quarta-feira, 4 de junho de 2014

Como de 45 se tiram 17

As contas das vendas de Rodrigo e André Gomes                                                                    
Não há dúvida que os €70M que o Benfica realizou com as vendas de Matic, Rodrigo e André Gomes trouxeram um enorme desafogo às contas do clube. Com estes €70M de vendas, o clube apresentou um lucro de €15M no conjunto dos 9 meses desta época (os €31M de lucro que apareceram nos jornais referem-se apenas ao período entre 1 de janeiro e 31 de março).

Se a venda de Matic foi limpinha (o Benfica detinha 100% do passe, desconhecendo-se apenas a comissão que foi paga ao empresário que organizou a transferência -- como o pagamento dos ingleses foi a pronto, o empresário também deve ter recebido a sua comissão a pronto, pelo que essa verba não aparece nos saldos deste relatório trimestral), já a de Rodrigo e André Gomes não é tanto.

Apesar de no fecho da janela de transferências de inverno o Benfica ter anunciado que receberia €45M pelos dois jogadores, mais tarde teve que clarificar que parte dos passes pertenciam ao Benfica Stars Fund. Sobraram, portanto, €33,3M para o Benfica -- uma soma de qualquer forma impressionante, reconheço.


Ao contrário do que eu pensei na altura, não foi uma urgência de tesouraria que levou o Benfica a vender os dois jogadores a um fundo. É que até ao final de março, o fundo apenas pagou 10% do valor da transferência ao Benfica, ou seja, €3,3M.


Não é muito, mas já é mais do que o Benfica recebeu do outro fundo relativamente à venda de Roberto. Para além disso, ficámos também a saber que Jorge Mendes, como é habitual, teve direito aos seus luxuosos honorários pela transação que mediou.


Segundo o que diz o relatório apresentado pelo Benfica, o clube deve neste momento a Jorge Mendes €6,5M pelo seu papel nas vendas de Rodrigo e André Gomes ao fundo de Peter Lim, da venda de Bruno César ao Al-Ahli (que se deve cifrar no máximo em poucas centenas de milhar de euros), e pelo empréstimo (!) de Fariña ao Baniyas, o tal jogador que foi contratado para ser emprestado logo a seguir (que não poderão ser mais que uns trocos).


Atendendo que o valor que o Benfica devia a Jorge Mendes em Junho de 2013 parece estar pagos (segundo o que é possível concluir do texto que coloquei em cima), significa que a grande fatia dos €6,5M devidos a Mendes deverão dizer respeito ao negócio Rodrigo / André Gomes. Especulando um pouco, diria que desses €33,3M devem ter sobrado no máximo €28M para o Benfica.

Justiça seja feita a Jorge Mendes, cobra caro aos clubes mas consegue transferências milagrosas, pelo que vale bem o que lhe pagam.

Nada disto é estranho no mundo do futebol. Passes detidos parcialmente por outras entidades e comissões milionárias de empresários começam a ser a regra, e não a exceção, e todos os grandes clubes portugueses têm um longo histórico em recorrer a essas parcerias.

Vieira gosta muito de dizer que o Benfica preza a transparência, mas é curioso como na altura os dirigentes do Benfica preferiram repetir exaustivamente que encaixaram €45M das vendas -- foi preciso esperar mais de dois meses para clarificarem essa afirmação. Mas a verdade é que no fim apenas irão acabar por entrar nos cofres do clube cerca de €28M, ou seja, cerca de 60% do valor anunciado inicialmente aos benfiquistas -- assumindo que este fundo não é como o de Roberto.

EDIT (16h): após ler alguns dos comentários e ter voltado a olhar para as contas, vi que existe um valor devido à Benfica Stars Fund nos outros credores, que poderá ter a ver com esta transferência. Não há detalhe do que significa esse valor, pelo que não há forma de ter a certeza. De qualquer forma, por uma questão de justiça tenho que referir que é possível que seja o Benfica a receber os €45M e depois redistribuir os tais €17M pelos restantes intervenientes -- e nesse caso isso significaria que a Meriton teria pago, a 31 de março, €15M, ou seja 1/3 do valor total, e não apenas €3,3M. Isto não muda nada em relação ao valor que efetivamente entrará nos cofres do Benfica: cerca de €28M.