quinta-feira, 22 de maio de 2014

Cortinas de fumo

Pinto da Costa recupera o discurso contra o centralismo                                                       
in record.pt

in ojogo.pt

Curioso como o presidente do Porto retoma este discurso gasto e populista sempre que os resultados desportivos ficam abaixo do esperado. Num dia em que se deslocou a uma das câmaras municipais mais endividadas do país (que por acaso até lhe ofereceu um luxuoso centro de estágio a troco de uma renda ridícula), Pinto da Costa não perdeu a hipótese para dar uma lição de moral aos outros, num período em que pessoas em todos os cantos do país sofrem com os cortes salariais, despedimentos, aumentos de impostos, e com a deterioração dos serviços de saúde e ensino.

"Quando o Norte está mal, o país está pior", diz o presidente da CM Gaia. É verdade. Da mesma forma que o país fica pior quando o Alentejo está mal, quando o interior está mal, quando as ilhas estão mal, quando o Algarve está mal, ou quando Lisboa está mal -- sim, a austeridade também chegou a Lisboa.

O ataque que Pinto da Costa faz, mais do que à região de Lisboa, é ao poder central. Mas a forma como o faz é suficientemente dúbia para conseguir mobilizar os portistas (e não os portuenses) contra os inimigos da capital (Benfica e Sporting). A hipocrisia da declaração esbarra nas próprias ações do presidente portista, que sempre apreciou ser recebido no parlamento para umas grandes almoçaradas com os deputados azuis e brancos -- à semelhança do que os outros clubes também fazem, bem entendido.

Como é evidente, todo este discurso não passa de uma cortina de fumo lançada por Pinto da Costa para desviar as atenções dos problemas do clube. Uma época tenebrosa com um investimento milionário sem qualquer retorno desportivo, contas totalmente desequilibradas e problemas de tesouraria, uma estrutura dirigente fragmentada, um treinador que não motiva nem os adeptos mais entusiastas, e um plantel enfraquecido que ainda assistirá à saída de algumas das suas principais figuras.

Despesismo megalómano sem proveitos que se vejam não é um exclusivo do Estado português. Basta olhar para o R&C do 1º semestre do FCP.