quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O custo da reestruturação

                                                                                                                                          

Depois de um ano a ouvir responsáveis de outros clubes e determinados opinion makers a botar sentenças sobre o tratamento privilegiado que o Sporting tem da banca, é bom que se olhe para os números revelados pelo R&C de 2013/14.

É muito bonito falar em perdão de juros (que é uma evidência, e uma vantagem competitiva indesmentível de que o Sporting beneficia) e em perdão de dívida (não há nada que aponte nesse sentido), mas é bom que se olhe para o outro lado do espelho para perceber as implicações do tal tratamento privilegiado.

Um corte de 25% nos FSE's e de 40% nos custos com pessoal representa uma mudança de vida radical que vai muito para além de jogar aos números numa folha de Excel. Representa a tomada de opções muito difíceis que obrigam a uma reorganização profunda da vida do clube, que mexe com a vida de muitas pessoas (um despedimento pode ser um drama para uma família) e que acaba por gerar uma grande instabilidade em quem não sabe se terá emprego no dia seguinte, para não falar em ressentimentos de quem acaba por ser preterido ou de quem vê um colega de muitos anos ter que abandonar o seu local de trabalho. É que este corte não abrangeu apenas jogadores pagos a peso de ouro. Foi transversal a toda organização, e afetou também treinadores e muitos outros funcionários.

Infelizmente, o Sporting - por culpa própria de uma sucessão de anos financeiramente desastrosos - acaba por ser mais uma de tantas organizações que foi obrigada a mudar radicalmente a sua forma de funcionamento no nosso país.

Estabelecer metas deste tipo é algo de complicado, mas colocá-las em prática é ainda mais. O que é supérfluo e o que é essencial? Que níveis de serviços podemos reduzir sem afetar profundamente a vida do clube. Que responsabilidades poderemos passar a assumir internamente, considerando que também o número de colaboradores está também a ser reajustado? Que tipo de competências podemos dispensar internamente que possam ser assumidas por outras pessoas que têm outras funções? Como manter o clube a funcionar e a evoluir perante toda a instabilidade que este tipo de reorganização causa?

Olhamos para quem anda a reclamar pelo tratamento privilegiado de que o Sporting beneficia e só dá vontade de perguntar: será que estão dispostos a fazer o mesmo nível de sacrifício ou, vá lá, um sacrifício proporcional ao estado das finanças de cada um? A avaliar pelas dezenas de milhões que continuam a ser gastos, não me parece.