quinta-feira, 5 de junho de 2014

As palavras de Bruno de Carvalho a três tempos

                                                                                                                             
Quando ouvi as declarações que Bruno de Carvalho proferiu ontem, a minha primeira reação foi de diversão. Gostei particularmente da frase "temos duas nádegas que se enfrentam uma à outra dizendo 'estou aqui e sou melhor do que tu'" -- achei a metáfora bastante engraçada e adequada perante as figuras a que o presidente se referia.

Numa segunda fase, lembrei-me que tinha sido o presidente do meu clube a dizer tais palavras. Não que as expressões "ânus", "vento mal cheiroso" ou "trampa" possam ser consideradas vernáculo da pior espécie, mas foi uma conversa demasiado gráfica e rasteira que não fica bem ao principal representante de uma instituição como o Sporting. Bruno de Carvalho representa os todos os sportinguistas, e certamente que uma grande parte não se revê nesta forma de comunicar. Eu, pessoalmente, não me sinto chocado nem ofendido, mas penso que Bruno de Carvalho devia evitar este tipo de expressões.

Finalmente, passando a questão da forma sobra a questão do conteúdo. E o que Bruno de Carvalho disse tem toda a razão de ser. Infelizmente, ao ter falado como falou, o presidente desviou a atenção do essencial (o conteúdo) para o acessório (a forma). E o essencial, a meu ver, foram estas palavras sobre as eleições da Liga:
"Alguns clubes sentaram-se e, sem fazer a mínima ideia de quem são os candidatos, definiram apoios. O sistema democrático é as pessoas apresentarem-se e não por antecipação criarem-se condicionalismos de apoio. Isso tem-se passado."

E é isso que critico: com o estilo que empregou, Bruno de Carvalho conseguiu chamar a atenção de toda a comunicação social (menos o Maisfutebol, que é demasiado fino para estas coisas) para as suas palavras, mas a discussão vai girar durante dias à volta do acessório. Bruno de Carvalho, sendo presidente do Sporting, não precisa de colorir a rosa ou a castanho as suas palavras para que tenham eco na comunicação social.

Entretanto, alguns clubes continuarão a sentar-se a definir apoios, não em função dos programas e das ideias que têm para melhorar o futebol português, mas em função dos interesses instalados, e poucas serão as pessoas na comunicação social que se lembrarão de falar ou escrever sobre isso.