quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Fogo de artifício com pólvora seca

Pedro Marques Lopes, na semana passada, escreveu para o jornal A Bola um curioso relato sobre a forma como viveu a vitória nos descontos do Porto sobre o Marítimo, que valeu o apuramento para as meias-finais da Taça da Liga.

Comemorei rijamente a vitória do FC Porto frente ao Marítimo. Não foi por dar especial relevância à Taça da Liga: é um torneio que jogamos logo é para ganhar, mas olho para ele como olhava, em tempos, para os campeonatos de reservas. Também não foi por a equipa ter feito um grande jogo: foi uma das piores exibições do FC Porto esta época. Mais uma vez assistimos a uma completa anarquia tática, a um meio-campo incapaz de controlar ou dar dinâmica ao jogo e a jogadores perdidos sem saberem bem o que fazer, enfim, infelizmente mais do mesmo.
A minha grande alegria vem de termos percebido claramente que o fundamental, aquilo que é o mais importante, o que define um clube como ganhador está incólume. Foi a alma, a garra, a vontade de ganhar, a capacidade de os jogadores se transcenderem que deu a vitória ao FC Porto. (...) Foram as camisolas que ganharam aquele jogo. As camisolas do FC Porto. (...)
Pode-se perder campeonatos e taças, mas uma equipa que mostre sempre o que o FC Porto mostrou no fim de semana passado ganhará muitíssimas mais vezes do que as outras. 

Entendido. Pedro Marques Lopes continua depois a escrever sobre o jogo para o campeonato com o Marítimo, que se disputaria no dia seguinte.

A garra e a vontade de ganhar viajarão para o Funchal mas vai ser preciso mais do que isso para ganhar ao Marítimo. Uma coisa é certa: se a qualidade de jogo for igual ao do último fim de semana teremos um grande desgosto.

Não sou psicólogo nem tenho nenhum dom especial que me permita adivinhar aquilo que as pessoas estão a pensar quando afirmam determinadas coisas, mas confesso que fico com a sensação de que todo este raciocínio soa bastante a falso.

As rijas comemorações, segundo Pedro Marques Lopes, não foram pela importância da competição, que compara a uma prova de reservas, apesar de o Porto ter utilizado nas três jornadas da Taça da Liga 9 ou 10 jogadores habitualmente titulares.

Também não foi pela exibição. O autor é claro ao escrever que foi uma das piores exibições da época.

Explica-nos Pedro Marques Lopes que foi por ter percebido que as camisolas do Porto continuam a conseguir ganhar jogos. Mesmo sendo uma equipa taticamente caótica e com jogadores perdidos sem saberem o que fazer, a força de vontade e a garra de quem enverga aquela camisola será suficiente para permitir ao Porto continuar a ganhar mais do que os outros. Mas logo a seguir diz que no Funchal, contra a mesma equipa que acabaram de derrotar, vai ser preciso mais do que a tal força de vontade e garra porque se a qualidade de jogo for a mesma terão um grande desgosto? Homem, decida-se!

A minha teoria sobre o que levou Pedro Marques Lopes e a generalidade dos portistas a festejar rijamente, mas que não querem admitir, tem a ver com isto: foi o facto de se terem superiorizado ao Sporting. Nada lhes custaria mais do que serem afastados pelo Sporting da Taça da Liga, após a "afronta" que Bruno de Carvalho lhes fez. Desta vez (e no jogo do campeonato) o Porto ainda conseguiu levar a melhor, mas com uma dificuldade raramente vista nos últimos dez anos.

Ao contrário dos sinais de recuperação que se sentem no Sporting, o Porto vive um período claro de decadência. Os sinais são muitos. O facto de revelarem esta euforia ao eliminarem o Sporting, apesar da sequência de jogos miserável que têm visto da sua equipa, não é natural num clube confiante na sua capacidade de manter a hegemonia que tem conseguido nas últimas décadas.

Mas existem outros sinais. Plantel insuficiente, em que os melhores jogadores que ficaram já estão com a cabeça noutro lado, não se vislumbrando um número suficiente de jogadores capazes de os substituir num futuro próximo. Dirigentes que se alinham já a pensar na sucessão presidencial. Um modelo de negócio desvirtuado, que necessita de vendas monstruosas para sustentar as compras milionárias que se habituaram a fazer e a rede obscura de empresários e comissionistas que gravita à sua volta. Tiques de novo rico, gastando rios de dinheiro em contratações de jogadores apenas para impedir que fossem contratados pelos rivais, e construindo um museu megalómano que nunca se irá pagar a si próprio e será um permanente sorvedouro de recursos. Museu esse que teve uma inauguração com pompa e circunstância reservada a uma elite, com os sócios e adeptos anónimos apenas poderem visitá-lo um mês depois.

O ciclo está mesmo a chegar ao fim, e a decadência que assistimos parece acompanhar diretamente a perda de faculdades da pessoa que está no centro de toda esta organização. E, como sabemos, há determinadas coisas que é impossível inverter. O peso da idade é uma delas.