sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Mais um caso prático de transparência

                                                                                                                                            
Quem costuma ler este espaço sabe que a minha apreciação global do desempenho da direção liderada por Bruno de Carvalho é extremamente positiva. São vários os motivos que me levam a ter essa opinião, e não acho que se justifique estar a detalhá-los. Mas uma dos fatores que considero mais importante é o esforço feito para tornar a vida do clube o mais transparente possível para os sócios e adeptos.

Têm sido vários os mecanismos de partilha de informação da direção com os sportinguistas. A Sporting TV está a ser um espaço privilegiado para a comunicação com sócios e adeptos. Ou, por exemplo, os comunicados. São muitos aqueles que se incomodam com os constantes comunicados que o clube costuma emitir sobre os mais variados assuntos da vida do clube. Não percebo porquê. É uma forma bastante eficaz (desde que o comunicado seja totalmente claro, o que uma vez ou outra não acontece) de os sportinguistas saberem da fonte mais fidedigna possível qual a posição que o clube tem em relação aos assuntos do momento, para além dos esclarecimentos oportunos que são realizados.

Sim, às vezes pode haver muito ruído, mas pelo menos ficamos a saber a posição do clube em relação aos mais diversos temas. Compreendemos melhor por que são tomadas determinadas decisões, e ficamos mais aptos a julgar o desempenho de quem dirige o Sporting.

Outra forma de transparência é a revelação feita ontem, através do jornal Sporting, de todos os pormenores dos negócios de compra, venda e empréstimos dos jogadores do plantel principal e equipa B - à semelhança do que já tinha acontecido na época passada.

No caso das saídas de jogadores, são revelados os valores de transferência (no caso de vendas) ou valores de opção de compra (no caso dos empréstimos), comissões pagas, cláusulas de salvaguarda, percentagens de futuras transferências a que o Sporting terá direito, ou ainda valores variáveis que o clube poderá receber em função de desempenho desportivo da equipa para onde cedemos atletas.

Somando tudo, ficamos a saber que o Sporting realizou vendas no total de €30M, sendo necessário descontar deste valor as parcelas da transferência de Rojo que não nos pertencem (a percentagem da mais-valia a que o Spartak tinha direito, a devolução do valor investido pela Doyen, a que se poderá somar uma eventual decisão de um tribunal a favor do fundo na disputa que existe).

De realçar que o Sporting não pagou um cêntimo em comissões de vendas, segundo o quadro exibido no jornal.

No que diz respeito às aquisições, o Sporting gastou um total de €14,7M. O jornal detalha o valor de transferência de cada jogador, duração do contrato, cláusula de rescisão, percentagem do passe adquirida, comissões pagas, direitos de futuras transferências a que o anterior clube do jogador terá direito, cláusulas de compra de percentagens adicionais de passe que ficaram na posse do clube anterior.

Para perceberem o nível de pormenor aplicado, aqui ficam os detalhes da compra de Ryan Gauld (um dos casos mais complexos):

  • Custos de aquisição: 2,2 milhões de libras
  • Comissão: não existiu
  • % passe: 80%
  • Cláusula de rescisão: 60 milhões de euros
  • Término do contrato: 2020 (6 épocas)
  • Observações: Sporting pode comprar 10% por 500 mil libras até 31 julho 2015 e outros 10% por 500 mil libras até 31 julho 2016. Se o Sporting vender o jogador quando detiver 100% o Dundee tem direito a 15% de uma mais-valia acima de 5 milhões de euros. Se o Sporting vender e detiver 80% o Dundee tem direito a 20% de uma venda. Se o Sporting vender e detiver 90% o Dundee tem direito a 10% de uma venda.

No caso das comissões em compras de jogadores, o Sporting pagou apenas 25 mil euros por Jorge Santos (Gazela), que veio a custo zero do Padroense, e cede 5% de uma futura venda, e ainda 20% de uma futura venda de André Geraldes. Todas as outras aquisições não tiveram comissões.

Não vou revelar mais pormenores porque vos quero desafiar a comprarem a edição desta semana do jornal Sporting - ou mesmo a fazerem a assinatura anual da versão digital, que custa apenas €22 (para 52 edições, custando cada edição 42 cêntimos - metade de um café). É a melhor forma de premiar a iniciativa da direção e do jornal.

Os mais céticos poderão pensar que este tipo de informação pouca relevância tem. Eu acho precisamente o contrário - é tremendamente importante. A direção, ao revelar todos estes detalhes, está a colocar nas mãos dos sportinguistas as informações necessárias para que possamos julgar o seu desempenho. Daqui a um ou dois anos saberemos se os valores gastos num determinado jogador se justificaram ou não, saberemos quanto nos custaram os flops, e saberemos até que ponto foram incríveis os negócios dos jogadores que mais se destacaram.

Para além disso, ao decidir partilhar esta informação, a própria direção assume um compromisso para o futuro: no dia em que deixarem de o fazer, os sportinguistas terão motivos para pensar que alguma coisa está errada. E a direção, ao saber que terá que continuar a revelar estes pormenores, acaba por ter um mecanismo de auto-regulação porque saberá que estaremos atentos - não aceitaremos que estas informações deixem de nos ser facultadas nos anos vindouros.

As direções de Benfica e Porto terão certamente as suas virtudes, mas está mais que visto que a transparência não é uma delas. Ninguém sabe a troco de quê o Porto recebeu acima do que teria direito na venda de Mangala, ninguém sabe quem são os donos dos passes de metade das contratações efetuadas, ninguém sabe no Benfica quanto custaram (entre aquisições de passes e comissões) as contratações falhadas ou de jogadores que se tardam em afirmar, ninguém sabe o que se passa com Cancelo, Cavaleiro e Bernardo Silva, ninguém sabe se Vieira e Pinto da Costa apoiavam ou não Seara, ninguém sabe os assinantes da Benfica TV.

Quer nas coisas positivas quer nas negativas, os sportinguistas estão a ser realmente informados por quem manda - e isso nunca poderá ser uma coisa má.