sábado, 30 de novembro de 2013

Paulo Fonseca no olho do furacão

Manuel Queiroz, num espaço que tem no DN, fez uma crónica sobre a atual situação do Porto. Vou destacar as partes do texto que me parecem mais interessantes.

O FC Porto tentou Manuel Pellegrini (acabou por sair do Málaga para o Manchester City), pensou em Mano Menezes (havia uma fação forte a favor do brasileiro), falou com Marco Silva e decidiu-se por Paulo Fonseca para substituir Vítor Pereira no cargo de treinador.

Cinco meses depois, há assobios no Dragão. Por alguma razão que não se consegue explicar, havia uma defesa de betão que passou a sofrer golos quanto mais estúpidos melhor e um ataque que só mantém intensidade durante uma parte dos jogos - e geralmente menos de 45 minutos. E sobretudo perdeu dois jogos em casa para a Liga dos Campeões que tornam muito complicado chegar aos oitavos de final.

Paulo Fonseca está no olho do furacão, na minha opinião sobretudo porque não tem sabido gerir bem a equipa (substituições repetidas após os 80 minutos para tentar marcar um golo em catástrofe) e porque ficou sem Fucile e Izmailov para a Liga dos Campeões e nessa prova não inscreveu Kelvin e Carlos Eduardo (por causa do número de estrangeiros). E há, numa equipa que tenta jogar mais em contra-ataque, uma incongruência, que é ter emprestado Iturbe, que nesse tipo de jogo é dos mais fortes do plantel. 

As críticas que Manuel Queiroz espelham bem o sentimento da generalidade dos adeptos do Porto, que mostraram lenços brancos ao treinador no final do jogo com o Austria Viena, e despediram a equipa com uma enorme assobiadela.

Foto: abola.pt

Paulo Fonseca está de facto no olho do furacão, e a maior parte dos portistas parecem desejar que seja rapidamente arrastado pelo vento. Isto apesar de a equipa estar em primeiro lugar no campeonato e ter passado com distinção uma eliminatória complicada na Taça de Portugal.

Será que é justo o tratamento que os portistas estão a dar o seu treinador?

Já escrevi a minha opinião sobre o que é a cadeira de sonho para treinadores que chegam ao Porto com experiência reduzida. O que Pinto da Costa tem procurado, ao contratar profissionais com pouca experiência como Paulo Fonseca para dirigir a equipa de futebol, é alguém que seja competente no treino e que aceite sem contestação o plantel que lhe ponham à disposição. Capacidade de liderança não é necessária porque a "estrutura" se encarrega de pôr os jogadores na linha se for caso disso. 

A referência de Queiroz a Pellegrini e a Mano Menezes é um pouco estranha porque desde Carlos Alberto Silva o Porto não voltou a contratar um treinador estrangeiro de reputação mundial sem experiência de futebol português. Admito que possa ser verdade, mas não deixa de ser estranho.


A verdade é que Pinto da Costa acabou por apostar em Paulo Fonseca para a missão mais complicada que algum treinador no Porto teve desde 2004/05, quando o Porto ficou de repente sem Mourinho, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Carlos Alberto e Deco, e em que os que ficaram tinham uma enorme vontade de dar o salto para outros campeonatos. 

O Porto assinou com Paulo Fonseca a 10 de Junho. Nessa altura, já estavam contratados Reyes, Ricardo, Tiago Rodrigues e Carlos Eduardo. Até agora a sua utilização foi nula ou perto disso. Umas semanas depois de Fonseca entrar no clube o Porto contratou Herrera, Quintero e Ghilas para colmatar falhas óbvias do plantel, mas ninguém acredita que o treinador tenha tido um papel decisivo na escolha dos jogadores. De qualquer forma Herrera ainda não convenceu, Quintero promete ainda não está pronto para levar a equipa às costas, e Ghilas é o que se sabe.
 
O sucesso recente do Porto tem muito a ver com o facto de terem contado com jogadores como Hulk, Moutinho, Falcao e James. Jogadores de classe mundial que juntos podiam desfazer praticamente qualquer defesa que estivesse à sua frente. Só que esses jogadores foram saindo gradualmente, e a única contratação para os substituir que teve um rendimento imediato e à altura dos antecessores foi Jackson. Com o devido respeito, não se pode exigir a Licá, Varela, Ricardo, Ghilas, Carlos Eduardo ou Herrera que façam o mesmo que os jogadores que saíram a troco de dezenas de milhões de Euros.

É certo que no Porto a qualidade do treinador pode ser um fator secundário para o sucesso, mas não se pode dizer o mesmo da qualidade dos jogadores.

Quem devia estar no olho do furacão é a "estrutura" que escolheu Paulo Fonseca e que falhou na missão de lhe dar matéria-prima que permita manter a equipa dominadora que o Porto tem apresentado nos últimos 3 anos. Mas é estranho que sejam poucos os comentadores que, quando procuram responsáveis pela situação, se dêem ao trabalho de o fazer para além do treinador.

Quando Manuel Queiroz tenta justificar o fracasso na Liga dos Campeões pelo facto de Paulo Fonseca não contar com Fucile, Izmailov, Carlos Eduardo, Kelvin e Iturbe, só pode estar a brincar. Alguém acredita que fariam alguma diferença em relação aos que estão a jogar? A verdade é que com ou sem esses jogadores, o banco do Porto deixa muito a desejar. Se as opções fossem melhores, certamente que Paulo Fonseca optaria por fazer substituições mais cedo, em caso de necessidade.

Outra questão relevante é que sem extremos de qualidade indiscutível, o poder ofensivo do Porto recai demasiado sobre os laterais. Danilo e Alex Sandro são excelentes jogadores, mas são defesas. Para poderem causar desequilíbrios lá à frente, é evidente que aumentam as probabilidades de sobrarem desequilíbrios defensivos quando o adversário recupera a bola. E se os avançados adversários conseguem chegar com muito mais facilidade à área do Porto, é natural que os defesas cometam mais asneiras do que habituaram os seus adeptos no passado.

Paulo Fonseca tem obviamente que responder por algumas decisões discutíveis que tem tomado, mas na minha opinião os problemas do Porto devem-se essencialmente ao facto de ter um plantel desequilibrado e com défice de classe relativamente ao que nos habituou nos últimos anos.

Todos sabemos que os adeptos do Porto estarão eternamente gratos a Pinto da Costa e aos restantes dirigentes pelo que lhes deram a ganhar nas últimas décadas, mas isso não justifica que canalizem toda a insatisfação na direção de Paulo Fonseca, esquecendo-se ao mesmo tempo de pedir responsabilidades a quem realmente manda e toma as decisões que acabam por definir o sucesso ou insucesso de uma época. É que quando as coisas correm bem, é sempre a "estrutura" que fica com os louros.

P.S.: não estou com este texto a fazer comparações do plantel do Porto com o do Sporting ou o do Benfica; estou apenas a comparar o plantel do Porto 2013/14 com o das épocas anteriores.