segunda-feira, 6 de abril de 2015

Marco Silva: um treinador para o futuro ou um treinador sem futuro?

As críticas de Paços

Sinceramente não percebo o nível das críticas que muitos sportinguistas dirigiram a Marco Silva após o frustrante empate de ontem. Não digo que o treinador tenha estado absolutamente exemplar nas decisões que tomou antes e durante a partida, mas olhando mais a frio para tudo o que aconteceu na Mata Real continuo a manter a minha opinião inicial: Marco Silva fez bem o seu trabalho, os jogadores souberam interpretar de forma muito competente a estratégia do treinador, e acabou por ser um conjunto de erros individuais a ditar a perda dos dois pontos. Bastava que um desses erros individuais não tivesse acontecido (entre as múltiplas situações de golo iminente não concretizadas e a falha de João Mário) e teríamos conseguido uma vitória que ninguém ousaria contestar.

A estratégia foi bem delineada e o onze escolhido por Marco Silva esteve genericamente bem - à exceção dos tais erros individuais. Tobias e Ewerton entenderam-se bem, André Martins cumpriu bem o seu papel - melhor defensivamente, mais discreto na aproximação da área, mas não foi por ele que o resultado não foi o pretendido - e Miguel Lopes, não tendo realizado a exibição fulgurante de há duas semanas, fez um jogo positivo. Portanto, não é por aqui que se pode atacar Marco Silva em relação a este jogo em concreto.

Sobram a reação do treinador às incidências do jogo e as substituições realizadas. Aceito que se diga que Marco Silva podia ter mexido mais cedo na equipa. Mas dou-lhe o benefício da dúvida na sua decisão mais polémica: a retirada de Slimani num momento em que o Paços tinha acabado de empatar.

Como é evidente, também não compreendi a decisão de Marco Silva. Aliás, só um treinador completamente alheado da realidade ou mal intencionado faria aquela troca naquele momento. Daí ter que dar o benefício da dúvida a Marco Silva, porque não acho que seja incompetente nem queira prejudicar intencionalmente o clube que representa. Que leituras podemos fazer da sua decisão? A mais óbvia é estar a resguardar Slimani para o fundamental jogo de quinta-feira contra o Nacional. Slimani, que há não muito tempo teve uma lesão muscular na coxa esquerda (a mesma região que já o tinha afastado em setembro) que o afastou durante semanas, jogou nas duas partidas que a Argélia fez numa desgastante mini-digressão pelo Médio Oriente, e é normal que o treinador o tenha querido poupar para um desafio bem mais importante.


Incorporação de jogadores da equipa B

A insistência em jogadores desinspirados e apáticos como Capel e Montero - e ignorando a forma de jogadores da equipa B como Wallyson, Gauld ou Rubio - é o único ponto em que efetivamente não concordo com a postura de Marco Silva. Compreendo que queira ser fiel ao grupo de trabalho que está com ele desde o princípio - os jogadores preteridos ficariam certamente abalados psicologicamente por verem outros da B a ultrapassarem-nos na hierarquia, e isso poderia causar instabilidade no balneário -, mas faz parte do trabalho do treinador incorporar os melhores jogadores disponíveis em detrimento dos que não conseguem render sistematicamente.

Parece evidente que existe vontade da direção em que se aposte nos jogadores da equipa B - Bruno de Carvalho foi bastante claro no final do ano passado ao referir que os reforços de inverno seriam os Wallysons, os Gaulds, os Geraldes e os Gelsons. No entanto, Marco Silva tem resistido ao máximo em fazê-lo. Apenas apostou em Gauld (muito esporadicamente, em jogos com várias baixas por lesão ou castigo no meio-campo) e em Tobias (forçado pela saída de Maurício sem substituto imediato). E está aqui precisamente a única questão verdadeiramente legítima para se pôr em causa a continuidade de Marco Silva no Sporting: o compromisso com a estratégia do clube. 

Mas mesmo aqui não podemos acusar Marco Silva de ser o único culpado. A direção também tem responsabilidades, pois se queria que houvesse maior intercâmbio entre a equipa principal e a equipa B deveria ter assegurado que os plantéis fossem menos numerosos.


Desfile de defeitos

Tenho lido ao longo dos últimos tempos um desfile de defeitos colocados a Marco Silva por parte de sportinguistas insatisfeitos com o seu trabalho, que vão desde a postura passiva com que assiste ao jogo a partir do banco até às carências graves que demonstra do ponto de vista tático.

Não partilho a visão destes sportinguistas, nem alinho com a opinião da generalidade dos jornalistas que insistem em ver em Marco Silva um modelo de virtudes a quem os adeptos deveriam beijar o chão que pisa. Todos sabemos que este endeusamento do treinador por parte da imprensa surgiu apenas com o conflito que existiu com Bruno de Carvalho no final do ano passado.

O que eu vejo em Marco Silva é um treinador que sabe pôr a equipa a jogar muito bom futebol, mas que está também em processo de aprendizagem - não nos podemos esquecer que tem uma carreira bastante curta e que vive a sua primeira experiência num clube com as ambições e responsabilidades do Sporting.

E estando em processo de aprendizagem, é evidente que cometeu erros: na primeira metade da época o mais grave foi não ter conseguido incutir nos jogadores a importância de todos jogos contra as equipas teoricamente mais fracas. Foram demasiadas as partidas em que demos 45 minutos de avanço ao adversário, e que acabaram por nos custar pontos que nos condenaram à atual posição na tabela. A gestão física do plantel em fases da época mais preenchidas também deveria ter sido melhor feita - e aqui a questão pega com a não abertura do plantel a outros jogadores da equipa B.


Um treinador para o futuro ou um treinador sem futuro?

Na minha opinião é definitivamente um treinador para o futuro. Havendo sintonia com a direção (com responsabilidades dos dois lados, pois a direção também deve procurar ir ao encontro das ideias que o treinador tem para a equipa), espero que Marco Silva continue. Independentemente de ganharmos ou não a Taça de Portugal.

Em primeiro lugar, porque penso que é um dos melhores treinadores que há em Portugal. Lembrem-se dos jogos com o Porto (Alvalade para o campeonato e Taça), com o Benfica, com o Schalke e mesmo com o Wolfsburgo. No confronto direto com os adversários mais complicados (vou excluir o Chelsea, que é de outra dimensão), apenas no Dragão fomos inferiores - e sobretudo devido a questões físicas, já que os primeiros 25/30 minutos foram bons.

Depois, porque para além de conhecer melhor o clube, terá aprendido muito com este ano e saberá tirar as devidas ilações do que falhou para aperfeiçoar a abordagem a 2015/16. 

E, finalmente, porque não podemos desvalorizar a importância da estabilidade. Temos um treinador com contrato para mais 3 anos, que demonstra uma competência bastante acima da média e ainda está em crescimento. Existe sempre um risco inerente à troca de treinador. Saibamos nós tirar proveito do que temos atualmente.