sábado, 6 de dezembro de 2014

Cheque-mate à peruana

O jogo não começou muito bem. O Sporting principiou a partida de forma meio atabalhoada e caprichando nas escorregadelas - levando a crer que a adaptação ao sintético pode ser um problema real. Mesmo assim, e apesar de muitos passes errados e alguma falta de velocidade, a diferença de nível permitiu que a equipa criasse um punhado de boas oportunidades para marcar. O Boavista, tirando os primeiros 10 minutos, jogou constantemente com 10 elementos no seu meio-campo, e tornava-se evidente que seria um daqueles jogos que terminaria assim que puséssemos a primeira batata lá dentro. Se a puséssemos lá dentro.

Curiosamente, foi um dos maiores receios dos sportinguistas que acabou por indiretamente ser decisivo no desfecho do encontro. A lesão de Nani obrigou à entrada de Carrillo, que acabaria por ser a figura do jogo com um golo e duas assistências e foi o catalizador para uma segunda parte categórica que justificava a obtenção de um resultado mais desnivelado.




Positivo

Grande Mestre Carrillo - um golaço, duas assistências para golo e uma outro passe de morte que João Mário desperdiçou. Só não participou no auto-golo de Jonathan. O jornal O Jogo escreveu na quinta-feira que o peruano estava a perder gás (apesar de ter continuado a somar assistências desde que perdeu a titularidade). Não podia ter dado melhor resposta.

O improvável Miguel Lopes - a principal surpresa no onze. Foi dos jogadores mais ativos e desequilibradores durante a primeira parte, ficando na retina o cruzamento para o cabeceamento de Slimani ao poste. Esteve bem defensivamente, anulando praticamente todas as iniciativas do Boavista pelo seu flanco. Demonstrou ser uma excelente alternativa a Cédric. É no mínimo irónico pensar que o Sporting tem 52 inscritos na Liga dos Campeões (onde se inclui André Geraldes) e no entanto Miguel Lopes não é um deles. Esperemos que não haja motivo para nos lembrarmos disso na deslocação a Londres.

Montero e Slimani no onze inicial - não há dúvida: é a melhor opção contra adversários deste tipo. Montero parece sentir-se bem mais confortável podendo recuar um pouco para receber e distribuir (onde faz valer todos os seus recursos técnicos e inteligência), e havendo Slimani não perdemos presença na área.

A segurança de Paulo Oliveira - apesar de o Boavista raramente ter causado perigo, o central ainda teve duas ou três ocasiões para mostrar serviço. Muito seguro e consistente, que é coisa que infelizmente não abunda no centro da defesa do Sporting.


Negativo

A sério? Outro autogolo? - e já vão 5, muito bem distribuídos: Jonathan, Jefferson, Slimani, Maurício e Sarr. Aceitam-se apostas para quem marcará o próximo.

O mau momento de Jonathan - não o escrevo por causa do autogolo, que tirando o avolumar estatístico de golos oferecidos aos adversários não aquece nem arrefece, mas sim pela incapacidade que tem demonstrado em ser um fator de desequilíbrio no ataque. Andou desaparecido durante os primeiros 60 minutos e não houve cruzamento que lhe tenha saído bem. O único ponto positivo foi ter dado início ao contra-ataque do 3º golo.

Uma equipa de caceteiros - não estou a falar do Boavista, estou mesmo a falar do Sporting. Pelo menos olhando para a estatística desta noite: o Sporting cometeu 22 faltas contra 15 do Boavista, tendo havido 4 cartões para cada lado. O Boavista é a equipa que mais faltas comete no campeonato. Em 12 jogos, só por uma vez cometeu menos que 15 faltas. Curiosamente, o Boavista também só sofreu mais que 22 faltas por uma ocasião. Isto explica-se facilmente: Jorge Sousa revelou um critério inqualificável, sendo que o 1º amarelo do jogo (mostrado a Montero) é simplesmente ridículo. Nada que não se estivesse à espera, no entanto.

A lesão de Nani - não pelo impacto que a sua saída teve neste jogo (Carrillo acabou por ser a personagem principal da partida), mas pela falta que poderá fazer se não puder jogar contra o Chelsea. Fingers crossed!


Missão cumprida. Mais três pontos alcançados de forma tranquila, apesar do sintético, apesar da saída prematura de Nani, apesar de um adversário aguerrido que acampou no seu meio campo e apesar da arbitragem habilidosa de Jorge Sousa. É acumulando vitórias que se conquista confiança. E havendo o talento que há, a confiança é um ingrediente fundamental para podermos arrancar para uma ponta final da 1ª volta que nos aproxime da frente da classificação.