segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Farsa do Juíz da Beira, por Gil Vicente

Um compromisso inadiável impediu-me de ver o Gil Vicente - Sporting em direto. Deixei o jogo a gravar. Enquanto o jogo decorria, desliguei o rádio do carro, não olhei para o telemóvel, não atendi telefonemas (inadvertidamente deixei o telemóvel em silêncio, o que me ajudou nessa tarefa) e depois de chegar a casa não liguei a televisão. Desliguei-me do mundo, de forma a que conseguisse ver o jogo sem saber nada. Para poder sofrer como se fosse em direto. Eu sei que é patético, mas sempre fui assim. Num jogo em que o Sporting poderia isolar-se no comando do campeonato, ainda mais se justificava que o voltasse a fazer. E assim pude começar a assistir ao jogo, com o som quase no mínimo, às 22h30, na mais perfeita ignorância.

Mas não deu para sofrer muito. Para vibrar, sim, mas baixinho, para não acordar ninguém. O Sporting voltou a ser a equipa competente que nos tem habituado. Sem deslumbrar (com um campo e um adversário que dificilmente deixarão que qualquer equipa deslumbre), mas com muita concentração, espírito de luta e, claro, com um punhado de jogadores que sabem jogar à bola e que juntos valem mais do que a soma das partes.

Foto: Record
Mais uma vez, o Sporting resolveu o jogo aproveitando erros dos adversários. Mas já o escrevi antes, o Sporting joga de forma a provocar esses erros, e por isso ganha com tanto mérito quanto teria se tivesse resolvido o jogo em qualquer jogada de laboratório.

Grande jogo de André Martins (que só falhou na finalização, mas é muito bom sinal que tenha aparecido tantas vezes perto da baliza) e Montero (é incrível como a classe que revela a finalizar seja tão grande quanto a sua capacidade de jogar de costas para a baliza), bem secundados por Jefferson, Maurício, William Carvalho e Adrien. Rui Patrício foi chamado poucas vezes, mas voltou a ser decisivo. Mas na realidade ninguém jogou mal, e isso começa a ser uma constante. Os jogadores sabem o que têm a fazer em campo, e na ausência de inspiração tem sempre a oferecer transpiração.

Uma palavra sobre o adversário: Jorge Sousa não é da Beira, mas protagonizou uma farsa digna de Gil Vicente. 

Jorge Sousa teve um critério disciplinar incrível. Antes de Pek's ver o cartão vermelho, o Gil Vicente já devia ter dois jogadores expulsos (um acertou com os pitons na canela de Adrien e outro deu uma bofetada na cara de André Martins). O árbitro assinalou as duas faltas, mas só puxou do amarelo no segundo. Pek's, antes dos 10 minutos de jogo já tinha feito uma carga duríssima por trás sobre Montero e nem um amarelo. Vilela dá um pontapé em Jefferson quando este protegia a bola pela linha final, e nada. César Peixoto berra na cara de Capel e nada. Em oposição, destaca-se a facilidade com que amarelou os jogadores do Sporting (Cédric e Jefferson mereceram, Adrien e Rojo não). Aliás, o Sporting acabou com mais amarelos do que o Gil. Inacreditável. 

Uma palavra sobre o Gil Vicente: demonstrou pouco mais que uma equipa de caceteiros cujo único objetivo na vida é não sofrer golos e aproveitar uma ou outra saída para o contra-ataque. Triste um futebol como o nosso que vê uma equipa destas a lutar pelo 4º lugar.

Uma palavra para os sportinguistas presentes no estádio: fantásticos. O apoio que a equipa sente com estas manifestações de fé, certamente que os empurra para acrescentarem aquela ponta extra de empenho que ajuda a fazer a diferença. E se em Alvalade isso é um dado adquirido, nos estádios adversários não é tão fácil, pelo que fica o agradecimento humilde deste sportinguista a todos os que acompanham o nosso clube pelo país fora.

Uma palavra sobre Leonardo Jardim: classe. A dirigir a equipa, a postura, a falar, tudo. É enorme. Superou todas as expetativas que tinha (que eram moderadas) quando foi contratado. Hoje, na flash interview, mais uma vez esteve em grande. Peço desculpa pela qualidade do som (está muito baixo), mas vale a pena ver o vídeo que coloco de seguida.