quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Os casos de Rojo e Slimani, e um presidente que não se esconde

                                                                                                                                        
A minha visão dos casos Rojo e Slimani antes das notícias da rotura entre jogadores e clube

Ponto prévio: na minha opinião Rojo e Slimani são dois jogadores importantíssimos, e gostaria de continuar a vê-los de leão ao peito durante esta época. Rojo é para mim o nosso melhor central (e a recente saída de Dier torna-o ainda mais importante), e Slimani possui qualidades que mais nenhum jogador do plantel tem, e que são essenciais num campeonato como o nosso (como tivemos oportunidade de testemunhar ao longo da época passada).

Tratando-se de dois jogadores que deram nas vistas durante o mundial, com tudo o que isso implica ao nível da valorização dos seus passes, via no entanto algumas diferenças fundamentais nos dois casos que poderiam levar a direção a facilitar um pouco mais a saída de Rojo: 
  • Convites de clubes como o Manchester United não surgem todos os dias;
  • €20M é uma verba considerável para um defesa central (casos como os de Mangala e David Luiz são anomalias em relação ao que é o valor típico de jogadores de topo nesta posição); 
  • O jogador já cumpriu dois anos de contrato no Sporting, o que não sendo o ideal (a bem da estabilidade e competitividade do plantel, deveríamos evitar a saída de jogadores que não nos tivessem proporcionado 3 anos de rendimento desportivo) já é alguma coisa;
  • O Sporting não tem condições para lhe oferecer um salário superior para o manter satisfeito mais um ano.

No caso de Slimani, penso que o Sporting tinha todas as condições e motivos para o manter no plantel:
  • O jogador chegou apenas há um ano;
  • O Sporting tem capacidade para lhe aumentar substancialmente o salário (que não atingindo os valores que outros clubes oferecem ao jogador, certamente que iriam ao encontro das melhores expetativas que Slimani teria quando assinou há um ano);
  • Fazendo uma boa época, certamente que para o ano haveriam outros Leicesters ou Trabzonspors interessados na sua contratação.

De qualquer forma, perante a atual valorização dos atletas, a situação financeira do clube e as legítimas aspirações dos jogadores, compreenderia que a direção aceitasse negociar os jogadores de forma a conseguir um compromisso que fosse vantajoso para todas as partes envolvidas. 


A entrevista a Bruno de Carvalho na Sporting TV

As notícias que foram sendo divulgadas ao longo do dia de ontem tornavam essencial um esclarecimento completo por parte do Sporting aos sócios e adeptos. A minha expetativa era que a Sporting TV cumprisse o seu principal desígnio - ser um veículo privilegiado de comunicação entre o Sporting e os sportinguistas - abordando os temas quentes do momento, sem tabus, no programa Sporting Directo.

A solução encontrada superou totalmente as minhas expetativas: uma entrevista ao presidente, que não se escondeu e prestou os esclarecimentos que se impunham sobre vários assuntos relevantes (não só sobre Rojo e Slimani, como também de Dier e Shikabala, e a "despromoção" de Gauld para a equipa B, entre outros). Sem dourar a pílula, revelando factos desconhecidos do público, e colocando de forma muito clara a posição do clube perante os vários temas abordados.

O facto de termos uma direção que, na pessoa do presidente, se dirige aos sportinguistas de forma imediata de forma a prestar esclarecimentos sobre temas muito incómodos, não pode ser subvalorizada. É assim que se demonstra na prática que os sócios estão a ser tratados como uma parte fundamental da vida do clube, e não apenas como clientes cuja única função é pagar quotas, comprar camisolas, e renovar lugares de época.


O que se soube durante a entrevista

Para além de confirmar os problemas disciplinares com Rojo e Slimani, e que os jogadores não jogarão na 1ª jornada contra a Académica, Bruno de Carvalho fez também mais algumas revelações interessantes:
  • Afinal o Sporting não ficará com 25% da verba da transferência, pois tem que ceder 20% das mais-valias ao Spartak de Moscovo.
  • A Doyen está a pressionar o Sporting para vender [nota minha: apesar de o seu responsável ter dito precisamente o contrário numa entrevista ao DN (aquando da reportagem feita há poucas semanas sobre o fenómeno dos fundos no futebol)].
  • O Sporting nunca teve a opção de recomprar parte do passe de Rojo à Doyen; existe essa possibilidade em setembro de 2015, por valores elevados.
  • Dier recusou a treinar-se na altura em que decidiu sair.
  • Não é novidade, mas Bruno de Carvalho referiu-se ao Record (e Cofina) como tendo uma campanha em curso que visa denegrir tudo o que se faz no Sporting.
  • A questão do visto de Shikabala está a ser investigada, de forma a apurar-se se existem ou não responsabilidades do jogador.
  • As negociações por Rabia começaram ainda em maio.


A atitude da direção perante os casos Rojo e Slimani

A partir do momento em que se confirma que os jogadores procurar forçar a sua saída utilizando métodos pouco aceitáveis, parece difícil que quer Rojo quer Slimani alguma vez voltem a jogar pelo Sporting.

Isto, como é evidente, é um golpe nas aspirações do clube em lutar pelo título, e é lamentável que as coisas tenham chegado a este ponto. Se para mim a melhor solução possível era manter Rojo e Slimani satisfeitos pelo menos durante mais um ano, esta acaba por ser, à primeira vista, a pior - jogadores encostados sem render financeiramente ou desportivamente.

No entanto, parece-me que nada disto irá impedir que se continue a negociar a venda dos jogadores. O afastamento dos jogadores das opções do treinador acaba por ser uma posição de força (Bruno de Carvalho afirmou que se for preciso toma decisões semelhantes às de Labyad e Elias) que é também uma forte jogada negocial por parte do clube. Resta saber até que ponto os clubes interessados serão afugentados ou não perante esta posição do Sporting.

Poderia ter tido a direção uma atitude diferente perante os jogadores e os clubes interessados? Na minha opinião, não. É perfeitamente normal que o Sporting não aceite a primeira proposta que chegue à mesa, e que procure maximizar o proveito que poderá obter para si. Este tipo de negociações é um braço de ferro que exige que todos os interessados mantenham o sangue frio, começando pelos próprios jogadores. 

Aliás, não vejo qualquer motivo para os jogadores terem recusado cumprir as suas obrigações. Faltam ainda três semanas para o mercado fechar e muita água haveria de correr por baixo da ponte - como é normal neste tipo de situações.

Como tal, não vejo outra alternativa para a direção do Sporting que não seja castigar os jogadores. A bem da estabilidade do clube, não se pode ceder em situações destas - é uma porta que se abre para provocar futuras situações de insatisfação noutros elementos do plantel por eventuais diferenças de tratamento. A coerência é um valor fundamental na gestão de recursos humanos e deve ser mantida a todo o custo - para o bem e para o mal.