A alteração da política de contratações do #FCPorto
Não parece haver grandes dúvidas de que o Porto está a
apostar fortíssimo na próxima época. Pinto da Costa parece empenhadíssimo em
evitar que a sua equipa fique um segundo ano consecutivo sem vencer o
campeonato, e a maior prova disso é aparente e inédita delegação de poderes em
favor de Jorge Mendes e Julen Lopetegui, em detrimento da famosa estrutura que
era considerada o alicerce da hegemonia do clube.
A fórmula de sucesso que tantos milhões costuma dar a ganhar
ao Porto parece estar a ser substituída por uma outra que, a médio / longo
prazo, será uma enorme interrogação em termos de eventuais consequências para
os cofres do clube.
A estratégia portista costuma passar por comprar jovens com
grande potencial por valores relativamente elevados para a nossa realidade,
capazes de fazer a diferença no campeonato português no imediato ou a curto
prazo, e com grandes hipóteses de serem vendidos por valores altamente
lucrativos após duas ou três temporadas de alto rendimento desportivo. Falcao,
James, Hulk, Mangala, Defour, Jackson, Quintero, Herrera, Reyes são alguns
exemplos de jogadores que vieram para o Porto por valores que variaram entre os
€5M e os €10M, normalmente com pouco mais de 20 anos de idade. Acima desses
valores, o Porto apenas adquiriu Moutinho, Alex Sandro e Danilo.
Esta época, até ver, apenas Bruno Martins Indi parece
enquadrar-se na política de contratações tradicional (custou €7,7M, tem 22 anos
e é titular de uma seleção de 1ª linha). A chegada de Óliver, Adrián e Tello
(jogadores espanhóis que certamente virão a pedido explícito de Lopetegui e que
serão apostas regulares no onze) afasta-se completamente da fórmula seguida nos
últimos anos.
Óliver vem emprestado e sem cláusula de compra. É ridículo
um clube como o Porto estar a desenvolver jogadores com enorme potencial sem
poder vir a tirar quaisquer proveitos financeiros dessa aposta.
Adrián tem 26 anos, e foi contratado por €11M (equivalente a
60% do passe). Em primeiro lugar, é discutível que um jogador que tem sido segunda
opção e marcado tão poucos golos nas últimas épocas valha €18,3M (correspondendo
aos 100% do passe). Depois, com a idade que tem dificilmente dará proveito
desportivo e financeiro ao Porto, a não ser que faça uma época absolutamente estrondosa.
Tello vem emprestado por 2 anos, o Porto paga €2M (resta
saber se pelos dois anos do empréstimo ou por cada um dos anos) e tem opção de
compra do jogador por uma verba não divulgada. No entanto, o Barcelona pode, no
final do 1º ano de empréstimo, anular a opção de compra do Porto e antecipar o
fim do empréstimo. Isto significa que se Tello fizer uma excelente época é bem
possível que o Porto não consiga realizar qualquer encaixe com o jogador.
Os portista mais despreocupados podem sempre argumentar que
o que interessa é o comportamento desportivo dos jogadores e a conquista de
títulos, mas a verdade é que o Porto tem um défice estrutural de cerca de €50M que tem que ser compensado
com mais-valias de vendas de jogadores. No final do 3º semestre de 2013/14, o
Porto acumulava prejuízos na ordem dos €38M, já incluindo a venda de Otamendi
por €12M ao Valência.
É estranha esta mudança de estratégia, que
reduzirá as hipóteses das vendas monumentais nos próximos anos (e que
sustentaram a máquina portista durante a última década), sem que seja evidente uma reestruturação que reduza os pesadíssimos custos estruturais do clube.