quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O paladino da 3ª idade

Quando Bruno de Carvalho se pronunciou sobre o facto de as capacidades de Pinto da Costa estarem a diminuir por causa da idade, houve um clamor generalizado por parte da opinião pública. Uma falta de respeito pelos cidadãos mais velhos, mesquinhez do presidente do Sporting, que foi condenado de forma sumária, mesmo sabendo-se que o alvo daquela declaração era uma e uma só pessoa.

Não tenho grandes dúvidas que aos 75 anos, Pinto da Costa mantém uma lucidez e inteligência que fazem inveja a muita gente na plenitude das suas faculdades. Bruno de Carvalho também o sabe, pelo que podemos concluir que as suas declarações foram apenas uma forma de picar o rival.

Seriam declarações lamentáveis se Pinto da Costa demonstrasse sinais efetivos de senilidade. Como nunca o demonstrou em público, foi apenas uma provocação na linha de outras tantas que Pinto da Costa já fez no passado.

Curiosamente o maior ataque às declarações de Bruno de Carvalho veio de Jorge Gabriel no programa Trio de Ataque. O ex-apresentador do Praça da Alegria esteve largos minutos a proteger a honra de Pinto da Costa e de todos os cidadãos seniores que, segundo o paineleiro, eram indiretamente visados pelas afirmações do presidente do Sporting. Jorge Gabriel até invocou o seu pai, também ele um cidadão sénior, como sendo um exemplo que procura seguir e que tem sempre sábios conselhos para o tornar um homem melhor. Foi um momento tão comovente que certamente que escorreriam inúmeras lágrimas pelo meu rosto se não me lembrasse que Jorge Gabriel está naquele programa para defender o Sporting, e que no mínimo deveria fazer um esforço para não analisar de forma tão superficial a frase proferida pelo presidente do clube que está a representar.

Ontem, o presidente da FIFA fez uma triste figura quando lhe perguntaram se preferia Messi ou Ronaldo. Hoje tive oportunidade de ver que parte da opinião pública portuguesa tem uma abordagem bastante interessante sobre as declarações de Joseph Blatter:
  • "Só que enquanto os palhaços profissionais fazem as delícias de milhões de crianças e adultos por esse mundo fora, este dá-nos pena. Como dão todas as pessoas que, infelizmente, aos 77 anos, já não têm noção das suas acções." - Luís Avelãs in Record 
Aliás, quem tenha seguido a notícia nas rádios e televisões também terá tido oportunidade de ouvir algumas referências à idade do presidente da FIFA.

O Maisfutebol foi ainda mais além e abordou o tema Blatter por outro prisma:

  • "Ao longo da sua carreira, chamemos-lhe assim, o mundo do futebol já perdeu a conta a estes episódios de incontinência verbal do suíço. Como este artigo não é em inglês, perdemos a oportunidade de fazer o trocadilho com a palavra bladder, bexiga, portanto fiquemo-nos pelos factos."
Note-se que concordo com a problemática da idade: se Blatter tivesse 57 anos provavelmente avaliaria melhor as consequências das suas palavras e excusar-se-ia de dizer e fazer determinadas coisas que agora são alvo de debate aqui em Portugal. É legítimo que se questione se ainda tem capacidade para estar à frente de uma organização tão poderosa como a FIFA.

Em relação ao trocadilho com a bexiga e os problemas de incontinência, pessoalmente achei graça, mas será que o paineleiro do Trio de Ataque vai encontrar aqui uma ofensa a todos os cidadãos, seniores e não seniores, que sofrem desse terrível problema com custos sociais elevadíssimos que é a perda involuntária do controlo da bexiga e intestinos? Como diria Manuel Machado, é uma questão que já fede.

Mas enfim, devemos respeitar Jorge Gabriel por se chegar à frente e ser o paladino da 3ª idade, de pessoas a quem tanto devemos e que não têm o apoio que merecem de todos nós. Desinteressadamente, Jorge Gabriel prefere não interpretar devidamente as declarações do presidente do clube que está a representar naquele programa, para defender fervorosamente a honra dos cidadãos mais desamparados da nossa sociedade. É bonito, louvável e comovente ver um homem colocar os seus princípios à frente da clubíte e do dinheiro.

Ah, espera aí...