quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Deixem jogar o Benfica!


Sim, é verdade que o Braga usou e abusou das faltas duras no jogo com o Benfica para o campeonato - Rúben Micael devia ter sido expulso, há uma fotografia de um pé levantado sobre a cara de Talisca que arrepia só de olhar -, mas não se pode dizer propriamente que o Benfica se caracterize por ser uma equipa macia que costuma fugir aterrorizada do contacto físico.

Falamos de um clube que tem como uma das imagens de marca alinhar com jogadores que jogam inúmeras vezes para além do limite da agressividade que a lei estabelece num regime de quase-impunidade. Há anos que os adversários têm que preparar as suas canelas para as investidas de Maxi (totalizando uma única expulsão nos descontos em oito anos de Benfica), como durante muito tempo tiveram que desmagnetizar as maçãs do rosto perante a atração irresistível que exerciam aos cotovelos metálicos de Javi García. Até o talentoso Enzo não é rapaz que se costume encolher quando vê a bola perto dos pés de um adversário - este ano já devia ter sido expulso por duas vezes. Luisão tem fama de ser um jogador leal mas quando vai embalado não se coíbe de utilizar o seu metro e noventa e três e oitenta e cinco quilos para aproveitar para passar a ferro um adversário que esteja a disputar uma bola (diz que há um árbitro alemão que não ficou em muito bom estado). Ou mesmo Matic, jogador de classe mundial, que tinha momentos em que usava os pitons como se picaretas fossem (lembras-te, Bruma?). Começa também agora a despontar o talento de Samaris, que já demonstrou uma apetência para virar adversários do avesso (o Arouca e Jackson que o digam) sem que as consequências sejam particularmente penalizadoras para o Benfica. E ainda há Talisca, que naquele jeito desengonçado e aparentemente frágil, já deu umas valentes trancadas nos calcanhares de quem teve o azar de lhe aparecer pela frente, também sem qualquer punição.

As declarações de Jorge Jesus são normais - a maior parte dos treinadores fazem afirmações deste género para tentar condicionar a arbitragem (faz parte do futebol e os árbitros têm que estar preparados para isto) -, mas são um choradinho que vindo de quem vem só pode levar qualquer adepto de outro clube a encará-las com uma dose elevada sarcasmo. É descaramento puro e duro. Aliás, vindo do homem que disse "limpinho, limpinho" depois do maior assalto à mão armada que houve num campo de futebol em Portugal nas últimas décadas, não é nada que nos possa surpreender.

P.S.: Belo servicinho que o jornal A Bola fez em transformar tudo isto numa espécie de apelo desesperado de uma vítima indefesa. Estes também já nem disfarçam.