sexta-feira, 7 de março de 2014

A utilização de João Mário e Betinho contra o Sporting

No próximo domingo o Sporting defrontará o Vitória de Setúbal, clube que ocupa uma confortável 10ª posição, 9 pontos acima da zona de despromoção. Desde a entrada de José Couceiro, o Setúbal tem conseguido trepar lugares na classificação muito à custa dos jogos realizados em casa, onde conseguiu 11 pontos em 15 possíveis. A carreira fora de casa tem sido o inverso, onde o Setúbal de Couceiro conquistou apenas 4 pontos em 15 possíveis.

Podemos concluir, portanto, que a deslocação a Setúbal não se afigura fácil para o Sporting.

Para além do reencontro do Sporting com um ex-treinador, ex-dirigente e ex-candidato à presidência, este jogo tem uma outra curiosidade: o Setúbal é o clube a quem foram emprestados João Mário e Betinho. 

João Mário tem sido titular indiscutível e vem rubricando uma série de jogos muito interessantes, a ponto de ter sido considerado o melhor jogador jovem da liga para os meses de Janeiro / Fevereiro. 

Betinho tem estado ausente devido a lesão, mas foi utilizado pela primeira vez no último fim-de-semana em Barcelos, quando foi lançado aos 86'.

Se estivéssemos a falar de jogadores emprestados por Porto ou Benfica, seria certo que teriam o supremo azar de se lesionarem no último treino antes do jogo, ou então a direção do Setúbal entenderia que seria o jogo ideal para os pôr na bancada de forma a valorizar outros jogadores do clube.

Apesar de os regulamentos proibirem cláusulas de não utilização de jogadores emprestados contra os clubes de origem, é evidente para todos que quer Porto quer Benfica contornaram a lei através de acordos verbais. 

Não existe nada nos regulamentos que tenha forçado o Guimarães a não utilizar Abdoulaye contra Porto ou Urreta contra Benfica, mas o clube sabia quais seriam as consequências se não lhes fizesse a vontade. O mesmo se aplicou ao Belenenses, no último fim-de-semana, ao não utilizar Miguel Rosa -- neste caso com a agravante de nem sequer se tratar de um jogador emprestado. A estapafúrdia justificação do Belenenses em deixar de fora um dos seus principais jogadores para poder valorizar um outro jogador de quem detêm uma percentagem superior do passe (e que só entrou a 20 minutos do fim), numa altura em que estão na zona de despromoção, é quererem fazer de todos nós parvos. E o Belenenses também deixou Rojas e Deyverson na bancada, dois jogadores emprestados pelo Benfica.

Este é um dos motivos que me leva a ter a opinião de que não deveriam ser permitidos empréstimos de jogadores a clubes da mesma divisão:
  • Surgem sempre suspeitas quando chega a altura de defrontarem o clube com quem têm contrato: se os jogadores emprestados ficam de fora, a verdade desportiva está a ser desvirtuada, mas se jogam e têm o azar de o jogo lhes correr mal é porque fazem de propósito
  • Com o estado atual das finanças do futebol em Portugal não faz sentido que qualquer clube, mesmo os grandes, tenha mais jogadores do que o estritamente necessário, podendo de qualquer forma colocá-los em divisões inferiores ou em ligas de outros países
  • Clubes com muitos jogadores emprestados do mesmo clube estarão sempre mais fracos se não os puderem utilizar contra é dono do passe, o que não é justo para os rivais em competição
  • Clubes que tenham relações privilegiadas com os grandes tem o benefício de terem um acesso mais facilitado a jogadores de qualidade, o que também desvirtua a competição relativamente a outros clubes da mesma dimensão com uma linha de rumo mais independente

Voltando a João Mário e Betinho, espero que ambos joguem contra o Sporting. Felizmente o nosso clube não tem a tradição dos rivais em tentar arranjar vantagens ilícitas fora de campo para aumentar as suas probabilidades de vitória, mesmo que isso por vezes nos provoque grandes amargos de boca. Por exemplo, não deve haver nenhum sportinguista que não se lembre do golo de Wilson Eduardo que ditou o empate entre com o Olhanense na 1ª jornada da época de 2011/12, brincadeira que viria a repetir em Coimbra na época seguinte, ou ainda dos jogos de Cédric e Adrien na final da Taça de Portugal que o Sporting perderia para a Académica.

Em nome da transparência, o Sporting não deve utilizar os estratagemas em que Porto e Benfica são especialistas. Não só porque é a atitude moral e eticamente correta, mas também porque o Sporting está no meio de um processo em que procura reunir à sua volta um consenso alargado com os restantes clubes profissionais, de forma a implementar medidas que permitirão combater alguns dos podres do futebol.

Que moral teria o Sporting para falar em transparência e verdade desportiva se à primeira oportunidade tentasse tirar partido de uma situação que não é permitida pelos regulamentos?