sábado, 2 de agosto de 2014

Upgrade competitivo ou estagnação?

                                                                                                                                                    
A boa exibição que o Sporting conseguiu ontem na apresentação aos sócios veio confirmar muitos dos sinais positivos que já nos tínhamos apercebido nos encontros de preparação que a equipa tem disputado ao longo do último mês.

Mais uma vez, Marco Silva optou por um onze formado pelos titulares da época passada, e mais uma vez a resposta foi positiva. Apesar disso, há uma corrente de opinião dominante nos nossos media que, elogiando a aposta na continuidade, ou seja, o aproveitamento do que de (muito) bom foi feito e trabalhado por Leonardo Jardim, também vê nisso um motivo de preocupação, já que significa que nenhuma das contratações parece contribuir para um acréscimo de qualidade da equipa titular. 

Resumindo: a "preocupação" desses comentadores está no facto de isso implicar uma espécie de estagnação ou, na melhor das hipóteses, uma forte limitação no crescimento do futebol do Sporting relativamente à época passada.

Percebo a ideia: também gostava de ver o Sporting apresentar um Cristian Tello (seria indiscutivelmente importante termos um extremo de maior qualidade), um... um... errm... (estou a tentar dar um exemplo de uma contratação benfiquista para reforçar a minha argumentação, mas não encontro nenhuma - pode ser que ainda venha alguma truta até ao final do mês; adiante), enfim, uma das tais contratações cirúrgicas que Bruno de Carvalho tanto falou no final da época passada.

Com o plantel praticamente fechado, as tais contratações cirúrgicas, mais caras mas de sucesso praticamente garantido, não aconteceram. Compreende-se: como é que conseguimos atrair jogadores desses com um orçamento muito limitado e um teto salarial para novas contratações que ronda os €350.000 / ano? Só num rasgo de genialidade de prospeção e negociação. 

Significará isso no entanto que não teremos uma equipa mais forte esta época? Nem por sombras, na minha opinião. Acredito que o Sporting vai estar mais forte este ano (partindo do pressuposto de que nenhum jogador fulcral sairá), por alguns motivos que vou abordar de seguida.


A natural margem de progressão dos jogadores

O Sporting foi 2º classificado com um dos plantéis mais jovens da liga. Jogadores como Cédric, Rojo, William, Adrien, André Martins, Carrillo ou Mané ainda têm anos pela frente até chegarem ao auge da sua carreira. Ou acham que já não vão aprender e evoluir com base na experiência entretanto adquirida?


O cunho de Marco Silva


Certamente que o treinador analisou as dificuldades que o Sporting revelou na 2ª metade da época passada, e nota-se na forma como as pedras da equipa se posicionam agora em campo. Montero é um jogador muito menos isolado em campo, e a decisão de colocar André Martins perto do avançado e de Adrien aparecer muito mais vezes em zona de remate prometem causar muitas dores de cabeça aos nossos adversários.

Está para se ver se estas mudanças terão reflexos negativos na segurança defensiva que Leonardo Jardim privilegiava. Uma coisa é certa: do ponto de vista ofensivo, o modelo que Jardim montou na época passada estava esgotado. Mesmo que o madeirense continuasse, teria que encontrar alternativas para tornar o futebol do Sporting mais imprevisível e apoiado.



A profundidade do plantel

Todos nos lembramos da angústia que eram as pontuais ausências de William Carvalho, Adrien, e mesmo André Martins (antes de Mané passar a ser solução para essa posição). Comparem o que tínhamos no ano passado com o luxo de termos um Rosell, um João Mário e um Slavchev (ainda não está ao nível dos jogadores que mencionei antes, mas tenho muita fé de que lá chegará em breve) prontos para dar o seu contributo à equipa. 

Este upgrade de qualidade em quantidade (ou seja, a existência de uma concorrência real para praticamente todas as posições - apenas nas laterais parecemos não estar melhor do que no ano passado) não só permite uma gestão de plantel bem mais equilibrada, tornando a competitividade da equipa mais à prova de lesões, suspensões e variações de forma dos jogadores, como também obriga os titulares a estarem totalmente empenhados e focados no seu trabalho. Numa época mais longa e desgastante do que anterior, era fundamental o crescimento da qualidade média dos jogadores. Ainda é cedo para fazermos juízos definitivos (vamos ver o que se passará quando começarem os jogos a doer), mas para já os sinais são bastante animadores.