra para Inácio. Leonardo Jardim terá certamente toda a liberdade para tomar as decisões de cariz técnico, mas tudo o que está para além disso começa e acaba na mesa do presidente. O que sobra para Inácio? Talvez o papel de conselheiro e delegação de alguns temas não prioritários do departamento de futebol.

Da parte que me toca, estou pronto para esse tipo de presidência. As democracias participativas que foram as últimas direções do Sporting mostraram que um pulso firme e bem orientado é infinitamente preferível a hidras de sete cabeças que às tantas começavam às dentadas entre si.

A anterior direção do Sporting, da esquerda para a direita: Luís Duque, Paulo Pereira Cristovão, Carlos Barbosa, Godinho Lopes, Silva e Costa, Nobre Guedes e José Maria Ricciardi

O sucesso deste tipo de presidência, como é evidente, estará muito dependente da intuição, inteligência, clarividência e persistência que Bruno de Carvalho conseguir demonstrar ao longo do seu mandato. Para já os sinais são muito bons. Junte-se uns anos de experiência, e poderemos ter um caso muito sério.

Discurso de guerra

Bruno de Carvalho descreve-se como uma pessoa dura. E essa faceta da sua personalidade vem acompanhada de um estilo de discurso truculento e pouco paciente. Quando o entrevistador colocava perguntas colocadas pelo público via redes sociais, muitas vezes Bruno de Carvalho fazia comentários do tipo "Esse espetador não deve ser concerteza sportinguista" ou "As pessoas não sabem do que estão a falar".

Não vejo mal nenhum em que o presidente do Sporting seja uma pessoa direta e terra-a-terra. Mas deve guardar esses comentários sobranceiros para os verdadeiros inimigos (que os há). É que parecendo que não, esse tipo de conversa gera anti-corpos (os sportinguistas com as mesmas dúvidas não gostarão certamente de ouvir comentários desses da boca do seu presidente) e qualquer tipo de divisionismo pode vir a ter consequências perigosas quando os resultados da equipa de futebol deixarem de ser tão positivos.

Responsabilização de sócios e adeptos

Por várias vezes Bruno de Carvalho fez referência de forma muito direta à responsabilização de sócios e adeptos. Quem exige resultados, deve estar consciente que é necessário recursos para que o clube possa competir de uma posição mais vantajosa. Por isso o presidente insistiu em que os adeptos se tornem sócios, na compra de Gameboxes, presenças no estádio e até na compra do jornal do clube. 

É evidente que a quotização e bilheteira não é nem de longe a principal fonte de receitas, mas de forma indireta tem muita importância. Em qualquer contrato publicitário é normal que um clube que tem um estádio sempre cheio acabe por conseguir melhores condições do que se tivesse um estádio às moscas. Pode não ter efeitos imediatos significativos, mas no médio / longo prazo ajuda bastante.

Ou seja, não contem com um presidente que vai estar a dar constantemente pancadinhas nas costas de sócios e adeptos. Se os números das vendas não forem as esperadas, fiquem a contar com um sermão. E com razão.