domingo, 8 de fevereiro de 2015

Não há jogo como este

Não há jogo como este. Durante os 90 minutos em que a bola estiver a rolar no relvado de Alvalade não há sete pontos de atraso, não há 1º classificado nem 3º, não há seis vitórias consecutivas ou dez sem perder e as contas do título permanecerão em suspenso, pois a tensão inerente à rivalidade eterna é suficiente para testar até ao limite o coração e os nervos dos milhões de adeptos que no estádio ou à distância se alhearão do mundo que os rodeia. Tudo o que interessa concentra-se no hectare de terreno onde aqueles 22 + 6 jogadores abrirão e fecharão um novo capítulo da história mais apaixonante do futebol português: um dérbi entre Sporting e Benfica.

É verdade que o caminho para o dérbi podia ter começado melhor: aquela tarja ignóbil exibida ontem por uma claque benfiquista durante a partida entre Benfica e Sporting para o campeonato de futsal é altamente provocatória e surge no pior momento possível. No entanto, tenho a certeza que qualquer adepto sério do Benfica não só não se revê nessa atitude, como também terá corado de vergonha ao tomar conhecimento dela. São atitudes palermas de gente palerma. Infelizmente não há clube - incluindo o nosso - que esteja livre de passar vergonhas por causa de um punhado de indivíduos cujos pais falharam redondamente na educação que lhes deram. Espero que não tenha qualquer reflexo negativo mais logo nas bancadas e nas imediações do estádio. O pior que podemos fazer é descer ao nível dessa gentalha.

Voltando ao que interessa - ao que se passará dentro de campo - parece-me que será um jogo extremamente interessante. Concordo com aquilo que vários analistas referiram: tratam-se de duas equipas com pontos fortes e fracos evidentes, com a curiosidade de os pontos fortes de uns poderem expôr os pontos fracos de outros. Como reagirá o meio-campo menos rodado do Benfica frente ao trio William / Adrien / João Mário? Como se comportarão Paulo Oliveira e Tobias Figueiredo perante dois avançados extremamente experientes e perigosos como Lima e Jonas? De que forma Nani, Carrillo e Montero tentarão explorar a menor mobilidade da defesa do Benfica e as carências defensivas dos laterais (principalmente Eliseu)? Qual o nível de concentração que os jogadores do Sporting terão ao defender bolas paradas, aspecto que poucas equipas explorarão de forma mais habilidosa do que o Benfica?

Tal como nos demonstrou o dérbi na Luz à 3ª jornada, é um jogo de tripla que muito provavelmente será decidido por momentos de inspiração (ou desinspiração) dos protagonistas. Porque falta de transpiração é coisa que certamente não haverá em nenhum dos lados.

Em relação ao onze que o Sporting apresentará, não parece haver grandes dúvidas:


É uma pena que Slimani não esteja em condições. Não que fosse titular se estivesse apto - Montero tem estado muito bem desde que o argelino foi para a CAN e merecia um lugar no onze de qualquer maneira -, mas porque seria uma arma fortíssima para lançar a meio da segunda parte numa altura em que a defesa adversária estivesse mais desgastada.

Por outro lado, não faltarão argumentos da nossa parte para ameaçar a baliza adversária. Nani e Carrillo não têm estado na sua melhor forma mas este ano têm aparecido sempre nos grandes momentos. As movimentações de Montero prometem baralhar o setor defensivo benfiquista. O Benfica conhecerá finalmente o melhor William Carvalho, bem acompanhado por um Adrien e um João Mário que estão claramente em crescimento de forma após uma fase de alguma intermitência exibicional.

Dizem os comentadores que se o Sporting ganhar voltaremos a entrar nas contas do título. Honestamente não quero saber se entra ou não, e espero que os jogadores também não percam tempo a fazer contas de cabeça à medida que o marcador vai (ou não) evoluindo. Enquanto não estivermos dependentes de nós próprios, prefiro continuar a seguir a lógica do "jogo a jogo". E no caso do jogo de logo, os níveis motivacionais disparam independentemente das hipóteses de luta pelo título de ambas as equipas. O adversário e um estádio a abarrotar com os adeptos mais entusiastas que existem em Portugal serão os melhores motivadores possível. Não há jogo como este.