quarta-feira, 16 de abril de 2014

Crescimento e desafios

A próxima época do #Sporting                                                                                                          
Jorge Maia, jornalista do jornal O Jogo, escreveu o seguinte a propósito do que o Sporting alcançou este ano e dos desafios que se seguem:

in ojogo.pt

O jornalista constata que o 2º lugar que o Sporting está prestes a assegurar é sinal de um “enorme crescimento”, mas na frase imediatamente a seguir lembra que o “verdadeiro desafio” será a próxima época. Compreendo o raciocínio de Jorge Maia: é diferente enfrentar uma época com expetativas reduzidas do que carregar aos ombros a responsabilidade de lutar pelo título, com a exigência adicional da Liga dos Campeões a meio da semana.

Desde que o Sporting se colocou numa posição privilegiada para garantir o apuramento direto para a Liga dos Campeões, temos sido relembrados constantemente pelos opinion makers da nossa praça que o clube terá que se fortalecer para enfrentar as exigências acrescidas da próxima época, e que o plantel atual já está a jogar há muito no limite das suas capacidades. Os comentadores chegam, de forma comovente, a temer pela possibilidade de o Sporting se envergonhar a si e ao país no eventual confronto com os tubarões europeus.

Apesar de abordarem questões relevantes em relação ao futuro próximo do Sporting, estas análises parecem-me superficiais e ignoram alguns pontos que deveriam ser levados em consideração. Passo a explicar porquê.

O “verdadeiro desafio” dos comentadores

Falar nos obstáculos que a próxima época trará como o verdadeiro desafio é uma forma de desvalorizar tudo o que o Sporting conseguiu até agora. Será que fazer os ajustes necessários para a próxima época será assim tão mais complicado do que aquilo que foi alcançado ao longo deste ano desportivo?

Talvez os nossos comentadores andem distraídos, mas o Sporting passou da pior época da sua longa história, com a agravante de se ter que fazer um corte orçamental brutal em tempo recorde (os custos com pessoal foram reduzidos de €48M para €25M), para um ano em que acaba por conseguir intrometer-se entre dois clubes com uma estabilidade, plantel e recursos financeiros muito superiores.

Em agosto, o limite das aspirações do Sporting era lutar com o Braga pelo 3º lugar. Todos percebemos ao fim de algumas jornadas que esse desafio seria superado. Depois caiu na real após a derrota no Dragão, e muitos imaginavam que era o fim de um conto de fadas que durou uns meses mais do que o esperado. O Sporting recuperou e voltou a superar o desafio. Depois era necessário enfrentar os rigores do inverno. Desafio novamente superado. Depois foi a derrota esclarecedora com o Benfica, que certamente iria deixar marcas psicológicas. Desde esse dia, a equipa respondeu em campo com 8 vitórias e 1 empate. Desafio superado, diria eu.

Na minha opinião, tratavam-se efetivamente de desafios reais capazes de vergar equipas menos preparadas e coesas, mas que o Sporting foi sucessivamente ultrapassando. Por que motivo haveremos de considerar os objetivos da próxima época como especialmente difíceis?

O limite do crescimento do plantel atual

O argumento principal utilizado para explicar as dificuldades que o Sporting terá na próxima época é a qualidade do plantel atual. Mais uma vez, não me parece que seja por aí. Olhemos para o intervalo de idades dos jogadores do Sporting convocados esta época (excluí Welder e Piris que, sendo emprestados, dificilmente ficarão em 2014/15):
  • 18 a 22 anos: Dier, Cédric, William Carvalho, Carrillo, Mané, Wallyson, Esgaio, Dramé, Rúben Semedo (9 jogadores)
  • 23 a 26 anos: Rui Patrício, Maurício, Jefferson, Rojo, André Martins, Adrien, Slimani, Montero, Capel, Heldon, Wilson Eduardo (11 jogadores)
  • 27 a 29 anos: Marcelo, Shikabala, Gerson Magrão (3 jogadores)
  • 30 ou mais anos: Vítor (1 jogador)


Querem convencer-nos que uma equipa em que os jogadores mais utilizados têm no máximo 26 anos, não tem margem de progressão? Pelo contrario. É mais ou menos consensual que o auge da carreira de um jogador anda algures entre os 26 e os 30 anos (ou mais, no caso dos guarda-redes). Todos os jogadores do plantel poderão ficar ainda melhores com o tempo.

Para além disso, andamos há meses a ouvir que Garay (27 anos) e Luisão (33 anos) andam a formar uma dupla cada vez melhor. Não será possível esperar que Rojo e Maurício (ou Dier) possam também evoluir com o hábito de jogarem juntos? Ou o trio do meio-campo entender-se cada vez melhor entre si e com os jogadores dos restantes setores?

Há uma grande margem para este plantel evoluir, quer do ponto de vista individual, quer do ponto de vista coletivo. Nada será alcançado de um dia para o outro, mas é perfeitamente natural que a estabilidade proporcione níveis de rendimento superiores ao longo do tempo.

O verdadeiro desafio (sem aspas) do Sporting

Na minha opinião, a próxima época trará efetivamente uma dificuldade adicional: os jogos europeus vão exigir um plantel mais profundo do que o atual, principalmente ao nível do meio-campo e das laterais. O tal reforço cirúrgico de que o presidente falou.

O assumir da candidatura ao título é uma falsa questão, que certamente será gerida pela equipa técnica com o pensamento jogo a jogo que tão bons resultados tem alcançado este ano. É claro que será importante que Bruno de Carvalho consiga enquadrar o seu discurso de forma consistente, não fugindo de muito de qualquer coisa como “Construímos este plantel com o objetivo de sermos candidatos ao título, sabendo que teremos de continuar a encarar um jogo de cada vez para conseguirmos corresponder às expetativas dos sportinguistas.”.

O verdadeiro desafio será conseguir manter os principais jogadores do plantel satisfeitos: Rui Patrício tem a expetativa de ir jogar para o estrangeiro há alguns anos; Rojo pertence 75% a um fundo e pode ser impossível mantê-lo num ano de mundial; William Carvalho, depois do interesse que se fala dos tubarões europeus, pode querer dar o salto já este ano, apesar de neste caso me parecer mais fácil de o manter satisfeito em Alvalade, com um aumento salarial significativo e com a participação na Champions da próxima época.


Tudo o resto dependerá da competência da direção em manter a equipa técnica focada (renovação de contrato de Leonardo Jardim impõe-se após o final do campeonato), premiar os jogadores cujas condições salariais estão abaixo do rendimento apresentado, e continuar a passar a mensagem das restrições orçamentais que o clube vive.