domingo, 23 de março de 2014

Há ataques mais prometedores que outros

O Sporting conseguiu ontem uma vitória indiscutível. Dominou o jogo durante a maior parte do tempo, havendo apenas um período de 15 minutos em que o controlo pareceu perdido, altura em que o Marítimo conseguiu algumas oportunidades de perigo para a baliza de Rui Patrício.

A chave do jogo esteve, na minha opinião, no trio do meio-campo. Adrien foi um mouro de trabalho a recuperar bolas e a pressionar o portador adversário e esclarecido como de costume a distribuir jogo, William foi William, e Mané esteve muito bem a 10 - não só criou desequilíbrios através da sua velocidade (fosse pelo meio, fosse pela ala direita), combinou sempre bem com Heldon, e arriscou diversas vezes passes a rasgar que causaram enormes calafrios à defesa do Marítimo. É verdade que o setor defensivo do Marítimo não será o teste mais complicado à capacidade de Mané ocupar terrenos mais centrais, mas a prova de ontem foi indiscutivelmente superada.

Foto: O Jogo

Rojo, mais uma vez, esteve muito bem. Inteligente quando tinha que sair da sua posição (subindo uns metros para impedir a receção de bola entre-linhas pelos jogadores do Marítimo) e apenas numa situação se deixou antecipar na área, num cabeceamento perigoso de Derley. Está a tornar-se num central fantástico, que é algo que nunca me imaginaria a escrever há um ano. 

Slimani é um mouro de trabalho, nota-se que coloca a defesa adversária em sobressalto pela pressão que faz à saída de bola. Ontem marcou mais um, mas Jorge Sousa anulou-o de forma incorreta. Capel não esteve particularmente inspirado, mas em contrapartida Heldon fez o melhor jogo de leão ao peito até agora.

Jorge Sousa foi... Jorge Sousa. Não consigo concordar com quem diz que fez uma excelente arbitragem. É certo que decidiu bem no penálti sobre Mané. Nos lances indiscutíveis Jorge Sousa não inventa. Mas nos outros...

O Marítimo acabou o jogo com três cartões amarelos: Márcio Rosário, na falta do penálti (indiscutível); Gegé, numa falta dura sobre Capel quando o espanhol se preparava para ganhar a linha de fundo (indiscutível), e Nuno Rocha por protestos desadequados (indiscutível). 

O Sporting, essa equipa de caceteiros que tratam a bola como um calhau, acabou o jogo com seis amarelos.

1º amarelo: Slimani prepara-se para virar na direção da baliza e deixar Danilo Pereira para trás, aos 11'; o jogador do Marítimo agarra Slimani ostensivamente, impedindo que o argelino tire proveito dos vinte metros de terreno livre que teria à sua frente; o árbitro marca falta, Slimani pede amarelo para o adversário e acaba por levar ele o amarelo. Não discuto a justiça do amarelo a Slimani (por exemplo, Siqueira também viu um amarelo nas mesmas circunstâncias contra o Paços), mas segundo a teoria do ataque prometedor, Danilo Pereira tinha também que ver o amarelo.

2º amarelo: aos 43', Jefferson faz uma entrada por trás, que não foi propriamente dura nem cortou nenhum lance perigoso, mas Jorge Sousa não perdoou.

3º amarelo: aos 76', cartão para Rui Patrício por perda de tempo. A transmissão mostrava repetições de outra jogada, pelo que não deu para ver o tempo que Patrício perdeu, mas a verdade é que ao longo deste ano temos visto guarda-redes a demorarem eternidades para repôr a bola em jogo, sem qualquer tipo de penalização.

4º amarelo: aos 79', Maurício vê um cartão amarelo por uma falta que também não foi dura nem cortou uma jogada perigosa. Admito que possa ter sido pela sequência de faltas.

5º amarelo: aos 84', William conduz um contra-ataque pelo flanco direito; Danilo Pereira agarra-o repetidamente; o árbitro não interrompe, e o William acaba por proteger a bola virando-se de costas para a baliza, passando de seguida para Montero; um defesa do Marítimo antecipa-se a Montero, que o agarra; aqui Jorge Sousa não espera para ver se o jogador do Marítimo consegue continuar a jogada e mostra amarelo a Montero.

6º amarelo: aos 90'+1, William mete o pé sobre Derley, e Jorge Sousa mostra amarelo.

Analisando individualmente, qualquer um destes amarelos são admissíveis, mas a verdade é que a tolerância que Jorge Sousa para as faltas maritimistas foi bem superior. João Diogo fez pelo menos duas faltas sobre Capel por trás (semelhantes à de Maurício), e não viu cartão. Danilo Pereira, para além das duas faltas que já referi, fez outra falta sobre Mané, que se preparava para iniciar um ataque perigoso. Danilo Pereira acabou o jogo sem qualquer cartão. Num lançamento para as costas da defesa do Marítimo, Bauer nem se dá ao trabalho de disputar a bola, preferindo agarrar Slimani quando este se preparava para arrancar em perseguição do esférico. Amarelo, nem vê-lo.

E ainda há o golo anulado. Quer Montero quer o defesa do Marítimo levantam o pé ao nível da cabeça. Porque motivo Jorge Sousa preferiu ver apenas falta de Montero?

Gostava de ver a estatística de faltas de William. Deve ser o jogador do campeonato com o maior rácio de cartões amarelos por faltas cometidas.

O importante é que os três pontos já cá cantam. A equipa fez mais que o suficiente para o conseguir num campo extremamente complicado. O ataque prometedor à Liga dos Campeões está cada vez mais perto de se concretizar em golo, o que é um cenário que poucos de nós anteciparíamos há alguns meses atrás. Mas não pode haver qualquer relaxamento dos níveis de concentração. O adversário direto não está muito longe, os amarelos continuam a acumular-se para se transformarem em castigos. Não nos poderemos esquecer que, para a maior parte dos agentes que gravitam à volta do futebol, os ataques dos outros são sempre mais prometedores que os nossos.