sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os especialistas em futebol e a constatação do óbvio

Luís Sobral fez recentemente um artigo intitulado "O incrível impacto de Carlos Eduardo", no qual refere que o Porto parece ter encontrado a solução para o maior dos seus problemas. Ficam aqui algumas passagens que me parecem interessantes.

Durante este tempo de Paulo Fonseca no FC Porto, o principal problema sempre foi o meio campo.

O brasileiro cai nas alas, procura a bola junto de Fernando e Lucho e nem por isso deixa de surgir perto de Jackson e de se colocar em boa posição para rematar. Como é um rapaz humilde, como afirmou o treinador, acrescenta a isto trabalho sem bola, um aspecto que mais tempo de futebol europeu ajudará a consolidar.

Dito isto, não compro o discurso de Paulo Fonseca sobre a gestão do brasileiro. Entre Quintero, Herrera e Carlos Eduardo, o brasileiro seria sempre o mais adaptado a Portugal e aquele que teria melhores condições para poder entrar na equipa. Afinal, é mais velho e já jogava em Portugal. E no entanto foi logo afastado da lista para a Liga dos Campeões e remetido para a equipa B.

Neste processo, existiu uma de duas coisas: má avaliação dos três médios em questão ou uma opção ditada pelo custo de cada um deles. Deixar para trás Carlos Eduardo era a solução mais fácil. O tempo está a provar que foi um erro.

É isto que esperamos de um jornalista especialista em futebol. Fazendo uso do conhecimento acumulado durante anos, dá as suas opiniões de forma categórica, apontando o dedo às asneiras que treinadores cometem, sejam inexperientes ou catedráticos.

Frases concludentes como "Dito isto, não compro o discurso de Paulo Fonseca sobre a gestão do brasileiro.", "o brasileiro seria sempre o mais adaptado a Portugal e aquele que teria melhores condições para poder entrar na equipa." ou "Deixar para trás Carlos Eduardo era a solução mais fácil" são um sinal claro que Luís Sobral há muito tinha identificado Carlos Eduardo como a solução óbvia para os problemas do Porto, ou seja, aquilo que Paulo Fonseca e a sua equipa técnica falharam em perceber mais cedo.

Basta olharmos para as críticas mais recentes que Luís Sobral fez ao Porto, para verificarmos como o jornalista se antecipou a todos os outros. Por exemplo, após a derrota com a Académica.

Do meu ponto de vista, o principal problema continua por resolver há semanas: quem para jogar ao lado de Fernando? Esta noite foi Josué, que assinou uma exibição cheia de erros. O primeiro foi logo no minuto inicial, ao cometer falta para grande penalidade que o árbitro perdoou. Antes tinha sido Herrera. E antes e depois do mexicano, Defour.

Com Josué ali, Quintero foi remetido para a ala. Os adeptos adoram Quintero, mas o colombiano precisa de aprender tudo sobre jogo coletivo. Nesta fase da sua vida pode ajudar a partir do banco. Pedir mais do que isso é ter pouca noção de quão perdido ele aparenta estar em algumas fases do jogo.
Não vejo em Paulo Fonseca o único culpado pelo que se passa. Longe disso. É bem possível que os jogadores não estejam a conseguir dar tudo em campo. E é evidente que algumas das soluções pensadas para o plantel entre junho e agosto saíram erradas, ou pelo menos ainda não funcionaram.

Bom, afinal Luís Sobral não apresenta neste artigo Carlos Eduardo como a solução para os problemas do Porto. Limita-se aqui a constatar os problemas que já todos tinham percebido. Deve ter sido um lapso. Olhemos ainda mais para trás, para o que escreveu Luís Sobral após o empate do Porto com o Nacional.

Posição de Lucho

Com Paulo Fonseca, o argentino joga uns cinco a dez metros mais à frente do que era habitual. Recorrendo outra vez ao jogo com o Vitória, isso pode ser muito útil. Lucho tem feito golos e assistências. Mas quando a equipa perde a bola nota-se que são menos a defender. O FC Porto poderia equilibrar um pouco a coisa se tivesse um ala de maior trabalho. Creio que isso sucedia no início, com Licá. Mas não se repete com Josué, para quem defender é fazer faltas e correr de vez em quando para trás.

Ausência de Moutinho

Claro que o médio português faz falta. Imensa. Deffour começou por ser a escolha, agora vive no banco. Castro foi dispensado. Ter ali Josué parece que é risco a mais. Sobra Herrera. O mexicano pode ser um campeão nos treinos e possuir um potencial enorme. No entanto, até agora não mostrou nada nos jogos. Olho para ele e não descubro uma característica que os médios do Vitória de Guimarães, do Sporting de Braga ou Tarantini não tenham. E é evidentemente menos jogador do que Evandro, do Estoril. Talvez venha a perceber, para já não entendo como pode ser titular no FC Porto.

Bom, Luís Sobral fala em Fernando, Lucho, Quintero, Herrera, Defour, Licá, Josué, Lucho, Moutinho, Evandro, Tarantini, mas nem uma palavra sobre Carlos Eduardo. Espanta-me que tenha guardado para si aquilo que agora apresenta como a solução evidente para resolver os problemas do Porto.

Se calhar é mesmo verdade que Luís Sobral é benfiquista, e guardou o segredo para si para que o Porto não melhorasse o seu rendimento.

Ou então é apenas mais um dos muitos comentadores que andam por aí a encher linhas limitando-se a constatar o óbvio de uma forma pretensiosa. Curiosamente, sem fazer a ressalva que as grandes exibições de Carlos Eduardo tenham sido conseguidas a jogar fora contra a equipa com pior prestação em casa (Rio Ave) e a jogar em casa contra a equipa com pior prestação fora (Olhanense).

Mas isso não interessa nada. Ao fim de dois jogos completos, Carlos Eduardo já faz lembrar Deco a muitos especialistas, e é claro como água que é a solução para o problema do meio-campo do Porto.

Mas pronto, não me levem muito a sério. Eu não sou especialista em futebol e vejo poucos jogos para além do Sporting. É só a minha inveja a falar.

in O Jogo