quinta-feira, 30 de abril de 2015

Jesus perto, Marco longe, Nani nos rivais e Hassan roubado ao Sporting

São tantas e tão boas as notícias publicadas na capa de A Bola de ontem que fico espantado por Pedro Passos Coelho não ter decretado o dia 29 de abril como feriado para todos os benfiquistas. Ao mesmo tempo, em Alvalade, não se compreende como não se içaram as bandeiras em meia-haste em sinal de luto pelas desanimadoras novidades que nos foram apresentadas.

Na terra dos arco-iris e dos unicórnios mágicos, Jorge Jesus está perto de renovar, Júlio César poderá estender o seu contrato até 2018, e o Benfica está prestes a roubar Hassan ao Sporting.

Em contrapartida, o clube vizinho está metido num dos círculos que Dante idealizou para descrever o inferno, pois Marco Silva está longe de continuar, Nani parece já estar com um pé no Benfica ou Porto, e o clube vê mais um jogador a ser desviado pelo eterno rival.

É coisa para pôr qualquer benfiquista a dançar nu no meio de uma estrada movimentada por falta de capacidade de o cérebro gerir tanta alegria concentrada, e de colocar os sportinguistas mais frágeis a contemplar de forma bem séria o suicídio, para terminar de vez com o tamanho sofrimento que é obrigado a suportar.

Como se costuma dizer que não se deve julgar um livro pela capa, achei por bem dar uma olhadela ao conteúdo. Vamos então ver quais os detalhes que o jornal A Bola revelou na edição de ontem para sustentar as manchetes do dia.


Jesus perto


Olhando para isto, ficamos a saber que não houve qualquer reunião entre treinador e SAD. A única coisa que mudou foi o facto de os adeptos já não estarem tão divididos em relação à continuidade de Jesus - e, como sabemos, a opinião dos adeptos é de uma importância capital para Vieira, que foi o único a aguentar o treinador no final de 2013 quando todo o universo benfiquista pedia a cabeça de Jesus. Vamos ver mais:


Aparentemente, nem Jorge Mendes conseguirá convencer Jorge Jesus a ir para o estrangeiro. Bom contrato num bom clube, só mesmo no Benfica.

Ou seja, a renovação cada vez mais próxima tem a ver com o facto de:
1) os adeptos do Benfica agora quererem mais a sua continuidade;
2) não haver quem pegue num técnico bicampeão, a quem nem o empresário mais poderoso do mundo lhe valerá para arranjar um bom contrato num clube europeu com ambições à medida do técnico.  

Sobre o facto de Vieira não ter recuado na intenção de reduzir o vencimento do treinador e de continuar a querer uma aposta forte na formação - coisas que não agradarão certamente a Jesus, a quem cabe a decisão final - nem uma palavra. Mas isso são certamente detalhes de pouca importância. 


Marco longe


Analisando de uma forma rápida este texto carregado de novidades (not!), ficamos a saber que o jornal A Bola dá uma enorme importância ao formalismo. Aparentemente, Marco Silva está mais longe de continuar porque ainda só existiram abordagens informais (whatever that is), coisa que há quem estranhe. Aparentemente, só quando houver reuniões com uma estenógrafa que registe todas as ocorrências e uma ata assinada por todos os presentes é que a possibilidade de continuidade do técnico poderá ser considerada menos longínqua.

Mais a sério: não há sportinguista minimamente atento que não perceba que a decisão da continuidade de Marco Silva está fortemente dependente da conquista da Taça de Portugal. Ou seja, dos resultados. O próprio presidente deixou a entender isso mesmo nas últimas entrevistas. O que não se consegue perceber é o motivo pelo qual A Bola usa a palavra longe. Está tão longe como estava há um mês atrás, mas seguramente mais perto do que em dezembro - não só o nível de tensão no relacionamento entre treinador e presidente é nitidamente menor, como também estamos mais próximos de conquistar a Taça.

Daí a idiotice da capa de A Bola ao procurar comparar o incomparável. De um lado temos um treinador que já atingiu o principal objetivo da época mas que, por outro lado, é livre de decidir se continua ou sai. Do outro temos um treinador que está a 90 minutos de assinar (ou não) uma época positiva, e que ainda tem mais 3 anos de contrato. E na realidade, naquilo que efetivamente conta - avaliação dos resultados e a vontade de Jesus e Vieira, Marco Silva e Bruno de Carvalho - nada mudou para poder justificar uma notícia tão destacada.


Águias adiantam-se a leões por Hassan


Lendo o artigo, somos relembrados que o Sporting esteve interessado em Hassan em janeiro. A confiar nas informações do jornal, não terão existido novos contactos do Sporting - senão teriam sido referidos nesta mesma peça. Nessa caso, por que motivo o Sporting se deixou atrasar na corrida por Hassan se não há sinais de interesse da sua parte?

Aliás, após a triste figura que o presidente do Rio Ave fez em janeiro, ao rejeitar publicamente uma proposta do Sporting em detrimento de uma oferta superior do estrangeiro que mais tarde acabou por não se confirmar, duvido que Bruno de Carvalho - que faz questão de tratar das transferências de forma sigilosa - volte a fazer qualquer tipo de oferta pelo jogador (se é que chegou a fazer mesmo uma oferta em janeiro)...



Nani: "Em Portugal só no Sporting? Nunca se sabe..."


É extraordinário como no meio de declarações em que Nani demonstra repetidamente a satisfação de ter regressado ao Sporting, em que se afirma adepto do Sporting, em que diz que tem o Sporting no coração, a quem sente que tem que retribuir da melhor maneira, em que afirma sentir-se preparado para ir para um campeonato mais competitivo, os senhores de A Bola acham que o importante é uma resposta evasiva em relação ao futuro em que disse "todos sabemos que no futebol nunca se sabe o que pode acontecer".

Há capas que não deixam quaisquer dúvidas em relação às intenções de quem as faz, e esta é claramente uma delas. Levantar o moral de umas tropas e desestabilizar outras. Jornalixo de primeira categoria, portanto.