sábado, 11 de outubro de 2014

Novo ciclo

Selecionador novo, vida nova? Seria bom que assim fosse, mas é evidente que não é por mudar o homem do leme da seleção principal que os grandes problemas do futebol português desaparecerão. 

Todos temos consciência que continuaremos a ter um conjunto que, no confronto com outras seleções de primeira linha, dependerá em grande medida do que Ronaldo consiga fazer. 

Continuaremos a ter uma liga em que a aposta incondicional em jovens talentosos é encarada por dirigentes, treinadores e comentadores como uma desvantagem competitiva em relação à importação de jogadores de outros países, mesmo que de mercados sem grande tradição no futebol. 

Continuaremos a ser um país de apenas 10 milhões de almas, com grandes dificuldades de organização, liderado por gente (em que o futebol não é exceção) que se preocupa desde o 1º dia no poder em agradar quem o ajudou a chegar ao cargo que ocupa e em manter os apoios necessários para a sua reeleição, mesmo que esse dia ainda esteja a anos de distância, mesmo que isso implique meter na gaveta as reformas que se impõem.

Fernando Santos, à semelhança de Paulo Bento, continuará a não ter um ponta-de-lança matador, continuará a ter uma base de recrutamento limitada, continuará a ter um grupo de trabalho com menos jogadores de classe internacional do que os seus antecessores tiveram à disposição.

Não poderemos portanto esperar milagres, mas tenho esperança que a dose de bom-senso injetada por Fernando Santos seja um impulsionador para dias melhores: ao privilegiar a forma atual dos jogadores, ao passar a mensagem de que não existirão lugares cativos, e ao abrir o horizonte para todos aqueles que nunca envergaram a camisola das quinas e que poderão ter a sua oportunidade no futuro se demonstrarem valor para isso, no mínimo conseguirá ter gente mais motivada à sua volta. Que saiba, também com bom-senso, gerir os conflitos que eventualmente surjam no seu caminho pensando sempre nos melhores interesses do grupo que lidera.

Fernando Santos terá um jogo complicado na estreia, mas não se pode esquecer que se trata apenas de um particular. O mais importante passará por ensaiar na medida do possível a estratégia para o embate com a Dinamarca, de preferência sem desgastar demasiado os prováveis titulares. Fico com curiosidade para saber se o tradicional 4-3-3 será mexido e, principalmente, se Fernando Santos conseguirá convencer Ronaldo a jogar no centro da frente de ataque. De resto, vejo uma diversidade de alternativas bem maior que no passado recente com a recuperação de jogadores proscritos e a chamada de outros que passam por um bom momento de forma, incluindo alguns jovens por quem o futuro da seleção certamente passará. Para começo de trabalho não é nada mau.